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Em três freguesias de Lisboa, o projecto Radar encontrou mais de 4500 idosos sozinhos

Projecto conjunto entre câmara e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa entra agora numa segunda fase e estende-se a dez freguesias. Em seis meses, espera-se que esteja em acção em toda a cidade.

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Nuno Ferreira Santos

É um projecto que surgiu para sinalizar e apoiar idosos com mais de 65 anos que vivam sozinhos em Lisboa. Pelas contas das associações envolvidas no projecto serão cerca de 30 mil, num universo de cerca de 132 mil pessoas com mais de 65 anos que vivem na capital. Para já, estão identificadas e sinalizadas 4547 pessoas nas freguesias dos Olivais, Areeiro e Ajuda. 

Esta foi a fase-piloto do projecto Radar que se estende agora a mais dez freguesias – Estrela, Santa Clara, Marvila, Alcântara, Arroios, Alvalade, São Domingos de Benfica, São Vicente e Beato e Parque das Nações - que assinaram esta quarta-feira a carta de compromisso para início deste projecto que mais não faz do que registar os idosos que vivem sozinhos, em que condições o fazem, que necessidades têm e que respostas precisam para que tenham uma vida autónoma e confortável. 

Coube ao provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Edmundo Martinho, a apresentação dos resultados. Dos quatro mil idosos identificados nas freguesias da Ajuda, Areeiro e Olivais, nesta fase inicial, que arrancou em Janeiro e terminou nos primeiros dias de Junho, quase metade (45%) tem entre 75 e 84 anos. Segue-se a faixa etária dos 65-74 (32%), sendo 64% dos idosos identificados são mulheres. 

Do total, quase metade (48%) já recebem acompanhamento de instituições de apoio social ou privada. E 14% não têm médico de família. Segundo explicou Eduardo Martinho, o projecto “tem cerca de cinco níveis de intervenção de resposta, sendo que o primeiro corresponde a uma “intervenção crítica” – ou seja, esse idoso teria de receber apoio no momento – e o nível cinco que corresponde a um “nível de intervenção planeada”. E esse foi um dos pontos que Martinho destacou: 93% dos idosos sinalizados estavam neste último nível, não tendo sido detectado qualquer caso em que fosse necessária uma intervenção imediata das instituições. 

Entre as dificuldades manifestadas pelos mais velhos, a maioria revela ter obstáculos com os cuidados de saúde e na higiene e limpeza das suas casas e ainda tarefas da vida diária. A carência económica é outra das dificuldades apontadas por 322 pessoas, o que as impede de fazer face a todas as despesas mensais. Já 297 apresentaram sinais de isolamento, 280 dificuldades em vestir, 59 carência alimentar e 15 apresentaram sinais de maus tratos. 

Este projecto é uma vertente do Programa “Lisboa, Cidade de Todas as Idades”, que funciona em rede com várias entidades – a Câmara Municipal de Lisboa, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o Instituto da Segurança Social, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, a PSP, as juntas de freguesia, a Rede Social de Lisboa. Mas depende também da comunidade - voluntários, vizinhos e comércio Local. “É preciso que a comunidade se mantenha vigilante”, ressalvou Eduardo Martinho. 

Os dados recolhidos estão agora disponíveis numa plataforma, o que permite a estas entidades terem um conhecimento geral das necessidades de cada pessoa. “Por isso é que isto é também um sistema de prevenção de situações de risco porque [os dados] estão integrados numa plataforma e porque estamos em rede”, notou Maria da Luz Cabral, coordenadora da unidade de missão da Santa Casa para este projecto, à margem da sessão.

A responsável destacou ainda o facto de, até ao momento, não ter havido nenhuma situação em que a intervenção fosse imediatamente necessária – como por exemplo um caso de iminente perda de habitação. “Há algumas situações com questões ao nível da habitação, mas não estavam em situação de desalojamento”, disse. 

“A plataforma tem uma capacidade imensa de crescer e de dar outro tipo de respostas. Estamos a criar um sistema de prevenção, promoção e de reforço e eu acredito que ele vai dar mais resultados no futuro”, notou ainda. 

Para Fernando Medina, este é um “salto extraordinário” daquilo que são as políticas públicas ao permitir que se apresentem respostas mais adequadas e dirigidas a cada pessoa. No entanto, falta ainda uma dimensão importante neste trabalho – conseguir assegurar cuidados continuados. “Até agora não conseguimos encontrar esta resposta”, admitiu o autarca, sublinhando que é uma resposta “financeiramente muito exigente”, mas que é preciso assegurá-la para que pessoas que estão dentro dos serviços hospitalares possam regressar às suas casas. 

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