Catarina Martins está preocupada com a saúde da democracia europeia e dos portugueses

Líder do BLoco criticou, em Aveiro, a falta de investimento no Serviço Nacional de Saúde. Catarina Martins está ainda preocupada com as ameaças à democracia europeia e com a falta de apoio a refugiados por parte de países “totalitários”.

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LUSA/PAULO NOVAIS

Em Mamodeiro, Aveiro, as paredes da sala de espera do centro de saúde estão separadas por uma dezena de passos. A televisão pendurada no canto da sala está desligada e a conversa é feita entre os três bancos de madeira distribuídos pela recepção. Os utentes, quase todos idosos, queixam-se da falta de médico de família e das distâncias que têm de percorrer para conseguirem uma consulta. É para eles que Catarina Martins fala, lembrando que a saúde dos portugueses também se decide em Bruxelas. A líder bloquista agarrou na agenda da candidata Marisa Matias que, devido à participação no debate da RTP desta segunda-feira à noite, só esteve a fazer campanha durante a parte da manhã.

“Temos assistido a uma contracção do investimento na saúde e em todos os serviços públicos. Tem sido a doutrina da União Europeia nos últimos anos e continua a estar presente em todas as recomendações que a União Europeia tem feito ao nosso país, com a ideia de que é preciso de contrair investimento nos serviços públicos e de que há trabalhadores a mais no Estado”, começa por atirar a líder do Bloco de Esquerda (BE), à entrada do centro de saúde Nossa Senhora de Fátima.

“Não basta dizer que toda a gente tem médico de família no papel. É preciso que tenham médico de família na realidade”, critica a líder bloquista. “Quando vos dizem que têm de ir para Nariz [em Aveiro] para ter médico de família, estão a dar-vos um médico de família no papel e não na realidade”, diz Catarina Martins.

“É preciso ver as condições reais e compreender que uma população que não tem transportes, ou que é mais envelhecida e que tem mais dificuldades de mobilidade precisa de ser respeitada”, insiste, argumentando que o investimento nos cuidados de saúde primários traz benefícios não só para os doentes, mas também para as contas do Estado a longo prazo.

“Quando as populações têm cuidados de saúde onde moram, a despesa fica muita mais barata ao Serviço Nacional de Saúde. O que é caro é deixar as populações sem cuidados primários, para depois terem mais complicações de saúde e serem obrigadas a procurar hospitais”, o que aumenta a despesa do Estado, sublinha a líder do Bloco de Esquerda. “É pior para as pessoas e pior para as contas”, resume. “Nas eleições europeias também se decidem estas coisas”, remata a líder bloquista, dando nota aos utentes da razão da sua passagem.

Pela saúde da democracia

A saúde da democracia da União Europeia também foi um tema, nomeadamente a propósito da gestão e acolhimento de refugiados. “A Europa não pode assistir aos regimes autoritários como se nada fosse, não pode assistir a regimes que não respeitam os direitos humanos e que não recebem os refugiados”, afirma, sem nomear nenhum país.

“Além de todos os países terem de acolher refugiados, como é a sua missão humanitária”, lembra Catarina Martins, “a União Europeia não pode ficar indiferente quando há países que fecham as portas. Temos de ter políticas públicas para esse acolhimento e de parar com as guerras que criam esses refugiados”. “Os países da União Europeia são aqueles que vendem armas e compram petróleo aos territórios que estão em conflito. A União Europeia tem uma enorme responsabilidade”, acusa.

“Países que não cumprem a sua quota de responsabilidade, que erguem muros e que fazem campos de detenção de refugiados – sendo que mais de metade destes são menores de idade -, não são democracias. Não respeitam os direitos humanos. E não podem ter um tratamento como se fossem uma democracia”, conclui.

Corrida ao voto antecipado é “um bom sinal”

Já acerca do alargamento do voto antecipado a todos os eleitores e da ida às urnas no domingo passado de alguns portugueses, Catarina Martins é mais reservada. “A afluência ao voto antecipado é uma boa notícia. As pessoas perceberam que podiam exercer o seu direito de voto estando deslocadas e quiseram fazê-lo. Isso é sinal de que as alterações foram feitas no bom sentido”, resume a líder do BE. “Vamos ver como vai ser o voto das comunidades emigrantes espalhadas pelo mundo. Como é o primeiro ano [das novas regras] há matérias que exigem alguma reflexão, mas acho que, até agora, o importante é reter que as pessoas têm essa vontade de votar”.

Catarina Martins não arrisca prognósticos sobre uma hipotética redução na abstenção, mas olha para o interesse dos eleitores do último fim-de-semana como “um bom sinal”.

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