Portas dá a mão à campanha do CDS e pisca o olho ao eleitorado do PSD

Assunção Cristas diz que António Costa “não serve Portugal, serve-se a si mesmo” e que, “com a sua ambição cega, já está com os olhos na presidência do Conselho Europeu”.

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LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Paulo Portas cumpriu ontem a promessa que fez ao CDS quando deixou a liderança de 16 anos no partido: não interferia na vida política do partido, mas voltaria sempre nas campanhas. Nesta terça-feira, voltou mais uma vez e até piscou o olho aos eleitores do PSD para votarem nos centristas.

Num jantar em Cascais, muito participado, Portas nunca referiu o nome do partido liderado por Rui Rio, mas começou a sua intervenção dirigindo-se “à nossa área, aos eleitores não socialistas”.

“O país padece de um desequilíbrio excessivo a favor das esquerdas mais radicais e nunca a prosperidade de uma nação se construiu duradouramente com essas forças. É importante garantir que a moderação fique à frente da demagogia e que o senso comum prevalece sobre as utopias. Seria um bom sinal”, salientou. 

Seguiu-se uma longa reflexão, portas chamou-lhe “meditações”, sobre “os problemas que a União Europeia”, em nome do combate à abstenção. Falou nos extremos radicais de extrema-direita e da extrema-esquerda, nos populismos, no “Brexit, dos diferendos entre países e blocos, nas migrações, no mundo digital e sobre o comércio livre, mas acabaria por chegar às críticas ao Governo de António Costa.

Regressando ao tempo da crise financeira e aos tempos em que Aléxis Tsipras, o primeiro-ministro grego, que começou por recusar pagar as dívidas do país e era considerado “um herói”, Portas afirmou que agora “não faltam socialistas convertidos ao equilíbrio das finanças públicas”.

“Claro que reduzir o défice de mais de 11% para 3% dá um pedacinho mais de trabalho do que continuar até ao equilíbrio orçamental, mas o essencial é a trajectória. Posso discutir os meios? Claro, as cativações e os impostos são o novo nome da austeridade, mas não discuto o fim em si mesmo”, acrescentou.

“Quem sabe que Portugal tem uma dívida de 120% do PIB e que está consciente que o nosso país deve crescer mais de 3% para recuperar o atraso, sabe o valor que têm finanças saudáveis”, disse ainda. 

Para Paulo Portas “fica a sensação de que manipularam a indignação para proveitos práticos”, mas bem-vindos às contas saudáveis: “Quem não quer depender dos FMI da vida, dos seus acertos e dos seus erros, não endivida o país loucamente, ao ponto de o colocar na situação de ir pedir dinheiro para sobreviver.”

O antigo líder despediu-se dizendo que votou antecipadamente, no último domingo, por no dia da eleição se encontrar no estrangeiro: “Caro Nuno, cara Assunção, caro Luís Pedro [Mota Soares], o meu voto já lá está. Despeço-me como sempre fiz: que não vos falte a força, que não vos falte a fé.”

Cristas muito dura para Costa

Já Assunção Cristas usou a quase totalidade do seu discurso de 20 minutos para tecer fortes críticas ao Governo e ao primeiro-ministro. Repartiu reparos por quase todas as áreas de governação, mas as palavras mais duras foram mesmo para António Costa, dizendo “que não serve Portugal, serve-se a si mesmo”. “Mais uma vez só lhe interessa a sua própria vida”. “Os olhos de António Costa já não estão aqui. Com a sua ambição cega, já está com os olhos na presidência do Conselho Europeu”, afirmou.

Logo no início do discurso, a líder do CDS assumiu mais uma vez que para ela as europeias “são umas primárias das legislativas”, lembrando que é assim também para o primeiro-ministro. “Para nós este Governo já tinha saído. Porque é um Governo mau”, acusou.

E numa altura em que os dois primeiros candidatos da lista centrista às europeias, Nuno Melo e Pedro Mota Soares, já assumiram que o CDS deve deixar o centro político e recentrar-se como “o grande partido político da direita portuguesa”, Cristas dirigiu-se assim aos militantes: “Somos o grande partido do centro e da direita democrática que combate qualquer extremismo, seja de esquerda seja de direita”.

Nuno Melo, já depois Cristas, voltou a repetir as frases que diz frequentemente na campanha: “Nós somos a direita. (…) Nós somos a direita de tolerância de Portugal. (…) Nós somos a única direita”.

No jantar com mais de 500 pessoas estiveram antigos e actuais dirigentes e deputados, o presidente do senado do partido, António Anacoreta Correia e o antigo ministro da Economia, António Pires de Lima, que já tinha estado na campanha. 

Antes dos discursos foi exibido um vídeo que contou a história do partido, em que foram lembrados todos os lideres do CDS e que, no final, se transformou numa homenagem à cantora Dina, que faleceu recentemente e foi a autora do hino do partido.

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