Gandhi assume a derrota do Congresso, mas o partido não quer que se demita

O partido dos Gandhi sofreu um segundo desaire em eleições legislativas na Índia com Rahul ao comando. Há quem pergunte se não chegou o momento de a dinastia libertar o partido.

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Rahul Gandhi EPA

Três altos responsáveis do Partido do Congresso, entre eles o presidente regional do Uttar Pradesh, apresentaram esta sexta-feira a demissão devido aos maus resultados nas eleições indianas. Porém, fontes do partido disseram que não devem ser aceites – assim como não será aceite a demissão do presidente do partido, Rahul Gandhi, caso venha a fazê-lo.

O resultado das eleições foram divulgados na quinta-feira e apesar de o Congresso ter conseguido eleger 52 deputados ao Parlamento de Nova Deli (mais oito do que tinha), foi esmagado pelo partido nacionalista hindu BJP, do primeiro-ministro Narendra Modi, que elegeu mais de 300.

Para o chefe do partido no Uttar Pradesh, Raj Babbar, o resultado é “deprimente”, citava o jornal Hindustan Times. E, assumindo a responsabilidade, demitiu-se.

O Uttar Pradesh é um estado crítico na política indiana. É o que mais população tem e é o que mais deputados elege (80 em 545). Por isso, é olhado como o barómetro político da Índia. Oito dos 14 primeiros-ministros indianos – entre eles Jawaharlal Nehru, a filha Indira Gandhi e o neto Rajiv Gandhi – eram deste estado. Devido à importância do estado, foi pelo Uttar Pradesh que Modi se candidatou em 2014, apesar de ser do Gujarat.

Babbar assumiu a “culpa” – foi a palavra que usou - pela derrota do partido como um todo, mas também pela não-eleição do presidente do partido, o herdeiro de Nehru, Indira e Rajiv, Rahul Gandhi.

Há 15 anos consecutivos que os Gandhi garantiam a eleição por Amethi, no Uttar Pradesh, e Rahul perdeu esse lugar. Por isso, muitas vozes questionavam esta quinta-feira se o presidente do partido ia também demitir-se. E perguntavam se depois do desaire de 2014 e do resultado “deprimente” de quinta-feira, chegou ao fim o tempo da hegemonia da dinastia no Congresso, o partido que personificou a luta pela independência da Índia, conseguida em 1948 após a saída dos britânicos.

“Mas tal como aconteceu no passado, todas estas questões estavam a ser feitas de fora do partido e devem ser rejeitadas pela liderança”, escreveu Geeta Pandrey, da BBC. “O Congresso não vai pôr em causa a liderança ou aceitar a demissão de Gandhi, se ele a oferecer”, disse um dos membros do partido, Mani Shankar Aiyar à BBC Hindi.

Outros responsáveis fizeram declarações semelhantes a jornais indianos e a nota comum é que a responsabilidade pelo desaire não deve ser atribuída a Rahul Gandhi mas à “marca Modi”, o primeiro-ministro carismático que galvaniza multidões, ao contrário do presidente do Congresso, cuja aptidão para a política é questionada pelos analistas desde o primeiro dia.

Rahul Gandhi já assumiu a responsabilidade pelo mau resultado. Mas nada disse sobre que estratégia vai adoptar o partido, muito criticado pela falta de renovação da sua liderança, onde domina uma velha guarda com que a maioria do eleitorado, que é jovem, não se identifica. E para quem os Gandhi e o papel que ocuparam na luta contra a presença britânica e na solidificação do país independente pouco significa – são uma dinastia de importância remota.

Gandhi foi questionado sobre a hipótese de se demitir, mas respondeu laconicamente: “Essa decisão é entre mim e o comité”.

“Quero dizer a toda a população da Índia que acredito na ideologia do Congresso e que não tenham medo, tenham fé e vamos trabalhar juntos para sair desta situação”, disse Rahul Gandhi. “O amor nunca morre e estou certo de que vamos emergir fortes”.

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