Igreja Católica vai discutir ordenação de homens casados na Amazónia

Documento preparatório do sínodo dos bispos em Outubro, divulgado esta segunda-feira, admite a discussão da ordenação de homens casados, para fazer chegar a Igreja às regiões mais recônditas da Amazónia. Mas impõe condições.

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Reuters/LUNAE PARRACHO

Os bispos da Igreja Católica vão discutir a possibilidade de ordenação sacerdotal de homens casados em zonas isoladas da Amazónia, durante o sínodo especial dos bispos dedicado à região, marcado para Outubro.

O documento de trabalho divulgado esta segunda-feira propõe que se “estude a possibilidade de ordenação sacerdotal de anciãos, preferencialmente indígenas, respeitados e aceites pela comunidade, ainda que tenham uma família constituída e estável, a fim de garantir os sacramentos que acompanham e sustentam a vida cristã”.

Para o padre e professor de Filosofia Anselmo Borges “é absolutamente claro” que a ordenação de homens casados, nas condições previstas no documento, “será aprovada” e que rapidamente alastrará para outras regiões do globo. “Uma vez que a Igreja é universal, esta possibilidade vai tornar-se realidade em muitos outros lugares”, reagiu, recordando a propósito que o cardeal alemão Walter Kasper, um teólogo conselheiro de Francisco, referiu, no início deste mês, que o Papa está disponível para abrir a porta à ordenação de homens casados, assim os bispos o requeiram. 

Sem deixar de considerar que o celibato “é um dom para a Igreja”, o documento preparatório dos trabalhos de Outubro admite ainda a promoção de “vocações autóctones de homens e mulheres”, com o objectivo de assegurar “uma autêntica evangelização do ponto de vista indígena, segundo os seus usos e costumes”.

“Trata-se de indígenas que pregarão a indígenas, com um profundo conhecimento da sua cultura e da sua língua, capazes de comunicar a mensagem do Evangelho com a força e a eficácia de quem partilha a mesma bagagem cultural”, lê-se no documento que servirá como uma espécie de guião para a assembleia especial dos bispos para a Amazónia convocada pelo papa Francisco e que, entre os dias 6 a 27 de Outubro, reunirá em Roma representantes católicos do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Peru, Venezuela e Suriname.

Sem nunca referir o diaconado feminino, o documento não ignora as mulheres: considera que haverá que “identificar o tipo de ministério” que estas poderão desempenhar, “tendo em conta o papel central que hoje desempenham na Igreja amazónica”. Umas linhas mais à frente, o documento reconhece que a presença feminina no campo eclesial não tem sido devidamente valorizada, pelo que “se reclama o reconhecimento” do seu papel.

“Também se propõe que as mulheres tenham garantida a sua liderança, assim como espaços cada vez mais amplos e relevantes na área formativa: teologia, catequese, liturgia e escolas de fé e política”, precisa a Igreja, para acrescentar ainda que as mulheres devem ser ouvidas, consultadas e participantes no processo de tomada de decisões dentro da Igreja. “Na Amazónia, as comunidades cristãs são dirigidas em grande parte por mulheres e por isso se diz que se vai discutir que tipo de ‘ministério oficial’ lhes poderá ser concedido”, interpreta ainda Anselmo Borges, para quem o que estará em cima da mesa é a questão do diaconado feminino, ainda que o documento não se lhe refira explicitamente. 

Dividido em oito capítulos, este documento preparatório do trabalho dos bispos sobre a evangelização num espaço partilhado por vários países sul-americanos sublinha a necessidade de a Igreja se mobilizar na denúncia dos “atropelos dos povos” e da “destruição dos seus territórios”.

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