Costa vai ao coração da esquerda com saúde, habitação, sindicatos e Tsipras

Costa suavizou ataques aos parceiros do Governo, mas apelou ao voto dos arrependidos de 2015, que percebem agora que o PS deveria ter tido mais força. Assis esteve no comício, mas entrou mudo e saiu calado.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES

O tom foi diferente do usado em Setúbal na noite anterior. Não foi de ataque, não foi de aviso. O tom adoptado esta quinta-feira por António Costa em Matosinhos foi de diferenciação, mas sem mencionar os seus parceiros de Governo, apelando ao voto naqueles que nas legislativas de 2015 não votaram PS - porque “o voto faz a diferença” e “não convém correr o risco de não votar e de os outros votarem por nós”.

A dramatização no combate à abstenção tem no entanto efeitos colaterais à esquerda. Referindo as eleições de 2015, quando só com os votos de PCP, PEV e BE conseguiu formar Governo, Costa deixou no ar a ideia, de forma indirecta, de que teria valido a pena tê-lo deixado fazer isso sozinho. “Muitos daqueles que na altura acharam que não valia a pena votar, hoje sabem que teria valido a pena votar e ter dado mais força ao PS, para que o PS tivesse ainda mais força para fazer o que fizemos ao longo destes três anos”, disse.

Mas não foi a única referência à esquerda, nem a única tentativa de falar ao coração dos eleitores daquele lado do espectro político. No discurso para uma sala cheia em Matosinhos, António Costa fez questão de lembrar que esteve esta terça-feira no congresso da confederação de sindicatos europeus. Desta vez, preferiu dar ênfase a esta visita ao mundo dos sindicalistas, referindo tanto a UGT como a CGTP, com quem esteve nesse encontro. Foi “uma enorme satisfação ter sido convidado”, começou por dizer, para relatar “como foi possível, com contas certas, ter políticas de crescimento económico e protecção social”.

Antes deste encontro, Costa reuniu-se em França com Emannuel Macron, mas no comício desta noite, e ao contrário do que fez na quarta-feira, não se focou nesta conversa com o Presidente francês, mas recordou o “orgulho” que tem de ter o apoio de Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, da família política do BE. A estratégia de falar para todos, primeiro para a direita e depois para a esquerda, foi sintetizada pelo candidato Pedro Marques no comício: “Do Financial Times à confederação dos sindicatos, todos falam da nossa via, do emprego, do combate à pobreza e da responsabilidade orçamental”, sintetizou o candidato. 

Se na quarta-feira se focou sobretudo nas políticas europeias que o distanciam de PCP e BE, referindo-se directamente aos parceiros, esta quinta-feira, na recta final da campanha, Costa preferiu responder-lhes com políticas nacionais, que quer exportar para o plano europeu. “Não temos gerido as finanças só para ter menos défice e dívida, temos feito isso para termos condições, ano após ano, para aumentar o investimento público, para fazer as infra-estruturas de que o país precisa, para repor a capacidade de financiamento do SNS”. De uma assentada, respondeu a três argumentos de comunistas e bloquistas, que acusam o Governo de ter um défice perto de zero quando poderia ser um pouco mais alto desviando essa margem para investimento público nas áreas essenciais, como a saúde e a educação.

Não seria o único tema caro à esquerda a abordar. Referindo a conversa que teve com os sindicatos, lembrou que os socialistas se têm batido por “uma nova política de habitação”. “No programa do Partido Socialista Europeu está, pela primeira vez, uma proposta de um grande programa europeu de habitação. Proposta apresentada pelo PS português, pelo Pedro Marques”.

Houve uma passagem do discurso em que o secretário-geral do PS se virou para a direita, sobretudo sobre a política contra as alterações climáticas. “Eu vi recentemente PSD e CDS dizerem que também defendem o combate às alterações climáticas. No entanto, disse, travaram o “projecto de mobilidade eléctrica e votaram contra o mais poderoso instrumento que é a nova geração de passes únicos que diminuiu o custo para as famílias e promove a mobilidade”.

Costa foi o último a falar num comício de campanha em que entrou o oitavo ministro em acção, Augusto Santos Silva. O socialista, ministro dos Negócios Estrangeiros, foi a Matosinhos dizer que “o voto certo no PS quer dizer não aos aventureirismos, não aos radicalismos, aos extremismos”. “Connosco ninguém cometeu a imprudência de dizer “não pagamos a dívida”, ou “queremos sair do euro”, ou “queremos pôr em causa a União Europeia”. O voto no PS é o voto não só daqueles que querem a Europa, como também daqueles que percebem que políticas moderadas, políticas orçamentais rigorosas e políticas sociais progressistas são possíveis na União Europeia”, acentuou.

O ministro dos Negócios Estrangeiro reiterou também a posição do secretário-geral do PS, António Costa, de que os socialistas devem “liderar a frente progressista europeísta” contra a extrema-direita, mas introduziu a observação de que, no Parlamento Europeu, por vezes, os dois extremos votam da mesma maneira. “A extrema-direita não se combate com extremismo. Nenhum eurodeputado do PS juntará o seu sentido de voto ao da extrema-direita”, assegurou, antes de criticar as lógicas “de aventureirismo” à esquerda dos socialistas.

Francisco Assis, o cabeça de lista do partido em 2014 que agora saiu das listas, esteve no jantar sentado ao lado de Costa e Marques, mas não falou. A comitiva socialista chegou a dizer que o eurodeputado estaria com Pedro Marques na descida de Santa Catarina, mas este não apareceu.

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