Klopp e Pochettino, os fabricantes de sonhos

Os treinadores finalistas da Champions têm passado a carreira a excederem expectativas.

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Klopp e Pochettino, os dois treinadores finalistas da Champions 2018-19 Reuters/Dylan Martinez

Nem todos os treinadores são Zinedine Zidane, que tem mais títulos europeus que épocas completas. A regra na carreira de um treinador de futebol é começar de baixo e ir subindo de patamar ao longo dos anos, ao contrário do técnico francês que foi tricampeão da Champions em dois anos e meio. Casos destes são menos de um por cento. Jurgen Klopp e Mauricio Pochettino, os dois treinadores finalistas nesta edição da Liga dos Campeões, pertencem aos restantes 99%. Klopp começou no fundo da tabela da segunda divisão alemã com o Mainz, Pochettino começou como adjunto na equipa feminina do Espanyol. Ambos construíram uma carreira em ascensão a superar expectativas e a alimentar a esperança dos adeptos dos clubes por onde têm passado, incluindo os clubes onde estão agora.

Klopp e Pochettino tornaram-se especialistas a fazer muito com pouco (ou melhor, a fazer muito com menos que os adversários). Tem sido assim ao longo das suas carreiras. Para Klopp, tudo começou no único clube que representou enquanto jogador durante 11 anos – um avançado reconvertido em defesa que, segundo o próprio, tinha nível para jogar na quinta divisão. O Mainz era tudo menos um gigante do futebol alemão, condenado a uma existência de sobrevivência na segunda divisão e sem pensar em voos mais altos. Quando Klopp saltou do relvado para o banco em Fevereiro de 2001, o Mainz estava a perder em mais uma luta pela sobrevivência, mas o seu jovem técnico de 34 anos conseguiu uma vitória na estreia e guiou a equipa à tranquilidade em apenas oito semanas.

O último jogo foi em Manheim, com a manutenção já garantida e a viagem de regresso, como contou Christian Heidel, director-desportivo do clube, foi bastante animada e envolveu muita cerveja. “Voltámos de barco, pelo Reno. Fizemos uma festa com o ‘staff’ e os adeptos. Eu e o Jurgen ficámos duas horas na proa com uma grade de cerveja. Quando chegámos, a grade já não estava cheia”, recordou Heidel ao jornal Guardian. Essa foi a primeira de muitas festas de Klopp no Mainz. De candidato crónico à despromoção, passou na época seguinte a candidato à promoção, que falhou por um ponto. No ano seguinte falhou a promoção por ainda menos que isso (um golo), mas, à terceira, Klopp e o Mainz foram para a Bundesliga.

Klopp voltaria a fazer o mesmo no Borussia Dortmund, instrumental no renascimento do clube em época de crise profunda. Levantou o clube do chão, conquistou títulos, quebrou a hegemonia do Bayern Munique na Bundesliga e foi a uma final da Liga dos Campeões (que perdeu com os bávaros), acabando por ser vítima das expectativas que ele próprio criou – saiu após uma época em que o seu Borussia foi mediano. Poucos meses depois, transportou o seu carisma e a sua qualidade para Anfield e os resultados falam por si. Pode ainda não ter conseguido acabar com o jejum de 30 anos dos “reds” na Premier League, mas o seu Liverpool apaixona e não desiste. Só assim conseguiu o “impossível” de eliminar o Barcelona e dar a volta em Anfield aos 3-0 de Camp Nou.

O “filho” de Bielsa

Ao contrário de Klopp, Mauricio Pochettino teve uma assinalável projecção como jogador. Defesa-central internacional pela Argentina, Pochettino foi treinado em início de carreira no Newell’s Old Boys por Marcelo Bielsa. Foi mesmo “El Loco” quem recrutou Pochettino para o clube de Rosário depois de ter aparecido na casa de família durante a madrugada. “Bateu à porta de casa dos meus pais e disse que queria olhar para um rapaz de 13 anos. Olhou para as minhas pernas e disse, ‘Parecem pernas de bom jogador’”, contou Pochettino sobre o seu primeiro contacto com Bielsea, que mais tarde reconheceria como sendo a sua grande influência como treinador.

Depois dos inícios com Bielsa no Newell's, Pochettino representou mais três clubes, dois em França (PSG e Bordéus) e um em Espanha, o Espanyol de Barcelona, que tinha sido a sua porta de entrada para o futebol europeu e que seria a porta de saída da sua carreira de futebolista. Pochettino mal tinha acabado de receber da UEFA a licença de treinador e foi lançado para o banco do aflito Espanyol, ele que tinha como experiência um curto período como adjunto da equipa feminina. Foi anunciado como treinador principal (o terceiro da época) a 20 de Janeiro de 2009, estreou-se no banco do Espanyol no dia seguinte frente ao Barcelona de Pep Guardiola, numa eliminatória da Taça do Rei.

O resultado do derby catalão foi promissor, um empate sem golos, e o Barcelona teve de se aplicar para ganhar no segundo jogo (3-2). Mas o que interessava ao Espanyol era ficar entre os “grandes” e Pochettino, a treinar uma equipa de antigos colegas, cumpriu a missão. Entrou com a equipa no 19.º lugar e terminou a época em décimo, não sem antes ter mais um resultado brilhante contra aquela que era a melhor versão do Barcelona de Pep – 1-2 em Camp Nou, com dois golos de Ivan de la Peña. Seguiu-se uma época tranquila e uma outra em que o Espanyol passou largas jornadas a pensar num lugar de Liga dos Campeões.

Saiu em Novembro de 2012 do Espanyol e, três meses depois, estava em Inglaterra para orientar o Southampton, onde voltaria a “sair melhor que a encomenda”, guiando os “saints”, na única época completa em que lá esteve, à melhor classificação em dez anos. Logo a seguir, em 2014, mudou-se para o londrino Tottenham e, quase de imediato, elevou os “spurs” à condição de candidatos ao título (falhou por pouco em 2016) e tem-se mantido no topo da Premier League, mesmo sendo o clube menos gastador entre os seis que habitualmente lutam pelo primeiro lugar. E, tal como o Liverpool de Klopp, o Tottenham de Pochettino também foi um exemplo de superação e crença pela forma como eliminou o Ajax. Nos dez anos que já leva como treinador, o argentino de 47 anos ainda não conquistou qualquer título, mas já é um dos técnicos mais cobiçados e respeitados do momento. E neste sábado pode começar a ganhar taças da melhor forma possível.

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