O relatório Mueller tornou-se numa peça e todo o mundo pode agora vê-la
Annette Bening, John Lithgow, Kevin Kline ou Mark Hamill leram a versão dramatúrgica da investigação à campanha e presidência de Donald Trump. Apresentação em Nova Iorque está agora online.
O relatório Mueller, resultado de uma longa investigação do procurador Robert Mueller que assombrou a presidência de Donald Trump, foi transformado numa peça que reuniu actores como Annette Bening, John Lithgow, Sigourney Weaver ou Julia Louis-Dreyfus. Foi uma só noite em Nova Iorque, mas a transmissão online sobrevive para mostrar os dez actos que ilustram as potenciais obstruções à justiça por parte do Presidente dos EUA.
As 448 páginas do relatório Mueller foram adaptadas pelo dramaturgo Robert Schenkkan (premiado com o Pulitzer pela peça The Kentucky Cycle e com o Tony por All the Way) e daí nasceu The Investigation: Search for the Truth in Ten Acts. No palco da Riverside Church de Nova Iorque, e com Annette Bening como narradora, começaram a desfilar as acusações e os actores. Alyssa Milano, Jason Alexander, Gina Gershon, Kevin Kline, Zachary Quinto, Kyra Sedgwick, Michael Shannon, Alfre Woodard ou Joel Grey fizeram parte do elenco de cerca de 20 actores que quiseram explorar o famoso relatório Mueller em versão dramática. Alguns actores não puderam estar presentes e integraram uma versão em vídeo, na qual participaram Mark Rufallo, Mark Hamill, Sigourney Weaver ou Julia Louis-Dreyfus.
“Robert Mueller diz que o relatório fala por si. Esta noite, essa voz ressoa através do nosso elenco de notáveis actores”, apresentou o jornalista e ex-secretário de Imprensa da Casa Branca Bill Moyers. O veterano descreveu a peça como uma parte da “nossa busca pela verdade no drama em curso da democracia”. Os actores, organizados em púlpitos com as cores da bandeira americana, foram interpretando as falas de várias personalidades envolvidas e citadas na investigação – que ao longo de dois anos se debruçou sobre as suspeitas de obstrução de justiça por parte do Presidente dos Estados Unidos e de conluio entre a sua campanha e a Rússia nas eleições de 2016.
“Esperamos tornar a narrativa central do relatório muito clara para qualquer pessoa: o que aconteceu de facto; quem fez o quê, quando e porquê; e por que é que importa. Espero que as pessoas a considerem esclarecedora”, diz o autor, Robert Schenkman, em declarações ao Los Angeles Times, “e que as leve a agir”.
O relatório foi publicado em Abril, primeiro numa versão resumida e parcialmente censurada e depois numa versão mais completa, e inclui 11 situações em que um responsável poderia incorrer em acusações criminais de obstrução da Justiça e frisa que “não exime” Donald Trump dessa acusação – também não recomenda que o Presidente norte-americano seja acusado. Conclui que houve interferência da Rússia nas presidenciais que deram a vitória a Donald Trump e que a sua campanha teve contacto com responsáveis russos.
The Investigation: Search for the Truth in Ten Acts ganhou vida graças à organização Law Works, que se apresenta como uma entidade que deseja educar o público sobre a importância da lei e da integridade do sistema judicial e “defender o papel não-partidário do Departamento de Justiça e para expor ameaças actuais aos valores centrais da América e seu sistema eleitoral”. O dramaturgo Robert Schenkkan explicava ao Los Angeles Times na segunda-feira que esta é “uma história Watergate clássica, onde não há só o crime mas também o encobrimento que põe as pessoas em sarilhos”.
Antes e depois da sua publicação em livro, o relatório tornou-se num ingrediente da cultura popular com referências constantes nos talk shows americanos. Está há oito semanas como o livro mais vendido na lista do New York Times e é presença constante nos tops norte-americanos de vendas de livros online. Há poucos dias, foi a vez de Robert De Niro, Rosie Perez, Martin Sheen ou Stephen King explicarem o relatório Mueller na Internet através de um vídeo da plataforma NowThis.
Já originou o podcast de crime real Mueller She Wrote, num trocadilho com o título da série Crime, Disse Ela (Murder She Wrote) e esta importante alínea na história da presidência Trump é também o centro de uma futura novela gráfica. Segundo a agência Reuters, a banda-desenhada será publicada em Abril de 2020 e será assinada pela ilustradora Shannon Wheeler e pelo jornalista Steve Duin. Entretanto, há uma iniciativa de crowdfunding para tentar financiar também uma série de animação sobre a investigação.