Mota Soares: “O centro deslocou-se muito para a esquerda”
O CDS está na batalha das europeias a olhar para o futuro do partido. Alguns centristas querem chegar às legislativas com o CDS doutrinariamente centrado mais à direita e “alargando-se a outras correntes da direita”. “Cabe mais dentro do CDS”, diz Mota Soares.
Pedro Mota Soares é um dos principais motores da campanha do CDS e um dos mais importantes trunfos políticos de Assunção Cristas nestas europeias. A eleição ou a não eleição do número dois da lista dos centristas vai ditar uma derrota ou uma vitória do partido. Mas o número dois da lista é também um dos rostos de um momento importante que CDS está viver. Um momento de recentramento doutrinário em que alguns destacados dirigentes querem um CDS menos de centro-direita e mais de direita, tolerante e distante dos extremistas, mas mais conservador, como já assumiu Nuno Melo.
Este pensamento não é novo no CDS, mas emergiu agora, com força e sem ser por acaso, na campanha das europeias e já a olhar para as legislativas, nas quais alguns dirigentes querem que o partido se apresente já com “fato novo” feito ao corpo. Até porque entendem que este é o caminho para crescer quando o “vento da história”, como diz Melo, que já sopra em alguma Europa, chegar a Portugal.
Mas primeiro há a eleição para o Parlamento Europeu. Porque é que um activo político importante para o CDS na política caseira aceita candidatar-se ao Parlamento Europeu? A resposta de Mota Soares sai rápida como uma flecha: “Porque estas eleições são muito importantes para o partido.”
“O CDS quer que a dimensão europeia, em que muito se decide para o país, esteja cada vez mais próxima de Portugal. Que exista uma ligação forte, porque a dimensão europeia é vital”, afirma.
Por isso, acrescenta, o partido “escolheu uma equipa muito forte, muito competente e preparada – não estou a falar mim – a começar no Nuno [Melo], mas que se estende a todos os nomes da lista”.
O facto de ser o candidato cuja eleição vai determinar uma vitória ou uma derrota não o preocupa. “O CDS é um partido que corre riscos. Nunca estivemos na política com receios. O partido está muito mobilizado, sentimos a confiança que nos é dada nas ruas: Vamos ganhar estas eleições”, diz.
E vencer nesta eleição “é ficar à frente dos partidos da extrema-esquerda”, que, para o CDS, é representada pelo BE e PCP. Sobre derrotas, Mota Soares não quer falar: “Para nós só existe o cenário da vitória.
Quanto às mudanças doutrinárias em curso no partido, o já referido recentramento, Mota Soares afirma que “o CDS é o que sempre foi, o grande partido da direita portuguesa”. Mas acrescenta: “O que aconteceu é que o centro se deslocou muito para a esquerda, como se pode ver com o actual PSD, que faz acordos com o PS e que está pronto para validar um Governo do bloco central. Rui Rio até já disse que se não fosse Sá Carneiro poderia estar no PS. O PS, que se aliou com a extrema-esquerda, nunca contará com o CDS.”
E, como Nuno Melo deixou claro há três dias, o partido não quer estar neste centro. “O CDS sempre foi o partido da direita portuguesa e assim quer continuar a ser. Mantendo como trave mestra a democracia cristã, mas alargando-se a outras correntes da direita, a outros pilares, como liberais e conservadores, por exemplo. Cabe mais dentro do CDS. Queremos abarcar mais, chamar mais, e continuar a ser o grande partido da direita portuguesa”, garante.
Tal como Nuno Melo, Mota Soares faz questão de salientar que o partido quer distância dos “extremismos de alguma direita”. “O CDS é um partido da direita tolerante, democrático que assume sem complexos nem constrangimentos à direita que representa. É o grande partido da direita portuguesa”, acrescenta.
Paulo Portas costumava dizer: “À direita do CDS, uma parede”. Numa altura em que surgem em Portugal novos partidos que se dizem deste espaço político, alguns extremistas, este reposicionamento do CDS parece mostrar que não querem que ninguém se encoste à sua parede.