A aldeia que o solstício transforma em instalação artística

Dos antigos giros de água à caminhada do lampião às actuais Festas do Solstício: Alvoco da Serra andou muito para aqui chegar e muito ficou pelo caminho. Mas há quem teime em preservar as tradições, baralhá-las e apresentá-las aos visitantes. Este ano será com uma espécie de instalação de arte – e a aldeia rejuvenesce enquanto se prepara para receber o Verão, de 21 a 23 de Junho.

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Paulo Pimenta
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Houve tempos em que os pontos de luz nas encostas, a moverem-se, a exibirem-se e a esconderem-se, funcionavam como promessa: era o Verão que chegava, sabiam os miúdos de Alvoco da Serra. Depois, havia aqueles mais dados a superstições, que imaginavam que o ar a “apagar e a acender” só podia ser trabalho de bruxas. Era, na verdade, o arranque da temporada, digamos assim, dos “giros de água”, o período em que os habitantes tinham de organizar-se em turnos para que a água chegasse a todos os campos – e ainda aos moinhos e às fábricas. “Sete moinhos e três fábricas [têxteis]”, contam-nos, com orgulho indisfarçável. A necessidade era tanta, que a água circulava 24 horas e, de noite, era à luz de candeeiros de petróleo que se abriam e fechavam caminhos pelos campos. Os anos, as décadas passaram. Os miúdos já são poucos, os campos cultivados também; os moinhos e as fábricas são memórias mais ou menos arruinadas. Os lampiões entraram no folclore da aldeia encaixada num vale da Serra da Estrela. Até que voltaram a ganhar vida. Outra vida.

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