O Resto da Tua Vida: a normalidade cansou

O Resto da Tua Vida é um documentário arrojado puramente digital, que cruza a realidade com a ficção, deixando o espectador sem saber o que é o quê. Um trabalho exigente que transborda qualidade, desde a autoria à produção, à sonoplastia e edição.

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Conheci o Carlos Coutinho Vilhena em 2014 quando tinha o projecto Bumerangue com o Guilherme Geirinhas, o Manuel Cardoso e o Pedro Teixeira da Mota. Na altura, convidei-os para virem à rádio e tentámos perceber como poderíamos fazer algo na realidade radiofónica. Chegámos a fazer alguns testes mas estávamos com dificuldade em encontrar algo coeso e perfeito.

Tempos mais tarde, cada um seguiu o seu caminho extraordinário no humor, com projectos individuais de grande qualidade. Há um ano e meio, mais coisa menos coisa, desafiei o Carlos para um programa na Cidade FM. Não só tinha a certeza que era um tiro certeiro para a estação, como sabia que o próprio poderia crescer na comunicação, neste “jogo de bola” e profundo controlo de uma emissão de rádio. E noto essa mudança e esse amadurecimento. 

O Manel foi convidado — e muito bem — pela Antena 3, para fazer parte da equipa matinal com um conteúdo muito bem feito. O Pedro revelou-se um grande conversador de humor puramente genuíno e o Guilherme conhece o digital como a palma da sua mão. Desbravar o país em espectáculos ao vivo começa a ser uma rotina merecida para toda esta gente.

No entanto, queria voltar ao Carlos. Sou um pouco conservador em algumas vertentes, confesso, mas por outro lado vejo com muito bons olhos e sou fã de projectos ousados, de ideias que rompam com o tradicional e que fujam daquilo que é a normalidade. E o Carlos conseguiu isso mesmo com este O Resto da Tua Vida. Um documentário arrojado puramente digital, onde cruza a realidade com a ficção, deixando o espectador sem saber o que é o quê. O fio condutor tanto está no computador e nos nossos smartphones como parte para os programas de televisão matinais e para o dia-a-dia.

Um trabalho exigente que transborda qualidade, desde a autoria à produção, à sonoplastia e edição. Diria que é um documentário ao nível de uma Odisseia, de um Último a Sair ou mesmo de um Som de Cristal

Há relações saudáveis e a relação entre o humorista e a rádio tem dado frutos. A série é apoiada — e muito bem — pela Cidade FM, estação que recebeu o Carlos de braços abertos. Não será necessário dizer mais nada, basta ver o documentário. Estamos a precisar de arriscar e de ser ousados. Para a normalidade, já bastam os dias em si.

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