O que é um “governo de cooperação”? Só PSOE e Podemos sabem
Pedro Sánchez e Pablo Iglesias concordaram ontem em formar um “governo de cooperação” em Espanha. Para já ninguém sabe o que isso é e se o líder do Podemos terá alguma pasta. As negociações vão ocupar os dois partidos nos próximos dias.
A Espanha vai ser conduzida nesta legislatura por um “governo de cooperação” imbuído de um espírito político “plural, aberto e integrador para cumprir o mandato da maioria social do nosso país”. Foi o próprio primeiro-ministro em exercício e líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) quem o escreveu no Twitter, depois de uma reunião frutuosa com o líder do Unidas Podemos para acertar os princípios de um executivo que será negociado nos próximos dias.
Sobre o que será isso de um “governo de cooperação”, se um executivo de coligação com outro nome, se um outro acordo político, ainda não se sabe. Nem os próprios, a julgar pelas declarações de Pablo Iglesias, a quem coube dar a notícia aos jornalistas depois do encontro, já que Sánchez não falou, deixando as respostas para a porta-voz socialista no Congresso, Adriana Lastra.
“Para nós, um governo conjunto é um governo conjunto, seja qual for o nome se lhe dê”, afirmou Iglesias. “Propuseram-nos começar a trabalhar num governo. Um governo conjunto, de cooperação, de coligação, isso é o de menos. O importante são os conteúdos, construir um governo plural para enfrentar os grandes desafios deste país”, acrescentou.
Lastra, por seu lado, também preferiu manter a definição do “governo de cooperação” na ambiguidade, sublinhando que o importante não é como se chama, mas as “grandes coincidências programáticas” e a “vontade de acordo” dos dois partidos. Mas sempre acrescentou que se trata de algo inovador, um governo “aberto” com “fórmulas diferentes das conhecidas até agora”.
De querer governar sozinho com apoios parlamentares pontuais, até ao namoro explícito com o Cidadãos, Pedro Sánchez tentou várias fórmulas antes de aceitar que a solução política que lhe restava era mesmo acordar com o Podemos um governo que se estende a pequenos partidos não independentistas e que não lhe traz maioria absoluta, mas alguma tranquilidade para executar o seu programa nos próximos quatro anos.
O PSOE venceu as eleições legislativas de 28 de Abril com com 28,68% dos votos, enquanto o Podemos ficou em quarto lugar com 14,31%, juntos (PSOE 123 + Podemos 42) juntam 165 deputados, quando a maioria absoluta no Congresso espanhol se forma com 176 deputados.
A fórmula da “cooperação” pode ser apenas um eufemismo para evitar usar o termo coligação. É preciso ver agora se o Podemos terá direito a ministérios nessa cooperação e se Iglesias fará parte desse governo, um obstáculo importante para ser ultrapassado: o PSOE não quer, o Podemos deseja e muito.
Segundo a porta-voz socialista no Congresso, “não se falou em nomes”, no entanto, Iglesias repetiu o que já lhe havíamos dizer sobre negociações de pastas: “O tempo dos vetos passou. Não concebo que o PSOE coloque qualquer veto, nós não o faremos”, referiu Iglesias.
A partir de agora serão as negociações a determinar os contornos do governo. O PSOE pretende que sejam discretas, para evitar o desgaste na praça pública. E, sobretudo, quer convencer o Podemos a afastar a palavra “coligação” do léxico da próxima legislatura. Para o Podemos o adjectivo é o de menos, o que importa mesmo é negociar “um governo de esquerdas” com “uma base ampla”.
Escreve o Diario16 que o encontro desta terça-feira entre Sánchez e Iglesias foi frio e tenso, principalmente por causa da insistente vontade manifestada pelo líder do Podemos de fazer parte do executivo. Os sorrisos foram protocolares, o aperto de mão obrigatório para as fotografias, a conversa de circunstâncias viu-se reduzida a nada ou quase nada.
Se o PSOE evoluiu da exigência de ter apenas socialistas no governo para aceitar figuras independentes sugeridas pelo Podemos ou negociadas entre os dois, o Podemos mantém a sua vontade de ter pastas, de comandar ministérios. Iglesias estará convencido que a única forma de travar a erosão do seu eleitorado é afirmar o partido como uma verdadeira alternativa de poder, para isso, precisa de governar. E o último que Sánchez desejaria nesta etapa política era servir de bóia de salvação dos seus parceiros progressistas.