Câmara do Porto cria consórcio para ser “Cidade Sem Sida” até 2020

No Porto, “os valores do diagnóstico [da doença], por ano e por 100 mil habitantes, são quase o dobro da média nacional”.

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Rui Gaudencio

A Câmara do Porto e 22 instituições assinaram nesta segunda-feira o protocolo de criação do consórcio para implementar a estratégia uma “Cidade Sem Sida” até 2020, fixando como uma das metas que 90% dos infectados tenham tratamento.

“As cidades subscritoras da Declaração de Paris, nas quais o Porto se inclui, propõe-se reduzir o estigma, atingindo a discriminação zero através do cumprimento das metas 90-90-90 por volta de 2020, isto é: 90% das pessoas que vivem com a infecção sabem que estão infectadas, 90% das pessoas que sabem que estão infectadas estejam em tratamento e 90% das pessoas que estão em tratamento tenham a infecção controlada”, explicou Rui Moreira, presidente da autarquia.

Henrique de Barros, coordenador científico e técnico do “Plano de Acção da Estratégia Porto, Cidade Sem Sida”, observou que, no Porto, “os valores do diagnóstico [da doença], por ano e por 100 mil habitantes, são quase o dobro da média nacional”.

“Apesar do sucesso em alguns aspectos, como a diminuição imensa da infecção [pelo VIH/Sida] nas pessoas que utilizam drogas, Portugal e o Porto continuam a ser das comunidades com maior risco. A infecção está a aumentar de forma muito marcada nos homens que fazem sexo com outros homens, em idades relativamente jovens”, observou o especialista.

Para Henrique de Barros, “uma das razões” para este crescimento “é o facto de a sida se ter transformado numa espécie de doença semelhante a todas as outras, para a qual existe uma resposta terapêutica bastante eficaz”.

“Isso fez baixar as guardas. Para uma pessoa ficar infectada pelo VIH, basta ter relações sexuais”, frisou o coordenador, no Porto, da estratégia mundial das “Cidades na Via Rápida para Acabar com a Epidemia VIH”.

De acordo com Henrique de Barros, no Porto a iniciativa vai apostar na “promoção do acesso ao teste do VIH”.

“Temos de ter mais testes e introduzir o teste na rotina dos exames que as pessoas fazem habitualmente, para além de aumentar distribuição de preservativos e lubrificante”, defendeu.

O presidente da Câmara, Rui Moreira, identificou como “prioridade” a aposta “na prevenção da infecção, no diagnóstico precoce” e “na correcta e atempada referenciação das pessoas diagnosticadas para que sejam adequadamente acompanhadas nos cuidados de saúde”.

Carlos Nunes, presidente da Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN), defendeu a necessidade da “afirmação da saúde em todas as políticas” e apontou a estratégia de combate local à sida como “um passo em frente na relação da administração central e regional” com as autarquias.

“Esta estratégia pretende facilitar o acesso aos objectivos através do trabalho conjunto”, disse.

O protocolo foi assinado entre a Câmara do Porto, a ARSN, a agência Piaget, a ARRIMO, a associação Farmácias de Portugal, Médicos do Mundo, Centro Hospitalar de São João, Centro Hospitalar Universitário do Porto e a Direcção-Geral de Saúde.

Subscreveram ainda o documento a Federação Académica do Porto, o Instituto Ricardo Jorge, a Abraço, a Misericórdia do Porto, a Universidade do Porto, o Instituto Politécnico do Porto e o Instituto Português do Desporto e Juventude, entre outras entidades.