Reforma das pensões une sindicatos contra Bolsonaro

Greve geral estendeu-se a todo o país, mas teve poucos efeitos sobre os transportes públicos das principais cidades. Na véspera, comissão parlamentar apresentou alterações à reforma.

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O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, enfrenta nesta sexta-feira a primeira greve geral da sua presidência, em protesto contra a reforma do sistema de pensões, em debate no Congresso. Mas o protesto quer também ser uma rejeição à linha política que o Governo ultra-conservador tem seguido.

“O maior factor de mobilização e união é Bolsonaro”, disse na quinta-feira, véspera da greve, o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, em entrevista ao Broadcast Político, do Grupo Estado. “Ele conseguiu unir todo o mundo contra a reforma da Previdência [sistema de pensões]. Nunca as centrais sindicais estiveram tão unidas como desta vez”, garantiu o dirigente sindical.

A Força Sindical, uma das organizadoras da greve, estimou que “mais de 45 milhões de trabalhadores participaram nos actos e manifestações”. Na greve geral de 2017, também contra a reforma das pensões proposta por Michel Temer, os sindicatos falaram de uma mobilização de 40 milhões de pessoas.

A mobilização foi convocada num contexto de forte contestação nas ruas contra o Governo. No mês passado, os estudantes universitários convocaram duas manifestações em todo o país muito participadas, para protestar contra o congelamento do financiamento público das universidades federais. Esta sexta-feira, várias instituições de ensino superior, assim como algumas escolas públicas e privadas, estiveram encerradas.

Em São Paulo, o metropolitano foi afectado parcialmente, com algumas linhas paralisadas, mas os autocarros urbanos não tiveram perturbações, de acordo com o site G1, do Globo. A maior cidade do país recebeu o jogo inaugural da Copa América de futebol, entre as selecções do Brasil e da Bolívia, e as linhas de metro que servem o estádio do Morumbi funcionaram o dia todo. Algumas avenidas passaram boa parte do dia bloqueadas com manifestações.

No Rio de Janeiro, os transportes funcionaram com normalidade, mas a polícia recorreu a gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes que ocupavam uma estrada. Três pessoas ficaram feridas quando um carro que seguia a alta velocidade furou uma manifestação.

Os funcionários da Petrobras, a empresa estatal de exploração de petróleo, também se juntaram à greve geral, afectando o funcionamento de nove refinarias e do terminal portuário de Pernambuco, segundo a Reuters. Para além de estarem contra a reforma das pensões, os sindicatos do sector também se opõem à venda de activos da empresa pelo Governo e aos planos de privatização defendidos pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

A reforma da Previdência é o grande alvo dos sindicatos. Na quinta-feira, a Comissão Especial da Câmara dos Deputados apresentou o relatório em que são integradas várias alterações à proposta do Governo. De fora do documento fica a implementação de um sistema de capitalização, que combinava um sistema de Segurança Social privado, e as mudanças que enfraqueciam o Benefício de Prestação Continuada, uma prestação social dada aos pensionistas mais pobres e com deficiência.

A proposta que agora deverá ser votada pela comissão antes de seguir para a aprovação em plenário mantém, no entanto, a fixação da idade mínima de reforma para homens (65 anos) e mulheres (62), e a subida do tempo mínimo de descontos de 15 para 20 anos. As alterações feitas pelos congressistas desagradaram Guedes, que denunciou “um recuo para abortar a nova Previdência”.

Os sindicatos também se mobilizaram para criticar o que dizem ser a inacção do Governo face ao desemprego que não pára de crescer – em Abril atingia 13,2 milhões de pessoas, o que representa uma subida de 4,4% face ao trimestre anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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