PS aguenta-se, PSD e CDS afogam-se, PAN estreia-se
O PS ganha sem subir muito, mas a vitória é clara perante as derrotas do PSD, do CDS e do PCP. Rio tem o pior resultado percentual da história do PSD. A surpresa da noite foi a eleição de Francisco Guerreiro, do PAN.
O PS ganhou as eleições europeias com 33,39% dos votos, elegendo nove deputados e aumentando a sua representação no Parlamento Europeu. O derrotado destas eleições é o PSD, que se ficou pelos 22,15%, embora mantendo seis representantes. A estreia na eleição de eurodeputados é o PAN, que obteve 5,05%, e elegeu Francisco Guerreiro numa consulta às urnas em que as forças de direita em Portugal saíram derrotadas.
O terceiro partido nestas eleições é o BE, que obtém 9,79% dos votos e dobra a sua representação, elegendo dois deputados. Segue-se a CDU, com 6,70%, que é um dos derrotados da noite e perdeu um dos três deputados que elegeu há cinco anos. Já o CDS desce para quinta força política portuguesa no Parlamento Europeu, ficando com 6,20% e mantendo um eurodeputado.
Na correlação de forças entre esquerda e direita, fica clara a subida da esquerda em relação às últimas legislativas. A maioria de esquerda das legislativas de 2015 — em que PS, BE e CDU atingiram 50,75% — mantém-se.
Começaram as legislativas
Ainda não eram 22h, e não eram conhecidos resultados oficiais das europeias, já o presidente do PS, Carlos César, lançava a campanha eleitoral para as legislativas de 6 de Outubro. “Esta grande vitória corresponde a uma grande derrota do PSD e do CDS — a uma grande derrota da direita”, afirmou Carlos César, para chamar à colação as legislativas: “[Este resultado] dá razão no sentido do entusiasmo, na energia que ganhámos com os resultados destas eleições, para disputarmos com uma vitória as próximas eleições legislativas.”
Fechando a noite eleitoral e depois de os cabeças de lista e os líderes dos principais partidos terem falado, foi a vez de o secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, assumir a vitória nas europeias. Além de voltar a afirmar que quer levar para a União Europeia o tipo de aliança política que existe em Portugal entre o PS, o BE, o PCP e o PEV, Costa elogiou o trabalho do seu Governo, como que a apontar para a continuação deste tipo de acordo após as legislativas.
Antes de os socialistas terem cantado vitória, Marisa Matias assumiu a vitória do BE. Salientando que o BE é “a terceira força política” do país, Marisa garantiu que “o mapa político da esquerda está a mudar”. Mais tarde seria a vez de a coordenadora do BE, Catarina Martins, cantar vitória e saltar para a corrida eleitoral das legislativas. “O Bloco de Esquerda teve um grande resultado nestas eleições”, afirmou, defendendo que a esquerda tem de estar “à altura das expectativas”.
A derrota do PSD foi assumida pelo presidente do partido, Rui Rio, depois de o cabeça de lista, Paulo Rangel, ter dado a cara pelo desaire. “Não atingimos os objectivos pretendidos nesta eleição”, afirmou Rui Rio, sublinhando que o PSD deve “reconhecer os erros de hoje”. E falando também ele já para a próxima campanha, Rio defendeu que “ou o PSD chega como alternativa às legislativas ou não há alternativa ao PS em Portugal”.
A derrota do CDS foi assumida pessoalmente pelo cabeça de lista, Nuno Melo: “Se há alguém que vai ser julgado, sou eu.” E garantiu que o CDS está “unido”. Antes, a líder do CDS, Assunção Cristas, deu a cara pela derrota.
Um desaire eleitoral assumido mais cedo foi o da CDU. O cabeça de lista, João Ferreira, procurou encontrar justificações para a derrota da coligação liderada pelo PCP, afirmando que houve “uma óbvia menorização e desvalorização” desta coligação, lembrando, sem as citar, notícias sobre o PCP, ao considerar que a CDU “teve mesmo de enfrentar campanhas difamatórias que alimentaram preconceitos”.
Vencedores da noite
O PS, cuja lista era encabeçada por Pedro Marques, sobe em percentagem em relação há cinco anos, quando o PS teve 31,46% e 1.033.158 votos, subindo de oito para nove eurodeputados. Já em relação às últimas legislativas, o PS tem também uma subida em termos percentuais, tendo obtido 32,31% dos votos em 2015.
Também vitorioso é o BE, que, além de Marisa Matias, elege também José Gusmão. Com 9,79%, o BE descola-se dos 4,56% que obteve há cinco anos e passa de um para dois representantes no Parlamento Europeu.
A surpresa da noite é a eleição de Francisco Guerreiro, do PAN, com 5,05%. Há cinco anos, o Pessoas-Animais-Natureza teve 1,72% nas europeias, mas este partido tinha já conseguido eleger André Silva para a Assembleia da República, nas legislativas de 2015.
Derrota de Rio e Cristas
O principal derrotado da noite é o PSD de Rui Rio, que, ao ficar-se pelos 22,15%, tem o pior resultado da vida deste partido, e não apenas o mais baixo em europeias em que concorre sozinho. Até agora, o pior em eleições para o Parlamento Europeu fora há dez anos, em 1999, quando obteve 31,11%, elegendo então nove dos 25 eurodeputados portugueses ao Parlamento Europeu.
Um mau resultado que, mesmo assim, foi ultrapassado há cinco anos, quando o PSD integrou com o CDS a coligação Portugal à Frente e obteve 27,71%, elegendo sete deputados, um dos quais centrista. Agora, o PSD fica abaixo de qualquer destes resultados e tem o pior desempenho do partido em eleições de âmbito nacional: 24,35% nas primeiras legislativas em 1976, com Sá Carneiro; 27,24% em 1983, com Mota Pinto; 28,77% em 2005, com Santana Lopes.
O CDS baixa o seu resultado eleitoral para o Parlamento Europeu para 6,20%, reelegendo apenas Nuno Melo. É assim um dos derrotados das europeias, não cumprindo o objectivo expresso pela sua líder, Assunção Cristas, de dobrar a representação deste partido. Em termos percentuais, o CDS tem um mau resultado face ao que teve há dez anos, última vez em que concorreu: 8,37%, elegendo dois representantes. O pior resultado do CDS em europeias até este domingo fora 8,16% em 1999 — dois eurodeputados.
Também a CDU é perdedora, mantendo a tendência de queda que vem das autárquicas de Dezembro de 2017, em que perdeu dez câmaras. Agora baixa dos 12,68% há cinco anos para 6,70%, e perde um deputado, elegendo apenas João Ferreira e Sandra Pereira.
Mais eleitores, mais abstenção
Uma das novidades destas europeias foi a explosão da abstenção em termos percentuais, já que atingiu quase 69%. Há cinco anos, a abstenção total foi de 66,16%, a mais alta até então registada em eleições democráticas em Portugal.
Só que este aumento da abstenção deve-se ao crescimento do universo eleitoral provocado pelas alterações legais que introduziu o recenseamento automático dos portugueses no estrangeiro através do cartão de cidadão, a qual aumentou em 11,4% o universo eleitoral destas europeias. Isto porque para estas europeias estão recenseados 10.817.999 eleitores, contra os 9.702.657 de há cinco anos.