“Tanto faz que seja Joe Berardo ou este senhor”. Entre favas, Marisa Matias lembra que os votos têm todos o mesmo poder
Enquanto descascava favas e comentava o debate da última noite, Marisa Matias lembrou que os votos são todos iguais e assumiu que quer combater o desânimo com a União Europeia.
“Não é por se gritar mais que se tem mais razão.” Foi assim que Marisa Matias comentou o debate entre os candidatos do PS, PSD, CDS, PCP e Bloco de Esquerda, transmitido pela RTP na noite de segunda-feira, e durante o qual diz ter sido “muitas vezes interrompida”. Quem o nota também é a dona Madalena, uma das comerciantes do Mercado de Torres Novas, no distrito de Santarém, que esta manhã de terça-feira recebeu a visita dos bloquistas. “Eles não deixam, mas a gente tenta”, defendeu-se Marisa Matias, antes de vincar a sua participação em Bruxelas. “Olhe que eu no Parlamento falo mais”, afirmou.
Na comitiva esteve também a deputada Mariana Mortágua, que escolheu uma postura mais discreta na campanha com a candidata, deixando que fosse Marisa Matias a falar com os eleitores. A ponte entre a candidata do Bloco de Esquerda foi feita pela vereadora da Câmara de Torres Novas e antiga deputada bloquista, Helena Pinto, que esteve ao lado de Marisa durante toda a manhã.
No mercado, Marisa Matias concentrou-se em ouvir pensionistas e comerciantes que, por terem uma reforma baixa, são obrigados a trabalhar além da idade da reforma, para conseguirem fazer face às despesas do quotidiano. A eles, Marisa Matias pede que tenham força e promete continuar a lutar. Pega na mão a um, dá um abraço a outro. “Quer a minha mão? Não tinha percebido. Eu até costumo dar a mão. Está aqui, a mão toda. As duas agora”, disse a uma das idosas que fazia compras no mercado.
As mãos de Marisa Matias voltariam a ser o centro das atenções quando, uns passos à frente, parou junto a uma das comerciantes que envergava um autocolante do Partido Socialista – mas que não manteria por muito tempo. “Isto é dos outros? Achava que era vosso”, disse à aproximação das bandeiras bloquistas. Marisa Matias parou para falar com a comerciante e rapidamente se desfez a confusão. Atenta, a dona Madalena fez notar que conhecia bem a candidata e que até a tinha ouvido no debate da noite anterior, ainda que com alguma dificuldade, pela forma como os candidatos se atropelavam nas suas intervenções, apontou.
“Não é por se ser mais mal-educado que se chega às pessoas”, avaliou a candidata. “É verdade que todas as pessoas viram e não vou negar o que é um facto: fui muitas vezes interrompida, mas também creio que consegui dizer o que tinha para dizer nos diferentes debates”, considerou. “Provavelmente em menos tempo. Mas às vezes não é por ser durante mais tempo que se torna melhor para as pessoas”, concluiu.
“A gente luta para falar”, sublinhava Marisa, enquanto descolava autocolantes para os distribuir entre quem se aproximava. Depois, começou a descascar favas com a comerciante. A sua saída, a dona Madalena assinalou o veredicto com uma troca de autocolantes. No lugar do PS, colocou Marisa Matias sobre o peito.
A desilusão com a União Europeia e o “desânimo das pessoas” com quem se cruzava são questões “perfeitamente compreensíveis” para a candidata. “Toda esta trapalhada do ‘Brexit’, os programas de intervenção e a forma como as pessoas foram tratadas” afastam os eleitores, admitiu a candidata. “O que preciso, e é isso que temos de fazer nas campanhas e ao longo de todos os dias do nosso mandato, é dizer às pessoas que há quem lute por propostas diferentes.”
“Tanto faz que seja Joe Berardo ou este senhor a votar, o voto vale exactamente o mesmo e as pessoas têm de perceber que têm esse poder”, sublinhou.
A confusão gerada pela passagem da comitiva causou algum transtorno a alguns comerciantes, que se queixavam do prejuízo que a campanha causava a um dia de trabalho. Atrapalhada com as críticas de uma comerciante mais indignada, a candidata bloquista foi pessoalmente desviar alguns apoiantes, para que se afastassem das bancas, antes de prosseguir com as declarações. “Tu sabes que eu adoro falar, mas não quero atrapalhar o trabalho das pessoas”, confessaria à margem, a um dos membros da sua equipa.
A candidata bloquista seguiu viagem para o distrito de Braga, onde se realizarão as duas próximas acções de campanha, com uma arruada e comício ao final da tarde.