Música

Arriscar com os Cassete Pirata ou ficar a olhar

É sempre curioso quando a decisão de aqui destacar um vídeo, dos que chegaram durante a semana à plataforma VIDEOCLIPE.PT, reside em dois com estilos visuais e musicais bem opostos: entre o minimalismo concetual para a serenidade jazz-folk de Nádia Schilling e a profusão visual e simbólica para o dream pop a virar combustão dos Cassete Pirata. Tendo-se optado pelo destes últimos, este Ferro e Brasa acaba por ter o condão de, finalmente, conceder aqui um destaque a um dos mais prolíficos realizadores de videoclipes nacionais, o Ricardo Oliveira. Embora, não deixa de ser estranho que quase ninguém alguma vez tenha adicionado um da sua autoria (props ao manager da banda).

Excluindo o anterior vídeo letrista de Paz e Guerra, este é o videoclipe de avanço na promoção do primeiro álbum da banda, A Montra (a lançar em junho), e revela a faceta mais indie rock da banda, em relação ao som pop luminoso e sonhador do EP anterior. E até uma exploração psicadélica em quase metade do tema, ainda que mantendo uma sensibilidade pop no início. Será, portanto, um álbum para ouvir com atenção e sem rótulos predefinidos. O que, de certo modo, condiz com a letra do tema: sobre o crescer e arriscar em vez de ficar a olhar.

Para construir uma proposta visual para uma música, no contexto digital atual, há a necessidade de ir além da mera performance musical, propondo simbologias, metáforas ou outras figuras de estilo visual que enriqueçam a mensagem do tema ou o universo da banda. Mas também que estas sejam fortes, ou que impressionem e agarrem a nossa curiosidade até ao fim. Ou que nos façam um jogo dedutivo com graça e eficácia. É o princípio criativo que tem caraterizado este realizador, embora umas vezes mais conseguidas do que outras, como é natural. Pode ter havido aqui um exagero na profusão de ideias gráficas, ou a medusa não ser uma referência de significação fácil, entre outras, mas há algum borbulhar de ideias. E quando num videoclipe nacional há ideias, os nacionais deviam partilhar mais.

Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.