Estão a obrigar alunos a protestar contra cortes nas universidades, diz ministro da Educação do Brasil
Com mais uma vaga de manifestações nas ruas de todo o país contra o bloqueio de verbas que afecta duramente as universidades públicas, Abraham Weintraub sobe o nível de confronto. Foi também processado por causa das suas declarações.
Enquanto estudantes e professores tomavam as ruas de novo em mais de uma centena de cidades brasileiras, num protesto contra os cortes nas universidades promovidos pelo Governo de Jair Bolsonaro, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi para o Twitter pedir aos pais que denunciem os professores que, diz, estão a “coagir” os alunos das universidades públicas a participar nas manifestações.
Dizendo que os protestos não se podem transformar numa “guerra ideológica”, mas fazendo isso mesmo, o ministro divulga um endereço de e-mail e pede mais denúncias, depois de dizer que que o Ministério da Educação recebeu cartas de pais queixando-se que os seus filhos foram a ameaçados se não participassem nas manifestações. É mais um episódio da batalha de manifestações iniciada a 15 de Maio, com o primeiro protesto dos estudantes, que teve seguimento no último domingo, 26, com a manifestação de apoio a Bolsonaro e contra o Congresso, e agora este novo protesto convocado pela União Nacional dos Estudantes, que representa os universitários, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e a Associação Nacional de Pós-Graduandos.
O Governo fez um corte total de 7300 milhões de reais no sector da educação, que chega a 2000 milhões de reais (1110 milhões de euros) na chamada verba discricionária, ou seja, do dinheiro que não é destinado para despesas obrigatórias como salários, e que serve também para apoiar investigação, bolsas e outras actividades. As instituições também não têm dinheiro para manter a manutenção dos edifícios e para ter as instalações em condições próprias para dar aulas, queixam-se os reitores e responsáveis das universidades.
Em Brasília, um dos locais onde a manifestação se realizou mais cedo, a marcha aconteceu na Esplanada dos Ministérios, e segundo o relato do jornal Folha de São Paulo, o ministro da Educação pediu protecção policial para o edifício sede do seu Ministério. Sérgio Moro, o seu colega da Justiça, aceitou o pedido.
Um repórter da BuzzFeed News Brasil relatou no Twitter que enquanto a manifestação subia a Esplanada, um polícia de mota lançava jactos de gás pimenta contra os manifestantes, que não reagiram.
O Ministério Público brasileiro anunciou entretanto ter-se iniciado uma acção civil contra Weintraub e o Estado brasileiro, por danos morais colectivos, devido às declarações do ministro desde que tomou posse, em Abril – entre as quais a ameaça de que “as universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho académico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas”.
Por outro lado, num sinal de que o corte de verbas está a provocar incómodo até no seio do poder, o Conselho Nacional de Direitos Humanos – órgão ligado ao Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos, liderado por Damares Alves – recomendou ao Governo federal que reveja o bloqueio das verbas para a Educação, num documento publicado esta quinta-feira no Diário Oficial da União.
Em algumas cidades do interior, aos estudantes e professores juntaram-se manifestantes que defendiam outras causas e aproveitaram para se solidarizar e dar visibilidade às suas queixas. Em Santos, trabalhadores do sector dos petróleos fizeram um protesto em apoio aos estudantes, contra a privatização das refinarias e a reforma da Segurança Social, relata o site Brasil 247, que tem um forte pendor de esquerda. A oposição à reforma da Segurança Social – que segue bloqueada no Congresso – foi também tema em Caruaru, no Agreste Pernambucano, dando mais corpo ao protesto dos estudantes.