Há sucessos que deixam sequelas. Sequelas, efeitos secundários e danos colaterais. A incursão jornalístico-ficcional nos interstícios da Camorra que o jornalista Roberto Saviano (n. 1979) publicou em 2006, intitulada Gomorra, foi um fenómeno planetário de vendas (creio que é assim que se diz), com direito a série televisiva e a filme premiado em Cannes e tudo. Valeu-lhe também a histriónica inimizade da máfia napolitana e o autor passou a andar sob escolta policial, acabando por sair de Itália. Dez anos depois, voltou ao tema, com Os Meninos da Camorra, o terceiro livro publicado por Saviano e o primeiro assumido como sendo inteiramente ficcional. Este também resultou em filme, cujo argumento foi, aliás, premiado com um Urso de Prata no último Festival de Berlim. Em 2017, o autor reincidiu, com a publicação de Beijo Feroz, uma sequela do livro anterior. A rapaziada napolitana sai bastante desfalcada no novo romance, mas não é improvável que Saviano venha a presentear os seus leitores mais fiéis e insaciáveis com uma sequela desta sequela, pois o presente volume termina com esta promissora interrogação, feita por um moço da mais tenra geração: “Malta, vamos fazer uma paranza só nossa?”
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