Líder do SPD demite-se e põe em risco coligação que sustenta Governo alemão

Andrea Nahles deixa liderança dos sociais-democratas uma semana depois da derrota histórica nas eleições europeias. CDU espera manter aliança no Governo.

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Em Abril do ano passado, Andrea Nahles tinha-se tornado na primeira mulher à frente do SPD Michele Tantussi / Reuters

A líder do Partido Social Democrata alemão (SPD), Andrea Nahles, anunciou a sua demissão este domingo, alegando falta de apoio interno. A demissão, uma semana depois das eleições europeias, mergulhou a paisagem política alemã na incerteza.

Num comunicado enviado aos militantes divulgado na manhã de domingo, Nahles disse que iria abandonar a liderança do partido e também a chefia do grupo parlamentar do SPD no Bundestag. Estava previsto que na terça-feira, Nahles fosse sujeita a uma moção de confiança junto dos deputados do SPD, mas a pressão interna precipitou a decisão daquela que, em Abril do ano passado, se tinha tornado na primeira mulher a liderar o partido.

“As discussões no seio do grupo parlamentar e o elevado número de comentários dentro do partido mostraram-me que já não existe apoio para que me mantenha nestes cargos”, justificou Nahles.

Para além de aprofundar a crise vivida no SPD, a demissão de Nahles pode ter um impacto significativo para a estabilidade da “grande coligação” governamental liderada pelos conservadores da União Democrata-Cristã (CDU). O péssimo resultado obtido pelo SPD nas eleições europeias – obtiveram apenas 15,8% dos votos, atrás da CDU e dos Verdes – foi o ponto de não-retorno para Nahles, que no mesmo dia viu o partido perder as eleições regionais no estado de Bremen, algo que não acontecia desde a II Guerra Mundial.

Porém, Nahles estava já sob fogo de alguns sectores do SPD desde que o partido aceitou voltar a integrar uma coligação com a CDU, em vez de liderar a oposição à chanceler Angela Merkel. Na sua carta de demissão, Nahles nota que subiu à liderança do partido num “momento difícil” em que tinha que combinar a participação no Executivo com o trabalho de “reerguer” o SPD.

O partido deverá entrar agora num período de selecção interna da nova liderança, que terá impacto sobre a coligação governamental. “A eleição da liderança partidária será provavelmente um voto à grande coligação”, disse à Reuters o presidente da Escola Hertie de Governação, Henrik Enderlein.

Assim que a demissão de Nahles se tornou pública, multiplicaram-se as vozes no SPD a pedir tréguas. O líder da juventude partidária, Kevin Kühnert, disse mesmo estar “envergonhado” com a guerra interna que levou à saída de Nahles. O ex-líder do partido, Sigmar Gabriel, afirmou que a demissão é um sinal de que o SPD precisa de uma “desintoxicação”.

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O possível colapso da coligação entre conservadores e sociais-democratas poderá precipitar eleições antecipadas, ou a formação de um Governo minoritário composto apenas pela CDU. Porém, nos cálculos da nova liderança do SPD não deverá estar alheio o perigo de um regresso às urnas. Uma sondagem revelada este sábado mostrava um panorama completamente novo na política alemã, com os Verdes a aparecerem à frente da CDU, e o SPD a uma grande distância.

À direita, o apetite por novas eleições também não é grande. Numa conferência de imprensa horas depois da demissão, Merkel disse querer manter a “grande coligação” com o SPD “com toda a sinceridade e com grande sentido de responsabilidade”. A chanceler também elogiou Nahles, que descreveu como alguém “absolutamente confiável”. As declarações da líder da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, foram no mesmo sentido, embora tenha pedido uma clarificação rápida ao SPD, dizendo que esta “não é a hora para considerações partidárias críticas”.

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