O último debate: O Polígrafo, o colete-de-forças e a sondagem que (quase) ninguém quer valorizar
Três eurodeputados, uma eurodeputada e um estreante nas andanças das europeias defrontam-se na RTP1 em dia de sondagem.
Os candidatos que lideram as listas com que PS, PSD, CDU, CDS e BE concorrem às eleições europeias de 26 de Maio reservaram parte do dia desta segunda-feira para se prepararem para o debate na RTP1, que acontece na recta final da campanha. Durante algumas horas fizeram pausa nas acções de rua para estudar os temas europeus e fazer treino mediático. Já não estavam na rua quando foi conhecida a sondagem da CESOP para o PÚBLICO e RTP, na qual os socialistas atingem 33% dos votos válidos, contra 23% do PSD.
O tema das sondagens não foi tratado logo no início do debate, emitido em directo a partir do Teatro Thalia, em Lisboa. Primeiro, os candidatos foram submetidos a uma ronda de perguntas. Nuno Melo (CDS) foi questionado sobre se é um alívio ir a votos sem o PSD, ao contrário do que aconteceu em 2014. Falou sobre o assunto, sem responder directamente. “Não se trata de alívio, trata-se de afirmação de orgulho por ser cabeça de lista do meu partido”, assumiu, referindo que prefere estar bem acompanhado. Também Paulo Rangel (PSD) rejeitou haver incómodos, mas disse não se tratar de alívio nenhum.
A Pedro Marques (PS) coube-lhe uma pergunta sobre a recondução de Carlos Moedas. “É uma questão que não se coloca”, disse, preferindo chamar a atenção para a presidência da Comissão Europeia, que se discute também neste acto eleitoral. Sobre Carlos Moedas disse apenas que trabalhou com ele no Governo. “E trabalhei bem como ele”. A seguir pediu um reforço de votos no PS para que o partido esteja em condições de influenciar as escolhas na UE, nomeadamente ao nível dos comissários.
No arranque do debate, João Ferreira (CDU) e Marisa Matias reconheceram as vantagens de os partidos que representam terem influenciado a governação. O comunista garantiu acreditar que o “papel determinante que quer o PCP quer os Verdes” tiveram na nova fase da via política nacional” vai pesar “na apreciação dos eleitores”. “É benéfico [para a minha candidatura], com certeza”, disse a bloquista.
Maria Flor Pedroso, a directora da RTP que também moderou o debate, pôs os candidatos a fazer o balanço dos 30 anos da integração na UE. Paulo Rangel garantiu que “a experiência europeia é uma experiência positiva” e referiu a questão das acessibilidades, entre outras. "Há um Portugal antes e depois da UE”, conclui Rangel. João Ferreira insistiu em fazer um balanço negativo sobre a subordinação política, mas a jornalistas arrancou-lhe, como aspecto positivo, a livre circulação de pessoas (incluindo estudantes). Marisa Matias preferiu destacar a cooperação entre estados membros a nível ambiental. Nuno Melo também referiu, tal como João Ferreira e livre circulação de pessoas, mas incluiu os bens e o capital, entre outros aspectos. Pedro Marques fez uma longa lista de benefícios, desde os direitos das mulheres às acessibilidades.
Já em relação aos factores negativos, o socialistas centrou-se na forma como a UE reagiu à crise económica e financeira, sobretudo nos países do Sul da Europa. “Acentuou as desigualdades dentro dos próprios países”, disse, acrescentado que Portugal precisa de “retomar o processo de convergência. O social-democrata Paulo Rangel optou por lamentar as perdas que ainda não foram recuperadas no sector do mar e pescas e falou sobre algumas imperfeições do euro. “Não temos conseguido concluir a união bancária e isso é uma coisa negativa”, sublinhou. Para a candidata bloquista, uma das dimensões mais negativas da UE tem a ver com o facto de o euro ter criado desigualdades entre os países. Marisa Matias criticou ainda o facto de a UE estar ao dispor das “elites financeiras” e lamentou que a União Europeia não tenha dado uma resposta condigna à tragédia dos refugiados. O cabeça de lista do CDS escolheu como pontos negativos “os extremismos que ascendem” e o “terrorismo”, por exemplo.
Terminada a primeira meia-hora de debate, Paulo Rangel pede a palavra e queixa-se de que não o estão a deixar falar, como já aconteceu noutros debates. Quando finalmente consegue intervir, regista que “há um problema de credibilidade” no discurso de Pedro Marques e acusa o candidato do PS de ter sido “desmentido seis vezes pelo Polígrafo [site de verificação de notícias] nas últimas semanas”.
É retomada a ronda sobre o balanço do pior que a UE trouxe a Portugal para que João Ferreira possa explicar a sua visão e o candidato fala sobre os impactos negativos da Europa na indústria, na agricultura e na pesca. “O euro, há 20 anos, veio agravar tudo isto”, disse, para concluir: "Somos dos países que menos cresce no mundo.” O comunista afirmou ainda que não podemos escolher pela próxima crise para decidir se escolhemos a moeda ou as pessoas. “Temos de nos libertar deste colete-de-forças”.
A sondagem foi o tema final, antes do intervalo. Começou a responder Marisa Matias para comentar a eleição de dois deputados, atribuída ao Bloco de Esquerda, que passaria a terceira força política. “Os votos são mesmo das pessoas. Fizemos o nosso trabalho e o resto cabe às pessoas”, disse. Nuno Melo insistiu que o “CDS é a prova viva de que as sondagens se enganam” e sublinhou que o seu partido é a única alternativa. Já João Ferreira disse que sente uma grande confiança em torno da campanha da CDU. “Não somos espectadores, somos construtores de um resultado”, disse, reconhecendo que o importante é eleger os 21 deputados. A CDU e o CDS, de acordo com a sondagem, obtêm 8% das intenções de voto (2 deputados).
Na sua vez de falar, Pedro Marques não fez grandes referências à sondagem, que dá oito ou nove eurodeputados ao PS (com 33% das intenções de voto), e optou por responder a Paulo Rangel sobre o Polígrafo, lamentando que o social-democrata tenha trazido um assunto como aquele para este debate. Rangel garantiu que sente “uma confiança grande no terreno” e no resultado, respeitando a confiança dos portugueses, mas voltou a dizer que “Pedro Marques é o campeão da manipulação das notícias”.