CDU perde um deputado. Para Jerónimo é um “sinal de alerta”: “Querem andar para trás?”
Secretário-geral comunista admite a fuga de votos para o PS e que teve um “resultado negativo” — algo inédito em noites eleitorais. E dramatizou o cenário para as legislativas.
Ao contrário do local escolhido — o Centro de Trabalho Vitória —, a noite da CDU e do PCP foi de derrota. Mas essa é palavra proibida entre os camaradas. Por isso, cedo se começaram a desenhar os argumentos, trazidos primeiro pelo candidato João Ferreira, pelas 21h, quando ainda apenas havia projecções — o que lhe deu bastante jeito para recusar fazer qualquer análise para o futuro —, depois pelo secretário-geral do PCP, já depois das 23h10. A CDU obteve assim o resultado mais baixo de sempre em europeias.
Mas foi um Jerónimo visivelmente agastado que veio discursar. Uns escassos seis minutos para admitir o inegável: “É um resultado negativo, admitimos.” E para o qual a direcção do partido vai olhar com atenção, prometeu. “É uma dificuldade para a nossa intervenção e para a nossa luta.” No entanto, um comunista nunca desiste. “Mas permitam-me que use esta expressão: em termos de eleições, nada está perdido para todo o sempre. (...) Não é um resultado eleitoral que abala as nossas convicções de estarmos com o povo, seja nas horas boas, seja nas horas más.”
O líder comunista até admitiu o abraço de urso que o PCP nitidamente está a sofrer desde 2015 — veja-se a quebra nas autárquicas de 2017. Questionado sobre a fuga de votos da CDU para o PS por causa do apoio parlamentar que lhe dá nesta legislatura, Jerónimo aquiesceu: “Naturalmente pode ter influenciado muitos portugueses que, depois numa fase de medos e dramas, de repente ficaram mais aliviados, e que perante o PCP e CDU tenham feito outras opções de voto.”
Antes, porém, o líder comunista dramatizara sobre o resultado, afirmando que “é a defesa do povo e do país que sai fragilizada”, atirando já o aviso para as legislativas de Outubro — como que a afastar a nuvem de uma possível maioria absoluta socialista. Essas eleições serão um “momento decisivo para determinar o rumo da vida nacional e do povo português” e advertiu que este resultado negativo da CDU deve “constituir um sinal de alerta para todos os que têm o poder de decidir se querem fazer avançar o país ou querem andar para trás e perder o que se conquistou?”.
Tal como se ouviu durante toda a campanha da CDU, Jerónimo citou vários exemplos de medidas aprovadas nestes três anos e meio, dos salários às pensões, da saúde à educação. E desenhou já no chão as linhas de partida para a corrida dos próximos meses, que requerem a “necessidade da luta contra as normas gravosas da lei laboral, a desregulação dos horários de trabalho, o aumento geral dos salários (incluindo do salário mínimo para 850 euros)”, ou o investimento nos serviços públicos. O empenho dos comunistas nos próximos meses tem de ser o de “ampliar a consciência de mais portugueses” para os riscos de um maior poder de PS de “mãos livres”, apontou o secretário-geral do PCP. O aviso a Costa está feito.
Jerónimo de Sousa culpou a “intensa e prolongada acção meticulosa de sectores mais reaccionários” da sociedade portuguesa” nos últimos meses para “menorizar as perspectivas eleitorais da CDU com a descarada promoção de outras forças políticas”. Depois de uma campanha em que João Ferreira apenas apontou o dedo à comunicação social uma vez em duas semanas (facto inédito na CDU), ambos haviam de trazer para a sala a campanha de “mentira, desvalorização e apoucamento” da CDU, do PCP e de alguns dirigentes — todos tinham na mente os negócios do genro do líder comunista com a Câmara de Loures.
A isso, João Ferreira tinha juntado, pelas 21h, o facto de em 2014 ter conseguido um resultado histórico de 12,69% e três eurodeputados — o melhor desde 1989 em percentagem, e desde 1994 em deputados — devido ao facto de o país estar então ainda sob o jugo da troika. E lembrou também que o PCP já teve apenas dois eurodeputados quando Portugal tinha 24 ou 25 cadeiras no Parlamento Europeu.