Fernando Rosas vê o PS como um balancé: ora para a esquerda, ora para a direita
Bloco de Esquerda desafiou o CDS a dizer se também defende que Celeste Cardona deve perder a condecoração por ter estado envolvida no empréstimo a Berardo, enquanto administradora da Caixa Geral de Depósitos.
Foi na visita à Fortaleza de Peniche, onde esteve preso, que o historiador Fernando Rosas usou uma imagem para falar do PS. Aos jornalistas, disse ver o partido como um balancé que ora pende para a esquerda, ora para a direita. O bloquista criticou a campanha dos partidos de direita nestas eleições europeias, defendendo que tem cabido à esquerda o esforço de pôr os temas europeus na agenda.
Não foi por acaso que aquelas declarações foram feitas ali. Nesta quarta-feira, o Bloco de Esquerda colocou o tema da extrema-direita no centro da campanha. A caravana bloquista visitou as minas da Panasqueira, que produziam volfrâmio para alimentar as guerras mundiais, e a Fortaleza de Peniche, onde esteve preso quem lutou contra a ditadura. E fê-lo para honrar, nos dois casos, o “dever de memória” que protege as democracias do surgimento dos fascismos.
O único tema paralelo neste dia foi mesmo o da polémica em torno da condecoração de Joe Berardo. A cabeça de lista do BE, Marisa Matias, afirmou que o Bloco quer muito mais do que simplesmente que a condecoração do empresário madeirense seja devolvida, como pede o CDS: “Queremos que a medalha seja devolvida, mas sobretudo que o dinheiro seja devolvido. E que sejam responsabilizadas as pessoas que tomaram estas decisões. Celeste Cardona, do CDS, que foi nomeada por Durão Barroso [para a Caixa Geral de Depósitos], aliás como Armando Vara do PS, esteve directa e pessoalmente envolvida”, disse a bloquista, mostrando curiosidade em saber se o candidato centrista Nuno Melo também defende que Celeste Cardona deve perder a condecoração que lhe foi atribuída pelo então Presidente Cavaco Silva.
“O que este caso mostra é que o bloco central de interesses sempre inclui o CDS, mesmo que agora Nuno Melo queira ficar fora da fotografia”, acrescentou, também em declarações na Fortaleza de Peniche, numa tarde em que esteve com dois fundadores do partido, Luís Fazenda e Fernando Rosas.
Foi só depois que Fernando Rosas acabaria por analisar estes dias de campanha: “Da parte dos partidos da direita tem corrido sem objecto, na falta de temas inventa-se uma tralha para trazer para a campanha. O candidato anda no ar, anda na terra. Da parte da direita, uma grande pobreza. A esquerda tem procurado trazer os assuntos que respeitam à ligação da Europa com o dia-a-dia das pessoas”, defendeu.
E, nessa análise, onde se situa o PS? “Ao meio, como sempre. A balançar de um lado para o outro. O PS é uma espécie de balancé, vai para aqui, vai para acolá”, continuou Rosas que vê o candidato socialista como alguém “muito reactivo”, que “vai atrás”. “A campanha do PS tem pouca autonomia do ponto de vista conceptual”, disse ainda Fernando Rosas, para quem o “grande problema” do PS é, porém, maior – é “saber para que lado é que cai”, o que nas questões europeias se nota “de uma maneira superlativa”.
Ao lado, Marisa Matias acabaria por colher elogios de Rosas, por mostrar como as decisões das instituições europeias afectam o salário que se recebe, o transporte que se apanha. Mais: para a candidata só assim se luta contra o crescimento da extrema-direita: “A nossa obrigação é perceber que só conseguimos combater estas sombras se tivermos respostas concretas para as pessoas”, sublinhou ainda de manhã, nas minas da Panasqueira, e depois de ouvir a história de Isidro Gil, de 85 anos, que ali trabalhou 43 e se lembra de ter passado fome.