Costa vai à luta pelos votos no PCP e no BE: “É melhor estarem numa solução de Governo do que numa posição de protesto”
Primeiro-ministro apelou ao voto útil no PS: o “voto de protesto” não serve para “derrotar a direita conservadora”. “Chegou a hora de uma frente democrata e progressista à escala europeia”.
António Costa nunca tinha sido tão claro nem tão directo no apelo ao eleitorado de esquerda no voto útil no PS, contra o “voto de protesto que não resolve problema nenhum”. Também nunca o tinha sido nas críticas aos parceiros de Governo em tempo de campanha eleitoral. O primeiro-ministro voltou ontem à caravana de Pedro Marques, depois de uma ida a França, para deixar conselhos em tom de aviso a PCP e BE: ele quer liderar uma frente europeia que junta várias famílias europeias e espera que os parceiros de Governo saiam da posição de protesto e se juntem.
“Julgava que os partidos que connosco há três anos construíram esta solução governativa já tinham percebido que mais vale estarem comprometidos com uma solução de Governo do que se manterem arredados numa mera posição de protesto. Infelizmente vejo que aprenderam em Portugal, mas ainda não aprenderam na Europa. Não temos a menor dúvida do que conta para as pessoas, não é o protesto, o que conta são as soluções concretas para a sua vida”, disse.
O aviso estava concertado com o cabeça de lista às europeias, Pedro Marques, que levou o dia a responder, em primeiro lugar, e depois a exigir explicações à esquerda sobre a posição dos partidos sobre o euro. António Costa validou esta estratégia do candidato e foi com o discurso armado para deixar clara a mensagem: o que quer é fazer na Europa uma “frente progressista”, o centro é ele e avisa os parceiros que é melhor fazerem parte da solução e não do problema.
Por partes. Costa puxa a si e só ao seu Governo — nunca aos parceiros — os louros pelo que foi feito em Portugal. Começa por dizer que se havia “muitos” que duvidavam do caminho do Governo, porque as políticas fariam com que Portugal quebrasse as regras e saísse do euro, “os outros” diziam que, para que a política que queriam fosse adiante, era preciso “começar por sair da Europa e do euro”. Está bom de ver que os “muitos” eram os partidos de direita e os “outros” os de esquerda. “Foi graças ao PS que não saímos da Europa, nem do euro e rompemos com a austeridade”, disse.
Se dúvidas houvesse, Costa desfê-las logo de seguida, quando avisou os parceiros que não é pelo protesto que lá vão e que o objectivo é que os dois partidos se juntem, tal como Alexis Tsipras, primeiro-ministro da Grécia, à tal “aliança progressista” para que seja possível a “grande família socialista e social-democrata formar uma grande frente de progresso e paz para virar a página da governação da direita conservadora”. “Tal como em Portugal conseguimos construir uma solução, também à escala europeia estamos a construir uma solução. Depois de anos e anos a direita conservadora ter governado a Europa em todos os domínios, chegou a hora de uma frente democrata e progressista à escala europeia que já provámos ser possível aqui em Portugal”.
O BE, por Marisa Matias, questionou a “aliança bizarra” que Costa que fazer “com os liberais de direita”, referindo-se à ideia do primeiro-ministro de que é necessária uma “aliança progressista contra a internacional da extrema-direita”. O PCP não falou do assunto, mas mesmo assim não se livrou de entrar no mesmo saco. Costa ouviu a bloquista e não foi simpático nos conselhos, muito menos no apelo ao voto útil no PS: disse “o voto de protesto não resolve nenhum problema a nenhum português e nenhuma portuguesa”. O primeiro-ministro estava embalado mas nunca usou a expressão “voto útil”: “O voto de protesto em nada contribui para derrotarmos a direita conservadora na Europa que PSD e CDS representam em Portugal, tal como derrotámos em Portugal”, referiu.
Essa “direita conservadora” em Portugal está viva, nas mentes dos socialistas, na pessoa de Passos Coelho. “Ao contrário do que desejaram, o diabo não veio, contudo Pedro Passos Coelho voltou”, disse Costa para gáudio dos mais de 1300 setubalenses que estavam no jantar comício. “Este regresso diz tudo, diz o que lhes vai na alma e como vêem o futuro. O que vêem é o retrovisor, é o país a andar em marcha-atrás”.