Concurso para médicos de família teve menos candidatos do que vagas
Candidataram-se 370 jovens médicos para um número recorde de vagas abertas em Maio. Mas também há médicos a aposentar-se. Em cinco meses, 58 mil pessoas ficaram sem médico de família.
O Governo abriu 398 vagas para médicos de família no último concurso nacional, naquele que foi o maior contingente de sempre para a entrada de jovens clínicos desta especialidade no Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas candidataram-se apenas 370 e um foi excluído, de acordo com a lista de ordenação final publicada nesta segunda-feira em Diário da República. Apesar deste número recorde, não será ainda possível dar médico de família a todos os portugueses inscritos nos centros de saúde.
Se todos estes candidatos ficassem a trabalhar no SNS – e não é isto que tem acontecido ao longo dos anos, porque uma parte prefere emigrar ou ir trabalhar para o sector privado –, seria possível dar médico de família a perto de 700 mil pessoas em Portugal. Em teoria, portanto, e olhando para os números de Dezembro passado - quando havia cerca de 690 mil pessoas sem clínico assistente atribuído nos centros de saúde -, a meta da cobertura total da população inscrita seria finalmente concretizada.
O problema é que, em apenas cinco meses, entre o final de 2018 e Maio deste ano, mais de 58 mil utentes ficaram sem médico de família. Segundo os últimos dados disponíveis no portal do SNS, há agora quase 750 mil pessoas nesta situação, um aumento que se deve sobretudo às aposentações dos médicos de família. A boa notícia é a de que o saldo entre os médicos que se reformam e os que entram no SNS tem sido favorável.
Este ano devem aposentar-se cerca de 200 especialistas em medicina geral e familiar, disse em entrevista ao PÚBLICO a secretária de Estado da Saúde, Raquel Duarte, que prevê que no próximo ano se reformem outros 300. Pelas suas contas, se entrarem 400 novos médicos de família por ano, a cobertura total será conseguida no final de 2020, caso não se verifiquem “grandes perturbações”.
O problema da falta de médicos de família afecta sobretudo a região de Lisboa e Vale do Tejo, onde em Maio havia 575 mil pessoas sem clínico assistente atribuído, 15,4% do total. Os agrupamentos de centros de saúde mais carenciados são os da Amadora, Arrábida (em Setúbal), Sintra e Arco Ribeirinho. Também o Barlavento algarvio e o Alentejo Litoral têm ainda grandes carências. Em sentido contrário, o Norte aproxima-se da cobertura total e o Centro também.
Anulada parte do concurso para hospitais
No concurso para as especialidades hospitalares houve um revés. Uma parte deste concurso foi anulada, mas apenas na parte correspondente às especialidades de cardiologia, cirurgia geral, cirurgia pediátrica, hematologia clínica, imunohemoterapia, medicina do trabalho, oftalmologia, pediatria e psiquiatria. Foi aberto um novo concurso para estas especialidades e o prazo para candidaturas termina na próxima sexta-feira, adianta a Administração Central do Sistema de Saúde.