As velhas lojas voltaram a ser moda e há um site para não as esquecermos
Governo lança plataforma na internet com informação sobre lojas e entidades reconhecidas e protegidas. Para já estão lá espaços de Lisboa, Porto, Coimbra, Fundão e Funchal, mas a ambição é ter todo o país.
O que une a gelataria Veneziana, em Lisboa, à Casa da Mariquinhas, no Porto, ou à Fábrica de Santo António, no Funchal? E o que terão em comum a Real República Rapó-Taxo, em Coimbra, e a Empresa Martins, agência de viagens do Fundão?
Todas são consideradas entidades com interesse histórico, cultural ou social pelas respectivas autarquias e todas surgem, a partir desta quarta-feira, na plataforma online Comércio com História. Promovido pelo Ministério da Economia, este novo site mostra a nível nacional informação que tem estado dispersa até agora, espalhada pelas câmaras municipais que já têm iniciativas de protecção dos seus comércios mais emblemáticos.
Trata-se, segundo o secretário de Estado da Defesa do Consumidor, de “uma plataforma-chapéu que põe o inventário nacional destes estabelecimentos acessível a qualquer cidadão”. João Torres explica que o site decorre da aprovação pelo Parlamento, em 2017, de um regime jurídico que reconhece e protege os chamados “Estabelecimentos e Entidades de Interesse Histórico e Cultural ou Social Local”. Esse reconhecimento compete às autarquias e pode traduzir-se em benefícios fiscais, em apoios à modernização do negócio ou mesmo à protecção contra despejo.
O Comércio com História compila a informação já disponível e apresenta-a em português e inglês. A plataforma tem, para já, dados dos concelhos de Lisboa, Porto, Funchal, Coimbra e Fundão, com um total de 172 negócios, mas a ambição é crescer à medida que outras autarquias forem criando iniciativas do género.
Ali se encontram espaços comerciais como a Tabacaria Martins, a Livraria Ferin ou a Bertrand, em Lisboa, a Lello, a Papelaria Modelo ou o Bazar Paris, no Porto, a Barbearia Turista ou a Farmácia Portuguesa, no Funchal. O Fundão ainda só está representado por um estabelecimento (a já referida Empresa Martins) e em Coimbra só se encontram, para já, repúblicas de estudantes.
Lisboa, que lançou há quatro anos o programa Lojas com História, foi a primeira câmara do país a classificar e proteger o seu comércio, embora isso não a tenha livrado de críticas de já ter chegado tarde, pois muitas lojas emblemáticas da cidade fecharam nos últimos anos, por vários factores. A câmara do Porto aprovou no início deste ano o regulamento para o seu próprio programa, o Porto de Tradição, que distinguiu 75 lojas. Já o município do Funchal reconheceu, em Fevereiro, as primeiras seis lojas do seu programa Lojas com História, enquanto Coimbra começou no ano passado o processo para proteger comércios e repúblicas de estudantes.
O Comércio com História vai buscar inspiração, no design e organização interna, ao site das Lojas com História lisboeta. Os estabelecimentos surgem divididos por 12 categorias – desporto, restauração, ourivesarias, cultura, etc. – e cada um tem uma ficha que inclui um breve resumo histórico, a localização, o tipo de produtos comercializados, o horário e os contactos.
João Torres diz que hoje “os consumidores estão mais sensíveis” para “a importância do nosso comércio local e de proximidade”, que, segundo o secretário de Estado, tem características cada vez mais valorizadas: a oferta nacional, a preocupação com a sustentabilidade e a economia digital. “É muitas vezes nestas lojas que podem ser encontrados produtos nacionais e vendas a granel”, exemplifica. Com o lema “De portas abertas para o futuro”, o Comércio com História ainda só funciona como directório de negócios, mas não está excluída a hipótese de poder vir a ser também uma plataforma de vendas. “Queremos demonstrar que o nosso comércio está preparado para os desafios do presente e do futuro”, afirma João Torres.
A apresentação da plataforma é esta quarta-feira na Livraria Ferin, no Chiado, em Lisboa, com a presença do ministro da Economia e das ministras da Cultura e da Presidência e Modernização.