Benfica e FC Porto, marcação à distância e chegada em “photo finish”
A maior decisão de todas da Liga portuguesa ficou guardada para o último dia. “Águia” ou “dragão”, um deles será hoje o campeão nacional.
O 37.º ou o 29.º. A reconquista ou o bicampeonato. Uma destas narrativas será verdadeira. Benfica ou FC Porto, um deles será neste sábado campeão nacional, depois de cumprida a 34.ª e última jornada da Liga portuguesa. O título irá decidir-se pela combinação do resultado de dois jogos que se realizam à mesma hora (18h30), um Benfica-Santa Clara, na Luz, e um FC Porto-Sporting, no Dragão. Os “encarnados” só dependem de si próprios para chegar ao título (apenas precisam de um ponto), os “azuis e brancos” necessitam de uma combinação difícil de resultados: não só têm de vencer o clássico como precisam de uma tarde vitoriosa dos açorianos na Luz.
Se a decisão do título ficou para a última jornada, é sinal que Benfica e FC Porto fizeram épocas parecidas, o que, numa avaliação puramente estatística, é verdade. Estão separados por dois pontos, mas há duas coisas que colocam o Benfica com mão e meia no “caneco” de campeão: primeiro, a vantagem total no confronto directo, com uma dupla vitória dos “encarnados”, primeiro na Luz, ainda com Rui Vitória, por 1-0, e, na segunda volta, já com Bruno Lage, por 1-2, no Dragão; depois, o ciclo vitorioso do Benfica desde que Lage assumiu o comando técnico, 52 pontos em 54 possíveis (apenas um empate), enquanto o FC Porto de Sérgio Conceição, no mesmo período, fez 43 (quatro empates e uma derrota).
Os pontos perdidos na 1.ª volta
Durante o consulado de Rui Vitória - que se sagrou, há poucos dias, campeão da Arábia Saudita com o Al-Nassr - o Benfica perdeu 13 pontos: empate em casa (1-1) com o Sporting, empate fora com o Desportivo de Chaves (2-2), derrota no Jamor com o Belenenses SAD (2-0) seguida de derrota na Luz com o Moreirense (1-3) e, à 15.ª jornada, no Algarve com o Portimonense (2-0). Rui Vitória assinalava a contestação dos adeptos com um “as emoções falam mais alto”, mas o crédito conquistado pelos dois títulos tinha acabado. Pouco depois, pela fraca carreira no campeonato e por mais um fracasso na Liga dos Campeões, Luís Filipe Vieira empurrava Vitória, que antes protegera, para o exílio árabe.
Mais a norte, o FC Porto cumpria com competência o primeiro terço de campeonato, mesmo com algumas oscilações pelo caminho na forma de duas derrotas, em casa com o Vitória de Guimarães (2-3, depois de estar a ganhar 2-0) e na Luz (1-0). Mas, depois de duas derrotas, a equipa de Conceição arrancou para a sua melhor fase da época, nove vitórias consecutivas entre a 8.ª e a 16.ª. A jornada seguinte, a fechar a primeira volta, seria o clássico em Alvalade e o resultado não foi trágico para as aspirações do campeão em título, um empate sem golos. Mas foi aqui que o campeonato começou a mudar.
A viragem
Na Luz, o interino Bruno Lage foi cumprindo com sucesso a sua audição para o lugar. As vitórias foram-no transformando, sucessivamente, de treinador a curto-prazo em treinador a médio-prazo e, finalmente, a longo prazo (três anos). Cada ponto perdido pelos “dragões” era um ponto ganho pelas “águias” porque, simplesmente, o Benfica ganhou os pontos todos. Até ao clássico do Dragão, o Benfica de Lage registou oito vitórias seguidas (incluindo uns impressionante 2-4 em Alvalade e uns 10-0 ao Nacional), enquanto a equipa de Conceição deixou quatro pontos no Minho em jornadas consecutivas, empates com Vitória de Guimarães (0-0) e Moreirense (1-1).
No entanto, seria ainda com um ponto de vantagem que, a 2 de Março, o FC Porto iria receber o Benfica. Adrián López colocou os “dragões” na frente aos 18’, Rafa e João Félix marcaram os golos da reviravolta benfiquista, acompanhada por uma frieza a toda a prova a gerir os últimos 15’ em inferioridade numérica devido à expulsão de Gabriel. Era uma reviravolta que teve também o efeito de devolver os “encarnados” à liderança, um lugar que tinham ocupado pela última vez à quinta jornada. O perseguidor era agora o perseguido. E vice-versa.
Dez jornadas para jogar, 30 pontos para conquistar, um líder com uma diferença curta para gerir (dois pontos mais vantagem no confronto directo). Logo a seguir ao clássico no Dragão, foram os “encarnados” a abrandar, um empate em casa com o Belenenses SAD (um 2-0 transformado, por culpa própria, em 2-2) e os “dragões” voltaram a chegar-se à frente, em pontos, mas não na hierarquia classificativa. Os rivais ficaram a par até à jornada 31, em que os “dragões” deixaram dois pontos em Vila do Conde (empate 2-2 com o Rio Ave), e em que os “encarnados” ultrapassaram um dos seus jogos mais difíceis da temporada, um triunfo por 1-4 em Braga depois de terem estado a perder 1-0.
O último episódio
Sempre imprevisível e cheia de reviravoltas, esta temporada da I Liga chega neste sábado ao fim com uma batalha que se trava em dois campos, a centenas de quilómetros de distância. Em Lisboa, o Benfica fecha a sua época com o Santa Clara, um regressado ao convívio entre os “grandes” que cumpriu com distinção (e algum brilhantismo ocasional) a tarefa de manter os Açores no mapa do futebol português. Não será um adversário fácil para o Benfica, num jogo que, não tendo acontecido muitas vezes até tem um grau de simbolismo para as “águias": foi frente ao Santa Clara que o Benfica disputou o seu último jogo oficial no antigo estádio da Luz em 2003, então com um triunfo por 1-0 graças a um penálti convertido por Simão Sabrosa.
No Porto, o Dragão será o palco de um clássico em que os “dragões” jogam pelos pontos e o Sporting, como o seu treinador Marcel Keizer admitiu, joga pelo prestígio – já fechou a sua classificação no terceiro lugar e até se pode dar ao luxo de poupar nos recursos humanos. Será o terceiro confronto da época (de quatro) entre os dois rivais, depois de um nulo de golos (e pouco futebol) na primeira volta, em Alvalade, e da final da Taça da Liga, em Braga, que deu o troféu aos “leões” nos penáltis. Se o técnico holandês do Sporting pode, por exemplo, poupar Bruno Fernandes ao risco de ver um amarelo que o deixe de fora da final da Taça de Portugal, Sérgio Conceição está obrigado a investir tudo neste clássico antes de pensar no seguinte.
Ouça aqui o episódio do P24, com Marco Vaza: