Os 50 anos da morte de José Régio vão ser evocados de Vila do Conde a Portalegre
Exposições, ciclos de cinema, conferências e reedições entre as iniciativas do vasto programa que até 2020 assinalará a efeméride.
Exposições, ciclos de cinema, espectáculos, conferências e reedições vão evocar os 50 anos da morte de José Régio, dando corpo a uma programação que pretende também aumentar o reconhecimento da importância deste escritor, nomeadamente ao nível dos currículos escolares, foi anunciado esta manhã.
José Régio, nome literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu a 17 de Setembro de 1901 em Vila do Conde, estudou em Coimbra e leccionou em Portalegre durante mais de 30 anos, tendo vindo a morrer na sua terra natal, a 22 de Dezembro de 1969. Para assinalar esta efeméride, o Ministério da Cultura, as direcções regionais de Cultura do Norte, do Centro e do Alentejo, os municípios de Vila do Conde, Coimbra e Portalegre, e o Centro de Estudos Regianos (Vila do Conde) juntaram-se na elaboração de um vasto programa cultural, que foi apresentado esta sexta-feira em Lisboa.
José Régio foi poeta, dramaturgo, romancista, novelista, contista, ensaísta, cronista, crítico, diarista, memorialista, epistológrafo, historiador da literatura portuguesa, desenhador, pintor, e grande conhecedor e coleccionador de arte sacra e popular, lembrou o director regional de Cultura do Norte, António da Ponte, justificando assim a abrangência das actividades em torno desta “figura ímpar da cultura portuguesa”.
Ao longo de quase dois anos (até Dezembro de 2020), vão desenvolver-se diversas iniciativas de cariz nacional e local, como as exposições Do borrão do autor às mãos do leitor, na Reitoria da Universidade do Porto, a partir de 13 de Junho, ou Revisitações à Torre de Marfim, a partir de 5 de Outubro em Vila do Conde.
No final do ano será apresentado um espectáculo criado por Pedro Lamares a partir do estudo da obra de José Régio e em Julho o escritor vai estar em destaque no festival Curtas Vila do Conde, com a apresentação dos filmes A Glória de Fazer Cinema em Portugal, de Manuel Mozos, e Douro, Faina Fluvial, As Pinturas do Meu Irmão Júlio, Romance de Vila do Conde e O Poeta Doido, o Vitral e a Santa Morta, de Manoel de Oliveira.
Em Portalegre, haverá também um ciclo de cinema preenchido por filmes relacionados com a obra literária do autor, com comentários por críticos e estudiosos de cinema, assim como um ciclo de curtas-metragens. A presença de José Régio também vai ser reinscrita no espaço público da cidade: uma instalação plástica do artista Daniel Eime gravará o rosto de José Régio na fachada da casa onde viveu.
Já em Vila do Conde, poemas e desenhos de Régio impressos em grande formato vão aparecer nas fachadas dos edifícios devolutos espalhados pela cidade. Haverá trajectórias pedonais “afectivas do autor”, itinerários literários e um jantar cujo menu que recria os pratos gastronómicos ao gosto do escritor.
As escolas vão ser palco de maratonas de leitura de poemas, bem como de concursos de desenho e literatura.
Os organizadores das comemorações destacaram também um ciclo de conferências e mesas redondas e a edição de uma agenda perpétua de José Régio, bem como a reedição de algumas das suas obras pela editora Opera Omnia: Antologia Poética, Jogo da Cabra-cega, Histórias de Mulheres e Três Peças em um Ato, além da biografia do escritor por Eugénio Lisboa.
Segundo os organizadores, este é um programa “muito vasto, que não se fecha nestas entidades e está aberto a propostas de outras instituições que se queiram juntar.
Um dos objectivos desta iniciativa é chamar a atenção para a importância deste homem, também fundador da revista Presença, para a literatura e a cultura portuguesas do século XX, mas que tem sido “mal tratado”.
“Esperemos que haja da parte da Educação e da Cultura um interesse relativamente a José Régio diferente do que tem sido até hoje. É importante valorizar o nome destas pessoas que deram tanto ao nosso país”, afirmou a presidente da Câmara Municipal de Portalegre, Adelaide Teixeira. Lamentando ter saído dos currículos escolares a obrigatoriedade de falar em Régio, a responsável criticou que em Portugal se tratem “tão mal” os escritores para depois se dar importância maior a outros “autores de fora”.
Os organizadores esperam com este programa dar a conhecer melhor José Régio em Portugal, mas também em países de língua portuguesa, e contribuir para que o autor passe a ser abordado nos currículos escolares, dando-se a conhecer às camadas mais jovens.
“A ideia é repensar de algum modo o que devia ter sido feito há alguns anos, que é dar o devido respeito e o devido lugar a este nome e grande vulto da cultura portuguesa que é José Régio”, acrescentou Adelaide Teixeira.
De forma a criar uma identidade a este projecto de evocação de José Régio, foi desenvolvida uma imagem gráfica, com um dos versos mais conhecidos do poeta (“Não sei para onde vou, não sei por onde vou, sei que não vou por aí”), e criado um site na Internet (www.joseregio.org), onde vai ser divulgada toda a programação.