}

Siza Vieira não esperava ter projecto em Nova Iorque aos 85 anos

Em Nova Iorque, em conversa sobre a sua carreira, o arquitecto confessou que não esperava o convite para projectar uma torre que terá a altura de 120 metros, 80 habitações de luxo e uma área de cerca de 16 mil metros quadrados.

Foto
Siza Vieira Ricardo Castelo\NFACTOS

O arquitecto Álvaro Siza Vieira disse, na noite de quarta-feira (madrugada em Lisboa), em Nova Iorque, que não esperava ter a oportunidade de construir nessa cidade aos 85 anos.

Siza Vieira esteve em conversa com o crítico norte-americano Paul Goldberger no Átrio David Rubenstein do Lincoln Center, a que assistiram cerca de 200 pessoas, sobre a carreira do aclamado arquitecto português.

“Para qualquer arquitecto, as hipóteses de construir algo em Manhattan são muito pequenas. Eu pensava que com a minha idade ninguém me ia convidar”, disse aquele que é responsável pela construção de uma torre residencial de luxo no Número 611 da Rua 56.

O projecto foi anunciado há quatro anos, como uma encomenda das empresas Sumaida+Khurana e LENY. Sabe-se que a torre terá uma altura de 120 metros, 80 habitações de luxo e uma área de cerca de 16 mil metros quadrados.

A proximidade de outros edifícios já existentes foi algo que o preocupou no início, mas, depois de desenhar um primeiro modelo, percebeu que tinha muitas outras condicionantes ao seu trabalho. Álvaro Siza disse que tem um engenheiro “fantástico” no projecto, com quem pode discutir todas as condições, necessidades e restrições de construção, como dar uma especial atenção à esquina do edifício, que se vai situar na intersecção da 56 com a 11.ª Avenida.

Durante a conversa disse que em vários trabalhos as referências aos edifícios nova-iorquinos eram frequentes, tendo acumulado conhecimentos sobre a construção da cidade, de tal forma que é como se este não fosse o seu primeiro trabalho em Nova Iorque.

“Quase que posso dizer que estava habituado a fazer trabalhos em Nova Iorque”, disse. Lembrou, porém, que a realidade de contactar pessoalmente com os engenheiros e outros arquitectos é incomparável com a quantidade de estudo que tenha feito em termos teóricos. É importante manter “o diálogo com as pessoas que vivem aqui, que trabalham aqui”, disse, para descobrir e perceber melhor os vários condicionantes na habitação que está a construir.

Álvaro Siza acrescentou ainda que Nova Iorque tem a “qualidade” de os prédios aparecerem de repente e independentes uns dos outros, e que as construções são muito diferentes umas das outras, sem um design comum que as alinhe e quase “sem preocupação pelo vizinho”, ao contrário das cidades antigas da Europa.

A conversa conduzida por Paul Goldberger focou-se em grande parte na sua carreira, desde a paixão pela escultura, os estudos em Arquitectura, os primeiros projectos e a fase de “paranóia da especialização” em habitação social, como referiu.

Questionado pelo público sobre o que gostava de construir que ainda não tenha feito, respondeu que ia sempre procurar fazer “outra coisa” e que ainda não desenhou um estádio de futebol, por exemplo. “Eu sempre achei que cada novo projecto ia ser interessante, e foi”, disse.

Álvaro Siza disse também que acredita na “continuidade da arquitectura” e que o ritmo de transformação da arquitectura altera-se com as gerações, porque os jovens da actualidade podem viajar mais, estudar com facilidade noutros países e comunicar através da Internet, oportunidades que não teve na juventude.