Investigação aponta falhas ao piloto e à Everjets na queda de helicóptero
A falta de experiência no combate a incêndios e o facto de “não estar familiarizado” com o sistema de abertura do balde terão sido os factores que contribuíram para o acidente.
A investigação aponta falhas ao piloto e à gestão operacional e organizacional da empresa Everjets na queda do Eurocopter AS350, em Julho de 2017, quando se preparava para combater um incêndio no concelho de Alijó, distrito de Vila Real.
“Foi identificada como causa mais provável para o acidente a perda de consciência situacional do piloto, permitindo o contacto do rotor de cauda com a água [da Barragem de Vila Chã], ao tentar encher e testar o sistema de balde de combate aos incêndios, durante a primeira operação do dia”, revela o relatório final do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), a que a agência Lusa teve acesso esta segunda-feira.
Os investigadores indicam como factores contributivos para o acidente a “falta de experiência do piloto na operação de combate aos incêndios” e o facto de “não estar familiarizado” com o sistema de abertura do balde do helicóptero.
Quanto ao AS350, dado como destruído após a queda na tarde de 16 de Julho, este “continha uma modificação não documentada nos processos de manutenção e operação” e o operador (Everjets) “não realizou adequadamente a aceitação e introdução da aeronave na sua frota e operação”.
O helicóptero tinha instalado um botão/interruptor (sistema “SLING") que permitia activar a largada de água do balde, mas esta modificação/configuração não foi inscrita na documentação técnica deste AS350.
Segundo o GPIAAF, a configuração “não estava de acordo” com o descrito nos suplementos (manuais) técnicos, relativamente ao interruptor para activação/alimentação do sistema de abertura do balde, salientando que “não foi possível identificar na documentação técnica da aeronave a origem desta configuração”.
“O operador produziu um documento que mostrava a localização e procedimento de abertura de balde nas diferentes aeronaves, tendo em conta as diferentes configurações, porém o referido interruptor de activação não estava mencionado, estando um outro localizado no comando do colectivo”, descrevem os investigadores.
Nesse sentido, o GPIAAF concluiu que “não pode, portanto, ser excluída a possibilidade de o piloto não ter accionado o comando/interruptor de alimentação do sistema de balde, visto esta ser a sua primeira operação nesta aeronave específica”.
Os investigadores ressalvam, porém, que, “sendo que a aeronave não estava equipada com gravadores de dados de voo para monitorizar esse sistema, não é possível confirmar tal possibilidade”, mas ficaram, no entanto, com uma certeza: “O sistema de balde de água foi removido da aeronave e içado por um empilhador para permitir o teste operacional. O sistema operou correctamente e descarregou por completo a água do balde na primeira tentativa”, concluiu o GPIAAF.
De acordo com os regulamentos existentes, para fazer face à complexa operação de combate aos incêndios, o operador realiza acções de formação com o objectivo de assegurar a operação da frota em segurança.
“Não foi demonstrado nenhum tipo de formação específica sobre diferenças na operação do sistema “SLING” da aeronave acidentada”, refere o GPIAAF.
O relatório final relata que o AS350 descolou do Aeródromo de Vila Real pelas 14h25 de 16 de Julho, para apoiar o combate a um incêndio florestal, na freguesia de Vila Chã, em Alijó.
O piloto, que sofreu escoriações, não estava ao serviço e foi chamado pela Everjets para substituir o colega adoentado.
“Apesar de ter descansado, realizou uma deslocação de carro, de cerca de duas horas, para chegar à base de operação, no Aeródromo de Vila Real”, segundo o documento.
Apesar de ter mais de 1000 horas de tempo de voo, “o piloto contava com uma experiência reduzida” no AS350 e, “no que diz respeito à realização de operações de combate aos incêndios, esta seria a sua primeira missão a operar a aeronave acidentada”.
O GPIAAF frisa, contudo, que o piloto demonstrou “ter um nível de conhecimento considerável no manuseamento em voo da aeronave”, acrescentando que os seus registos “demonstram ainda que a sua experiência de voo foi adquirida aos comandos de uma aeronave menor, o Robinson R44, equipada com motor convencional”.
O relatório conta que após o enchimento do balde, o piloto não conseguiu descarregar a água, accionando o sistema de abertura do balde.
O piloto aproximou-se depois da margem da barragem para forçar a abertura do balde, pousou no solo e entornou a água. Já depois de ter conseguido descarregar a água, quando tentava reposicionar a aeronave para nova recolha de água, “o rotor de cauda do helicóptero tocou inadvertidamente na superfície da água e caiu no solo”.