Finisterra leva o turismo do mundo a Sesimbra, filme a filme
São mais de 100 produções de 50 países na 8.ª edição do festival Finisterra Arrábida Film Art & Tourism. Um evento dirigido “com paixão” por Carlos Sargedas e que pretende também divulgar a região como cenário ideal para filmagens. A entrada é livre de 28 a 31 de Maio.
Por estes dias, é possível dar mil e uma voltas ao mundo sem sair do Cineteatro João Mota, em Sesimbra. Há até quem assim decida as suas viagens, viajando pelos destinos através dos mais variados filmes de curta e média duração apresentados no festival Finisterra. “Há um casal, os dois à volta dos 70 anos, que vem cá. E eles dizem-me ‘É aqui que escolhemos as férias, é melhor do que nos catálogos das agências’. Tiram apontamentos e tudo”, conta à Fugas Carlos Sargedas, o fotógrafo e realizador a quem se deve a criação e continuação deste festival de filmes turísticos ao longo de oito edições. “Isto é quase um filho para mim, tenho uma dedicação brutal a isto”, diz-nos. Não há quem duvide.
Pelo Finisterra Arrábida Film Art & Tourism, de 28 a 31 de Maio, passam em várias sessões vespertinas e nocturnas 105 filmes promocionais ou documentais que concorrem em representação de meia centena de países. Incluindo 25 produções portuguesas, “o maior número de sempre”, sublinha Sargedas. Em paralelo, o foco estará sobre a Turquia, país convidado e que, através da sua embaixada em Portugal e Ministério da Cultura e Turismo turco, apresenta uma exposição de fotografia sobre o país na Biblioteca Municipal de Sesimbra.
Mas a exibição dos filmes a concurso não é o único mote do festival. Aproveitando a presença de dezenas de realizadores, produtores, jornalistas e outros profissionais do sector vindos de várias partes do mundo, o Finisterra dedica-se também a promover a região, tanto turisticamente como “cenário ideal” para filmagens.
“Além da promoção directa feita pelos próprios dos locais, com fotos e vídeos”, explica Sargedas, ele próprio fotógrafo e realizador (já premiado internacionalmente graças ao Cabo Espichel, monumento e tema), “queremos pôr esta gente a imaginar fazer aqui cinema”. Foi por isso, também, que nasceu a Arrábida Film Association, presidida por Sargedas, e que se destina a promover e apoiar produções aqui. “Na última década tivemos mais de uma dezena a filmar aqui, entre franceses, americanos, italianos ou alemães”, exemplifica.
É com esse objectivo em mente que o festival leva a cabo a Sesimbra Experience e incita os participantes internacionais no festival a conhecerem as “maravilhas” da zona, “o melhor que a região tem para oferecer, quer a nível cultural, como paisagístico e gastronómico”. O que pode querer dizer “provar o melhor peixe do mundo”, “participar na pesca artesanal da arte xávega”, comer “uma caldeirada na lagoa de Albufeira” ou ficar de boca aberta com o portinho da Arrábida, o cabo Espichel ou as pegadas de dinossauro ou até, novidade este ano, com as cegonhas da Quinta do Conde.
O festival cria também “uma forte componente de networking”, adianta Sargedas, por lá se viver um “ambiente informal”. “Isto aqui não é um festival de gravatas”, remata logo o director do certame. “Assim que chegam, aviso logo que estamos numa praia, toca a tirar os sapatos e as meias”, conta entre umas boas gargalhadas.
Exemplo dos resultados deste ambiente é o caso do presidente do júri este ano, Jaswant Shrestha, nepalês de origem e com carreira na Índia e nos EUA: de actor a produtor e realizador, incluindo um documentário sobre os Himalaias ou a apresentação de um programa de viagens, com direito a vários prémios e nomeações em festivais (até três nomeações nos Emmy, na sua versão Heartland Chapter). Shrestha tem andado a filmar não só a região de Sesimbra e Arrábida mas também outros pontos de Portugal e conta com o apoio no terreno de profissionais que conheceu através do Finisterra – o objectivo passa por criar vários programas de viagens, explica-nos Sargedas, que, aliás, conheceu Shrestha quando foi “receber um prémio num festival a Hollywood”.
Um dos pontos fortes do certame, sublinha o responsável, é ser um território fértil para criadores independentes. “Aceitamos BBC, National Geographic, mas o que dá gozo é convidar os independentes, que muitas vezes ninguém conhece ou que ganham destaque aqui.” Bons exemplos serão, diz, os portugueses Luís Quinta ou Pedro Carvalho, mas também Kirill Neiezhmakov, especializado em time-lapses, que após a sua presença aqui a convite de Sargedas criou um vídeo sobre Sesimbra e Portugal que se tornou viral – é hoje em dia, aliás, uma celebridade mundial dos time-lapses (e também está presente nesta edição).
A 30 de Maio conhecer-se-ão os vencedores desta edição do Finisterra. E haverá vários, repartidos pelas categorias inerentes a qualquer certame similar (melhor filme, realizador, etc.) e outras com o seu quê de inovadoras, como a de melhor filme com drone. “Fomos o primeiro festival do mundo a criar esta categoria”, garante Sargedas, para quem, assumidamente, o Finisterra é uma “paixão”. Próximo sonho? “Internacionalizar” o certame, conseguir levá-lo “ao Brasil, Espanha, Moçambique ou EUA”. Ou seja, levar o festival dos filmes de turismo a viajar.