Patriarcado partilhou apelo ao voto em partidos “pró-vida”. Manuel Clemente atribui decisão a gestor do Facebook

Horas depois da partilha, o Patriarcado de Lisboa recuou com a publicação e apagou-a das redes sociais, por reconhecer as interpretações políticas que suscitava em plena campanha pelas eleições europeias. Comissão Nacional de Eleições não recebeu nenhuma queixa sobre a publicação.

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O patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente Nelson Garrido/Arquivo

O Patriarcado de Lisboa partilhou esta quarta-feira na sua página do Facebook uma publicação onde associou à coligação Basta, ao Nós Cidadãos e ao CDS a “defesa da vida”. Depois de a notícia ser avançada pelo Diário de Notícias, o Patriarcado apagou o post. Ao PÚBLICO, o patriarca Manuel Clemente diz que a partilha foi um erro do responsável pela gestão da página de Facebook do Patriarcado de Lisboa, “que, reparando que podia ter interpretações políticas, apagou a partilha”.

Na origem da publicação está um quadro elaborado e publicado originalmente pela Federação Portuguesa pela Vida que assinala, ponto a ponto, quais são os partidos que se colocam contra a eutanásia, barrigas de aluguer e aborto, por exemplo.

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Imagem do Diário de Notícias

O Patriarcado partilhou a imagem e legendou-a explicando que “a Federação Portuguesa pela Vida reuniu, em gráfico, as posições, acerca da defesa da vida, dos diferentes partidos políticos que se candidatam às próximas eleições europeias”.

O quadro mostrava posições de “defesa da vida” em seis pontos: “Vida por nascer"; “rejeição [da] eutanásia"; “liberdade de educação"; “oposição [à] ideologia de género"; “proibição [das] barrigas de aluguer"; e “combate à prostituição”. Ao lado, liam-se as palavras-chave #euvotoprovida (eu voto pró-vida) e #avidaem1lugar (a vida em primeiro lugar).

“A publicação veio do movimento Federação Portuguesa Pela Vida (FPV), que não é uma organização religiosa. É a federação que faz aquele apanhado. Assim que o responsável reparou que podia ter essas leituras políticas decidiu apagar a publicação”, disse o cardeal Manuel Clemente ao PÚBLICO.

Ao DN, o gabinete de comunicação não quis comentar a sua posição em relação a desafios já defendidos pelo Papa Francisco, tais como a protecção e integração de refugiados, e limitou-se a dizer que iria apagar a publicação "por não ter ficado claro” que o Patriarcado não se revê em todas estas posições. 

“A única coisa que defendemos em matéria de defesa da vida é a que está na carta pastoral dos bispos portugueses”, divulgada a 2 de Maio, sobre as eleições deste ano, lê-se no Diário de Notícias.

O porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE), que só age quando recebe uma queixa, disse que o órgão não está a analisar a situação. “Ainda não recebemos nenhuma queixa, e como só analisamos com base nas queixas que nos chegam, não estamos a avaliar a situação”, disse ao PÚBLICO João Tiago Machado, porta-voz do CNE.

Numa nova publicação no Facebook ao final da tarde de quinta-feira, o departamento de comunicação Patriarcado de Lisboa reconheceu o erro “de um dos seus gestores” e reafirmou "a isenção do Patriarcado na orientação do voto de cada eleitor”, apelando aos “portugueses [que] exerçam o dever de voto e diminuam a abstenção”.

Página da FPV cita apelo ao Vox

Na página da Federação Portuguesa Pela Vida, a instituição partilha um exercício semelhante feito para as eleições espanholas. Um dos partidos imediatamente excluído é o Podemos por se colocar a favor da eutanásia e do aborto. O quadro repete a avaliação para o PSOE, para o Partido Popular, para o Cidadãos e para o partido de extrema-direita Vox.

Nos critérios citados pelo quadro espanhol constam a “liberdade económica, a liberdade religiosa e a união nacional”. Os pontos não são sustentados. O guia de voto termina com o apelo ao voto no Vox, um partido anti-imigração, anti-feminista, anti-aborto, e que quer derrogar as leis da violência de género, dos direitos LGTBI e da memória histórica.

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