Ondas de calor e vários dias com 43ºC? “Não há carácter científico” nessas previsões

Accuweather prevê que o próximo Verão em Portugal terá ondas de calor prolongadas e vários dias com 43 graus. Especialista diz que falta uma base científica às previsões deste site.

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Miguel Manso/arquivo

O Verão poderá trazer “perigosas ondas de calor” que se vão propagar da Península Ibérica à Europa Central, avançou esta semana o site especializado Accuweather. Vem aí um Verão escaldante? Especialistas em meteorologia alertam para o facto de tais previsões se basearem em probabilidades e pedem que se evitem alarmismos.

O popular site de meteorologia norte-americano Accuweather prevê que o próximo Verão em Portugal e Espanha terá ondas de calor prolongadas, com os termómetros a chegarem aos 43 graus Celsius durante vários dias. No entanto, Alfredo Rocha, professor de meteorologia e clima da Universidade de Aveiro, explica que não é possível tirar conclusões concretas “sobre o que vai acontecer” numa determinada semana ou dia dos próximos meses de Verão. “Isso é tudo especulação”, resume ao PÚBLICO.

Referindo as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para as próximas semanas e para os próximos meses, “as únicas que devemos considerar actualmente”, Alfredo Rocha sublinha que a única conclusão a tirar “é que há uma probabilidade relativamente elevada de o próximo Verão – os meses de Julho, Agosto e Setembro – ter uma temperatura média acima do normal, acima do passado histórico recente”, tal como avançou o IPMA ao PÚBLICO.

“É provável que este Verão venha a ser mais quente do que o anterior”

Para fazer previsões a longo prazo usa-se “algum conhecimento das previsões a curto prazo” e estatística referente aos anos anteriores, explica Alfredo Rocha.

O IPMA faz previsões que vão além de um mês, mas com vários avisos a quem as consulta. Como salienta no seu site, “não obstante os avanços científicos que vêm sendo registados, a análise e interpretação dos sinais fornecidos pelos modelos para o longo prazo devem ser efectuadas tendo presente que se trata de produtos ainda em fase de desenvolvimento e que fornecem indicações baseadas em probabilidades de ocorrência e sem carácter determinístico”.

“O que podemos dizer também é que, estatisticamente, sabemos que as temperaturas estão a aumentar”, sublinha Alfredo Rocha.​ “​E, portanto, é muito provável que este Verão venha a ser mais quente do que o Verão passado ou que, em média, os verões daqui para a frente venham a ser mais quentes do que os anteriores. O que não quer dizer que todos os anos isto venha a acontecer.”

“Há uma tendência projectada para o futuro para haver cada vez mais ondas de calor”, assim como mais dias com temperaturas mais elevadas, reconhece. Porém, destaca o especialista, ainda é cedo para avançar com tais previsões para este Verão.

Sobre as previsões “com um horizonte temporal de até um mês ou mês e meio” – elaboradas também em termos de probabilidades –, divulgadas pelo IPMA, “o que nos dizem é que, para as próximas [duas] semanas, há uma expectativa de termos temperaturas acima do normal”. “Mas para as últimas duas semanas [do mês que começa agora], até ao dia 20 de Junho, já não se pode dizer nada sobre o que vai acontecer em termos de temperatura”, avisa.

“Dar a informação de forma útil sem entrar em alarmismos”

Para Alfredo Rocha, falta uma base científica às previsões avançadas pelo Accuweather. “Em termos de meteorologia e do clima, tudo o que não refira concretamente institutos de meteorologia ou centros regionais de meteorologia e clima como o Centro Europeu de Previsão do Tempo ou que não refira artigos científicos que foram validados por colegas autores não tem validade quando se faz uma afirmação com carácter científico”, diz.

Por isso, o especialista lembra que é necessário “dar a informação de forma útil [e rigorosa] mas sem entrar em alarmismos”. Caso tais episódios (como as ondas de calor) não ocorram – e “há alguma probabilidade de isso acontecer, como de não vir a acontecer” –, corre-se o risco de cair em “falsos alarmes” e de levar a uma desacreditação por parte do público.

Concluindo: uma previsão “com um horizonte de alguns dias é muito mais confiável do que uma previsão estatística para daqui a alguns meses”, visto que a última corresponde a uma antecipação “muito mais qualitativa (…), não tão objectiva e determinística”.

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