Altas temperaturas causam degelo recorde na Gronelândia

Nas últimas décadas, a ilha árctica nunca tinha perdido tanto gelo em Junho. Efeito na subida do nível médio do mar pode comportar consequências globais.

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Uma equipa de cientistas dinamarqueses transportados em trenós puxados por cães foi surpreendida pelo rápido degelo numa planície gronelandesa. A imagem foi cedida ao PÚBLICO pelo autor Steffen Olsen

O manto de gelo que cobre a Gronelândia está a derreter a uma velocidade inédita devido às elevadas temperaturas das últimas semanas. Registos obtidos no local mostram que Junho de 2019 registou o degelo mais rápido na região desde que os dados começaram a ser medidos, em 1981. Em média, as temperaturas na maior ilha do Árctico têm estado quatro graus centígrados acima do que seria expectável para o início do mês de Junho.

Em declarações ao Washington Post, Jason Box, do Serviço Geológico da Dinamarca e Gronelândia, mostrou preocupação perante estes números, classificando o derretimento nos primeiros dias de Junho como “grande e prematuro”. O especialista explicou que as altas temperaturas sobre a zona ocidental do manto de gelo da Gronelândia se aliaram aos baixos níveis de neve caída durante o Inverno.

Vários investigadores e especialistas expressam preocupação — mas não surpresa —​ perante o rápido degelo. Marco Tedesco, investigador de gelo, afirma que a subida de temperaturas não é exclusiva a apenas uma área do manto de gelo, afectando também outras regiões da ilha, o que tem contribuído para o derretimento generalizado da calota gronelandesa: “[Esta combinação] desencadeou um derretimento geral que atingiu cerca de 45% do manto de gelo”, acrescentou.

Também Zachary Labe, investigador climático da Universidade da Califórnia, em declarações ao Washington Post, expresou preocupação perante os números: “[É] outra série de eventos extremos consistentes com a longa tendência de um Árctico em aquecimento, em mudança”. O Árctico está a aquecer ao dobro da velocidade do resto do planeta. 

As temperaturas registadas ao longo dos próximos meses irão determinar se o degelo para já registado irá intensificar-se e, porventura, atingir novos recordes. No Twitter, Xavier Fettweis, climatologista na Universidade de Liège, na Bélgica, afirma que se a pressão atmosférica alta se mantiver sobre a região, 2019 poderá ser o ano em que a Gronelândia perdeu mais gelo.

Consequências podem ser globais

O degelo na Gronelândia é um dos principais factores a contribuir para a tendência de subida do nível do mar. “O que acontece no Árctico não fica no Árctico”, escreve o jornal norte-americano, citando um adágio dos climatologistas, inspirado no popular ditado sobre Las Vegas.

Na década de 1990, o degelo na Antárctida e na Gronelândia fazia subir o nível do mar a um ritmo médio de 0,27 milímetros por ano. Na última década, o passo acelerou para 0,95 milímetros por ano. Em média, e em todo o período 1992-2011, o ritmo de subida directamente atribuída ao degelo na Antárctida e na Gronelândia foi de 0,59 milímetros por ano, o que representa quase 20% da subida total do nível do mar neste período. 

“O Árctico é um regulador climático do hemisfério Norte. O gelo que está a derreter agora não significa obrigatoriamente que amanhã teremos uma tempestade, mas, a longo prazo, existirão efeitos profundos que obrigarão a tomar acções, quer se goste quer não”, afirma Rick Thoman, da Universidade do Alasca, citado pelo site de notícias Axios.

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