Equipa vitaminada com sondagens contra o “candidato do blá blá blá” espera ser “campeã” dia 26
Socialistas criticam o “candidato do blá blá blá”, referindo-se a Paulo Rangel. Pedro Marques lembra a entrada de Passos Coelho na campanha: “Não páram de mostrar o caminho para onde querem voltar”.
Andou pela rua cerca de 45 minutos. Foi o primeiro tempo do jogo de hoje. O suficiente para marcar alguns golos: “Espectáculo! Dei-lhe dois beijinhos e disse-me: ‘já me convenceu’”, acredita. As sondagens que dão o PS entre seis e oito pontos acima do principal adversário transformaram Pedro Marques, deram-lhe um “boost” de confiança para enfrentar as ruas de Viana do Castelo.
É um jogador vitaminado pelos resultados das sondagens. Sem António Costa o palco é dele, sai da sombra e vai andando pelas ruas num passo largo, da direita à esquerda para que não lhe escape nem um beijinho por dar. Na política, diz que tem lugar certo. “Eu jogo pelo centro-esquerda”, responde. No Benfica, clube do coração do candidato, esse é o corredor de Rafa, o jogador que tem na velocidade a sua principal característica e nos dribles uma arma poderosa. Por aqui, Marques vai usando esses trunfos no contacto com as dezenas de pessoas com quem falou nesta manhã. Anda rápido para chegar a todos, finta e sai rápido quando a conversa começa a ser-lhe menos favorável.
“Ponham os do rendimento mínimo a fazer limpeza nas florestas, nas estradas”, diz-lhe uma senhora que cumprimenta no café. “As pessoas mais pobres têm também direito a não ser pobres”, responde. Mas a pensionista é insistente e não larga o assunto: “Descontei 30 anos e recebo 250 euros de pensão. O primeiro-ministro a ganhar 10 mil euros… Vocês têm de olhar para isto. O que fazemos com 250 euros?”, questiona. Pedro Marques demora-se na conversa, explica que as pensões “já aumentaram nestes anos” com este Governo e os “jotas” atrás começam a dar o apito para a falta e começam a gritar, dificultando a conversa: “Nós só queremos o Pedro em Bruxelas. “Tem de melhorar”, responde ainda o candidato. Finta feita, contorno dado, bola para a frente, para o próximo café.
A manhã não lhe seria desfavorável. O clima estava favorável à prática do desporto das arruadas. Ao lado tinha Tiago Brandão Rodrigues, mais um dos ministros a vir dar uma “mãozinha” ao candidato. Os dois, acabariam por ter uma disputa de bola no centro de Viana do Castelo. “Então eu ando sempre a dizer que só dou lápis e tu ofereces uma caneta de plástico?”, uma pergunta retórica de Pedro Marques que não ficaria sem uma resposta do que se passa na prática: “Ainda não se pode votar com lápis em Portugal”, responde o ministro.
No fim desta primeira parte do jogo — a segunda vai desenrolar-se ao almoço com a presença de António Costa e num jantar também com o secretário-geral do PS —, o fluxo atacante foi-lhe favorável, sem grandes bolas na trave. “As pessoas reconhecem que o projecto que temos para a Europa tem tudo a ver com o que fizemos aqui em Portugal. E reconhecem isso no contacto de rua. Tem sido fácil o contacto de rua, acho que as pessoas gostam de falar connosco. Estamos confiantes”.
O principal obstáculo ou adversário “é a abstenção” vai dizendo. E o jogo, esse, só termina com o apito final, no dia 26 de Maio: “Isto só se ganha nas urnas”, é aí “que espero ser campeão”.
Essa é a táctica que António Costa quer que o seu ponta-de-lança use neste jogo que “não é em 90 minutos, mas na próxima semana”. “Estas eleições são mesmo como este campeonato, joga-se até ao último minuto. Vamos jogar até ao último minuto sem atirar a toalha ao chão e sem nos deslumbrarmos”, disse ao almoço. “É ao minuto que se conquista o resultado”.
O deslumbramento poderia vir das sondagens, mas Costa pede que o partido não entre em euforias antes do apito final. “Não podemos ficar descansados com as boas sondagens”. “As eleições não se ganham nas sondagens, ganham-se nas urnas e só voto a voto contado é que se sabe qual a dimensão dessa vitória” do PS, referiu.
Contra o “candidato blábláblá"
A abertura do segundo tempo de campanha mostrou também um PS ao ataque. O adversário trouxe para jogo a antiga estrela da equipa, Passos Coelho, e isso serviu de mote a Pedro Marques. “A direita não pára de nos lembrar o caminho para onde querem voltar, agora vão trazer a pré-campanha outra vez Passos Coelho”. A chegada de Passos à campanha de PSD traz, para os socialistas, o modo de jogo do passado, que resultam em ataques falhados: “[Passos Coelho] Já veio dizer que as contas de Centeno são um engano. É preciso é mais cortes voltar a fazer cortes, isto é muito claro, queremos a Europa dos nossos sonhos, da alternativa construída aqui em Portugal. Não queremos a Europa dos descontentamentos dos cortes e das sanções da direita”, disse no almoço-comício em Neiva, Viana do Castelo.
O aquecimento tinha sido feito pelo presidente da Câmara de Caminha, Miguel Alves. Inspirado no anúncio do Banco CTT, que usa a música de Joe Dassin L'été Indien, o autarca lembrou muitos dos cortes feitos pelo anterior Governo, desde correios a escolas. “Quando ouço Paulo Rangel o que é que eu ouço? Blá, blá, blá”. A conclusão era simples: “Chega de candidatos blá blá blá, queremos candidatos que trabalhem”.