João Ferreira foi ao Couço falar ao bolso dos reformados, contra a privatização das pensões
A troika trouxe de volta a Portugal o fantasma da fome e há ainda hoje dois milhões de portugueses a viverem em situação de pobreza ou em risco dela, descreveu o candidato da CDU. E lembrou que foi o PCP quem fez o Governo dar aumentos extraordinários nas pensões.
É ponto incontornável em qualquer campanha eleitoral da CDU a passagem pelo Couço, no distrito de Santarém, ali na fronteira com Portalegre e Évora, a roçar o montado alentejano, sempre com almoço. Desta vez não foi cozido, mas sim caldo verde e frijoca - e, sinal dos tempos, pudim do supermercado de sobremesa para os mais gulosos, e laranjas de casca rugosa das árvores que vão fazendo sombra nas ruas.
O local é o mesmo - a icónica Casa do Povo, que depois de perder os serviços do posto médico e da caixa de previdência serve agora para os convívios - e a plateia está de ano para ano mais envelhecida. Daí que João Ferreira tenha escolhido cirurgicamente os temas da pobreza e das pensões de reforma: falou-lhes ao bolso para apelar ao voto na CDU e não naqueles partidos (PSD, CDS e PS) “que querem o negócio das pensões privadas”.
O candidato comunista defendeu o direito à reforma sem penalizações para quem tem 40 anos de descontos para a Segurança Social, independentemente da idade e garantiu que o partido se continuará a bater por essa medida - que o Governo socialista tarda em concretizar. “Nestes anos deram-se passos, mas é preciso avançar mais nos direitos dos que trabalharam uma vida inteira e fazer justiça a dezenas de milhares de trabalhadores que continuam à espera de respostas para as suas vidas.”
João Ferreira vincou que o aumento da esperança média de vida “deve ser encarado como um avanço da civilização” e não pode servir de pretexto para “obrigar as pessoas a trabalhar até morrer”. E exigiu que se diga a “verdade toda": um trabalhador hoje, ao longo de 40 anos de vida de trabalho “produz muito mais riqueza do que aquilo que acontecia há anos”, pelo que essa riqueza “tem que estar também ao serviço de quem a produz” e permitir que as pessoas possam viver as últimas décadas de vida em descanso e com “direito a uma reforma digna”.
A larguíssima maioria dos homens e mulheres que enchiam a sala e a esplanada atrás do edifício sabem-no bem: os campos de arroz alagados pela água do Sorraia onde trabalhavam de sol a sol há 40 anos - a semear, mondar, sachar, colher - são hoje amanhados com enormes tractores.
Mas a essa ideia de uma reforma descansada, o eurodeputado contrapôs aquilo que a União Europeia recomenda e que em Portugal PS, PSD e CDS “vertem na lei, nos orçamentos": o aumento da idade da reforma e o ataque aos sistemas de segurança social pública. Na UE, acrescentou, “abriu-se a porta a um mercado pan-europeu de fundos de pensões privados”, usando os descontos de milhares de trabalhadores na especulação bolsista. Para depois levantar o fantasma sobre Portugal: “Se alguns nada aprenderam com a crise, aprendam pelo menos os trabalhadores que querem defender as suas pensões actuais e futuras, a não dar a sua confiança a partidos que querem descapitalizar a segurança social, dirigindo recursos para o engodo das pensões privadas. Fizeram-no no Parlamento Europeu PS, PSD e CDS.”
João Oliveira lembrou que foi graças às propostas do PCP - e porque o PS “não teve as mãos livres para fazer o que queria” - que se aprovaram medidas como os manuais escolares gratuitos (e tantos na sala que são avós e bisavós), a redução das taxas moderadoras, e os vários aumentos extraordinários de dez euros nas pensões.
Sobre a pobreza, contou que os deputados da CDU defenderam em Bruxelas medidas como a criação de um rendimento mínimo transitório” para garantir resposta a situações de urgência social. E fizeram relatórios sobre a pobreza, nomeadamente a infantil, que recomendavam medidas como o acesso universal à saúde e educação.
João Ferreira falou à memória de muitos que estavam na sala ao dizer que ainda há pouco, nos anos da troika, “a fome andou a rondar muitas casas, sentando-se, em algumas, à mesa com as famílias” - como não se pensava que voltaria a acontecer. O pior, vincou, é que muitos dos dois milhões de portugueses que vivem em situação de pobreza ou no seu limiar, são trabalhadores e reformados, o que significa que as causas da pobreza são os baixos salários e reformas, a par da precariedade laboral. A culpa, “ao contrário do que alguns querem crer, não está nos próprios pobres”, e sim na “política de exploração e na injusta distribuição da riqueza que é produzida”.
Por isso, insistiu na necessidade de aumentar o salário mínimo para os 850 euros e o correspondente aumento das pensões como o “mais sólido caminho para combater a pobreza”. E até porque “defender melhores salários hoje é defender melhores pensões e reformas amanhã”.
Recusando entrar no “lodaçal para onde alguns levaram a política nacional”, João Ferreira criticou ou que “andam para aí a dizer que querem ganhar as eleições, que querem ficar na frente deste ou daquela” e avisou que “o que está em causa é eleger 21 deputados, é escolher quem se vai sentar nestes 21 lugares que representam o povo português”.