O estertor da direita é mau para o país
Reduzidos a menos de 30%, PSD e CDS surgem fracos e com dificuldade de voltarem à sua essência programática. Tornaram-se descartáveis.
Rui Rio anunciou-se ao PSD com o currículo de político que desconhecia a derrota e na sua primeira prova de fogo sucumbiu com estrondo. Assunção Cristas prometeu disputar o poder em Portugal e nas europeias voltou a colar ao CDS a caricatura do “partido do táxi”. A direita em Portugal está ameaçada como nunca esteve depois do 25 de Abril, e tão importante como procurar culpas e assacar responsabilidades é perceber que consequências pode ter o seu estertor na cultura e na prática política do país.
A democracia só atinge o seu potencial máximo quando revela vitalidade e o sal que a tempera é esse permanente confronto de ideias e de visões sobre os problemas do país. O que aconteceu na presente legislatura mostra que o pensamento único da direita de Passos deu lugar ao pensamento único da esquerda das posições conjuntas. Com o PS obrigado a acolher as exigências dos seus parceiros, o debate público e político cristalizou-se na agenda da esquerda pura e dura.
Durante quatro anos, foi a função pública, as exigências dos sindicatos da função pública e as devoluções de salários ou de tempo de serviço da função pública que se impuseram no debate nacional. A iniciativa privada, os trabalhadores do sector privado e a sociedade que vive fora da égide do Estado tiveram a um papel secundário.
Nem o PSD nem o CDS foram capazes de falar pelo país que existia para lá do legítimo discurso reivindicativo do Bloco ou do PCP. Se houve alguém capaz de introduzir na equação uma ponta de moderação ou a apologia do rigor nos gastos do Estado tão caro à direita foi o PS, que desta forma se tornou o partido glutão de todas as expectativas do grande centro. A derrota severa do PSD e do CDS explica-se em primeiro lugar por essa demissão.
O trauma de governar com a troika deu origem a um complexo de culpa. E, ao tentarem ser o que não é o seu eleitorado natural, subalternizam-se — daí a importância do caso dos professores. Reduzidos a menos de 30%, os dois partidos surgem fracos e com dificuldade de voltarem à sua essência programática. Tornaram-se descartáveis.
Os danos podem ser irreversíveis. Portugal precisa de saber como criar riqueza para a poder distribuir. Precisa de falar de incentivos às empresas, de competitividade, de exportação, de choques de gestão ou de tecnologia. Com a direita fraca e com medo de o ser, o país arrisca-se a voltar a ser palco dos servidores do Estado. A prazo, a factura poderá ser pesada.