Operação Marquês: Teixeira dos Santos diz que afinal falou com Sócrates sobre a nomeação de Vara para a Caixa
Antigo ministro das Finanças tenta livrar Sócrates da responsabilidade da nomeação de Armando Vara para a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e ainda diz que este manifestou preocupação com eventuais repercussões políticas.
O depoimento de Teixeira dos Santos ficou marcado pelo facto de o ex-ministro se ter lembrado que quando falou com José Sócrates sobre a nomeação de Armando Vara para o lugar de vogal do Conselho de Administração da Caixa Geral de depósitos (CGD) este aprovou a nomeação, mas mostrou algumas reticências. No interrogatório, ainda na fase da investigação da Operação Marquês, Teixeira dos Santos não tinha referido ao juiz Carlos Alexandre a existência de conversas com o, na altura, chefe de Governo.
Segundo fonte ligada ao processo, o ex-governante, que é a segunda testemunha do antigo primeiro-ministro a ser ouvida na fase de instrução do processo da Operação Marquês, disse, esta quinta-feira, no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), e em resposta às questões do juiz Ivo Rosa, que realmente falou com José Sócrates, que este o alertou para eventuais repercussões políticas e que ainda o questionou sobre se tinha mesmo a certeza que o queria nomear para a CGD.
Teixeira dos Santos voltou assim a afirmar que a escolha de Armando Vara, que também é arguido no processo, para a CGD foi sua e, perante o juiz Ivo Rosa, tentou ilibar José Sócrates das suspeitas de interferências nesta matéria.
Aliás, o ex-governante terá justificado a escolha de Vara como uma opção sua, que tinha como único objectivo conseguir um equilíbrio entre administradores que “eram da casa” e outros “fora da Caixa”.
Recorde-se que o Ministério Público defende que a nomeação de Vara terá sido uma imposição de José Sócrates.
E esta questão é importante porque Sócrates e Vara foram acusados de um crime de corrupção por terem alegadamente recebido dinheiro para beneficiarem os donos do empreendimento Vale de Lobo, no Algarve.
Na acusação lê-se que “o arguido José Sócrates pretendia utilizar a sua proximidade ao arguido Vara para tomar conhecimento, por via do mesmo, de operações em curso na CGD, acordando com o mesmo o apoio do accionista Estado, quando necessário, para fazer prevalecer decisões, designadamente em sede de concessão de créditos”.
Em causa estão cinco dos 12 empréstimos que o empreendimento Vale do Lobo obteve junto da CGD e que superam os 216 milhões de euros.
Estas acusações foram negadas, tanto por Sócrates, como por Vara.
O depoimento do antigo responsável pelo Ministério das Finanças também trouxe nuances a favor de Sócrates, no que diz respeito a negar qualquer interferência do Governo em outros negócios, como a tentativa de OPA da Sonae sobre a PT.
Além de Teixeira dos Santos, a defesa do ex-governante tem ainda previsto que sejam ouvidos Carlos Santos Ferreira, Fernando Serrasqueiro e Paulo Campos.
José Sócrates é acusado de ter recebido 34 milhões de euros, entre 2006 e 2015, a troco de favorecimento a interesses do Grupo Espírito Santo, na concessão de financiamento por parte da Caixa Geral de Depósitos ao empreendimento Vale do Lobo (Algarve) e ao Grupo Lena. Dinheiro esse que terá sido movimentado por contas de Carlos Santos Silva, o empresário amigo do ex-governante também acusado neste processo.