Cristas ouviu críticas, assumiu culpas mas não deu sinais de mudança

Nuno Melo condenou a mistura do anúncio dos candidatos às legislativas com as europeias. Há conselheiros nacionais a defender que Manuel Monteiro devia regressar em força

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Na noite eleitoral, Cristas falou antes de Nuno Melo, que assumiu a derrota Rui Gaudencio

Foi um conselho nacional quente em que os centristas não pouparam a líder do partido por causa da estratégia seguida até agora, apurou o PÚBLICO junto de várias fontes. Assunção Cristas, bem como Nuno Melo e Pedro Mota Soares, assumiram as responsabilidades pela derrota eleitoral, mas manteve-se o desânimo no CDS. O próprio vice-presidente Nuno Melo criticou decisão da líder do partido. Horas depois desta reunião, o próprio Mota Soares abriu uma brecha na bancada parlamentar. O deputado assumiu discordar da posição do partido sobre os salários dos juízes e alertou para o “erro” e a incoerência face ao defendido anteriormente pelo CDS. A união e a paz só durará até às legislativas, caso se repita o mau resultado, avisam os críticos da direcção. ​ 

O ex-deputado Filipe Lobo d’Ávila falou durante quase meia hora e apontou o dedo à direcção por não conseguir que os eleitores identifiquem uma única ideia do CDS para os levar a votar no partido. A crítica já tinha sido feita por António Lobo Xavier, que foi mandatário da lista do CDS nas europeias, no programa Circulatura do Quadrado na TVI.

Filipe Lobo d’Ávila, eleito pela lista alternativa a Assunção Cristas, recusa atribuir responsabilidades aos principais candidatos às europeias, Nuno Melo e Pedro Mota Soares, considerando até que conseguiram segurar algum eleitorado. A campanha pecou por cair na armadilha de António Costa de querer fazer das europeias uma moção de confiança ao Governo. “Quem queria censurar, acabou censurado”, disse o antigo secretário de Estado da Administração Interna, apontando ainda como causa dos resultados das europeias gestão política “desastrosa” da crise dos professores.

Filipe Lobo d’Ávila condenou ainda a escolha e o anúncio dos candidatos às legislativas na pré-campanha das europeias, o que dividiu o partido e contribuiu para a desmobilização. Esta crítica foi assumida pelos próprios candidatos, Nuno Melo e Pedro Mota Soares, e foi ainda secundada por outros conselheiros nacionais, nomeadamente os representantes da Tendência Esperança em Movimento (TEM). Luís Gagliardini Graça, membro desta corrente interna, pediu que Assunção Cristas pusesse o lugar à disposição e que recuasse nas listas para as legislativas, propondo outros nomes (que não sejam apenas os de Lisboa distribuídos pelo país) depois de ouvir as estruturas locais. Se aceitasse propor outros candidatos a deputados, a própria TEM daria o seu apoio à líder do partido até às legislativas.

A direcção alegou não haver tempo para um novo processo de escolha de candidatos. Assunção Cristas assumiu as responsabilidades pelo resultado de domingo e fez um apelo de união para as legislativas. Mas, ao que o PÚBLICO apurou, não deu indicações de alterações na estratégia. Ao contrário do que era esperado por alguns conselheiros, a líder do CDS não remeteu responsabilidades da derrota para o cabeça-de-lista, mas a divergência sobre onde posicionar o partido – direita ou centro-direita – parece manter-se. Assunção Cristas refere-se ao centro-direita enquanto Nuno Melo a desafiou a assumir que o partido é de direita. Essa divergência, que foi visível durante a campanha para as europeias, é apontada como um dos motivos da derrota eleitoral do CDS. 

Portas “não deixou” Monteiro entrar na campanha

Ainda em reacção ao anúncio dos candidatos às legislativas, a concelhia de Braga, liderada pelo ex-deputado Altino Bessa, aprovou uma moção em que assume não indicar nomes para a lista em sinal de protesto pela forma como foram escolhidos os candidatos e contra a decisão de repetir Telmo Correia como cabeça-de-lista. Altino Bessa, que não é conselheiro nacional, assumiu temer, nas redes sociais, que o CDS se volte a tornar no “partido do táxi”, e apontou, entre outras causas para a derrota a participação do ex-líder Paulo Portas na campanha e a recusa em deixar que outro antigo líder do partido se envolva. “Quando se traz Paulo Portas para a campanha e os eleitores o querem ver longe. Quando se rejeita a entrada de Manuel Monteiro na campanha, apenas porque Paulo Portas não deixa”, escreveu.

Raul Almeida, porta-voz da lista alternativa de Lobo d’Ávila, concorda com a proposta do antigo dirigente Luís Nobre Guedes de fazer regressar Manuel Monteiro ao partido. “A ideia de convidar Jaime Nogueira Pinto e Manuel Monteiro para listas, que ganhariam outro peso, seria um passo na direcção certa. O próprio Luís Nobre Guedes seria um candidato de peso nesta operação de resgate. Só os melhores de entre os melhores poderão ajudar o CDS a escapar de um castigo penoso pelos sucessivos erros de Cristas”, escreveu no Facebook.

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