Mussolini, por exemplo
Engana-se quem pensava que os Salvini, as/os Le Pen, os Orbán ou os Abascal são espuma dos dias.
Predappio é um pequeno município da região da Emília-Romanha que até há uma dezena de anos era descrita como a mais “vermelha” de Itália, herdeira de uma memória partigiana (resistente) feita de coragem e heroísmo coletivos na luta contra o ocupante nazi e os seus aliados fascistas italianos. Foi em Predappio, no meio desta antiga fortaleza da esquerda italiana que era então palco da lutas camponesas contra os grandes proprietários, que em 1883 nasceu Benito Mussolini. Depois de ascender ao poder, o ditador quis monumentalizar e musealizar a sua própria vida, apresentando-se como um verdadeiro santo da Nação. Como aconteceu em tantos outros casos, o Duce mandou construir em 1928-33, a expensas do Estado, uma cripta funerária na qual instalou os restos mortais dos seus pais e, em 1941, do seu próprio filho Bruno. Capturado pela Resistência em abril de 1945 quando tentava fugir para a Suíça, o ditador que conduziu a Itália a sucessivas guerras (Etiópia, Espanha, II Guerra Mundial, ao lado da Alemanha nazi) e à devastação do país foi executado pelos partigiani e enterrado num cemitério de Milão. Em 1946, um grupo fascista conseguiu roubar o caixão com o objetivo expresso de criar um lugar de culto. Em 1957, durante a Guerra Fria e o longo meio século de domínio democrata-cristão em Itália, família e governo acordaram em transferir os restos mortais de Mussolini para a cripta de Predappio, transformada, assim, numa versão do franquista Vale dos Caídos em pequeno.
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