Observatório de incêndios destaca reforço de meios, mas ainda há muito a fazer

Dois anos depois do grande incêndio de Pedrógão Grande, organismo criado pela Assembleia da República critica falta de aprovação do plano e sistema da gestão integrada dos fogos rurais.

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Daniel Rocha

O observatório técnico independente criado pelo parlamento para acompanhar os incêndios destaca o reforço de meios de combate a fogos nos últimos dois anos, mas considera que ainda há muito por fazer na reestruturação do sistema.

Dois anos depois do grande incêndio de Pedrógão Grande, que a 17 de Junho de 2017 provocou a morte de 66 pessoas, aquele organismo criado pela Assembleia da República salienta que “há de facto uma tentativa de reforço de meios”, mas “do ponto de vista da organização do sistema o esforço não tem sido equivalente”.

Questionado pela agência Lusa sobre as mudanças no combate aos fogos nos dois últimos anos, o presidente do observatório disse que “é bastante visível” o reforço de meios terrestres e aéreos, mas sustentou que “ainda há bastante por fazer” na restruturação do sistema.

O professor do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa afirmou que as comissões técnicas independentes que analisaram os incêndios de 2017 apontaram para a criação de uma agência para a gestão integrada dos fogos rurais.

“Essa agência foi criada no sentido da coordenação e na tentativa de pôr todos os agentes a funcionar com o máximo de eficiência e os passos têm sido tímidos e lentos”, disse, referindo-se à Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais (AGIF), presidida por Tiago Oliveira e em funcionamento desde Janeiro.

Outra das falhas mencionadas pelo especialista está relacionada com a falta de aprovação do plano e sistema da gestão integrada dos fogos rurais.

“Houve uma directiva única de prevenção e combate que nos pareceu interessante em que se apontava para a melhoria na relação entre a prevenção e combate, mas depois ficou-se à espera do plano da gestão integrada dos fogos rurais e do sistema para a gestão integrada dos fogos rurais, que são peças que disciplinam o sistema e que ainda não estão produzidos”, precisou.

Depois dos incêndios de Pedrógão Grande e de 15 de Outubro de 2017, o Governo tem apostado na profissionalização dos bombeiros voluntários através da criação das Equipas de Intervenção Permanente (EIP) nos corpos dos bombeiros.

Sobre estas equipas, o presidente do observatório considerou a aposta positiva, mas sublinhou que “é claramente insuficiente”, uma vez que “mais do que a quantidade” é necessário “reforçar a formação e a continuidade da relação contratual entre as associações de bombeiros e Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil” (ANEPC).

Nesse sentido, o observatório defende “contratos plurianuais entre o Estado e as associações de forma a solidificar essa relação e torná-la mais exigente e profissional” no sentido de dar “melhores condições” aos bombeiros e “melhorar a segurança e a eficácia em todo o dispositivo”.

Também foi alterada depois de 2017 a orgânica da ANEPC, cujas alterações recentemente publicadas ditam o fim dos actuais comandos distritais de operações e socorro e criam cinco comandos regionais e 23 sub-regionais de emergência e protecção civil, que vão entrar em funcionamento de forma faseada.

O observatório sempre criticou esta nova organização territorial e estruturas regionais, sustentando o seu presidente que é olhada “com alguma expectativa a entrada em funcionamento desta lei de forma faseada”, uma vez que “não conhece os detalhes”.

Francisco Rego destacou a constituição dentro da ANEPC de uma célula de apoio à decisão que faz análise estratégica, recomendações sobre o combate e integra informação do Instituto Português do Mar e da Atmosfera e sobre o estado dos combustíveis.

“Isto são muito boas noticias, mas ficou ainda em embrião, isto é, já se começa a fazer uma análise com alguma profundidade, mas passar da análise à acção ainda está bastante longe e julgo que já foram dados os primeiros passos, mas esses passos têm de claramente de se robustecer e se tornar mais visíveis nesta campanha” de fogos, apelou.

O observatório lamentou ainda que a prometida reformulação da Escola Nacional de Bombeiros tenha ficado “para já, no papel”.