Dois milhões de eleitores em risco de não votar em Moçambique

Os atrasos no recenseamento podem deixar mais de 10% da população fora dos cadernos eleitorais. De acordo com o Centro de Integridade Pública, o objectivo de recensear 14,9 milhões de pessoas não será alcançado a este ritmo.

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As eleições gerais e provinciais estão marcadas para 15 de Outubro Enric Vives-Rubio

Problemas técnicos, mau tempo, boicotes e outras dificuldades estão a atrasar o processo de recenseamento em Moçambique, a ponto de o Centro de Integridade Pública (CIP), organismo independente que zela pela boa governação e acompanha os processos eleitorais no país desde 1992, alertar para a possibilidade de dois milhões de moçambicanos em idade de votar ficarem fora dos cadernos eleitorais e não poderem exercer o seu direito nas eleições gerais e provinciais de 15 de Outubro.

Segundo a informação avançada pela organização, sediada em Maputo, até agora foram recenseadas 10,5 milhões de pessoas, correspondente a 70,5% do universo de 14,9 milhões de eleitores. “Ao ritmo actual de recenseamento, o número total final de eleitores inscritos poderá chegar a 12,9 milhões, o que representaria 87% do total da população em idade eleitoral”, refere o texto assinado por Miguel de Brito.

O processo atrasou-se, sobretudo, neste novo período de actualização dos cadernos eleitorais. Nestes 28 dias de recenseamento actualmente a decorrer só se registaram ainda 50,3% dos 7.341.736 moçambicanos previstos e se o ritmo actual se mantiver nas duas semanas e meia que ainda faltam (média de menos de 1 milhão de pessoas por semana), só se cumprirá 84% do objectivo previsto.

No maior círculo eleitoral do país, Nampula, problemas técnicos atrasaram substancialmente os trabalhos das equipas de campo e, com isso, até 12 de Maio só se tinham registado 44,18% das pessoas previstas, refere o CIP. Mas há províncias ainda com piores taxas de cumprimento dos objectivos: Maputo e Sofala ficaram pelos 37,7% e Niassa só chegou aos 40,5%.

A província de Gaza, no sul do país, é aquela onde o recenseamento segue a um ritmo mais elevado, tendo 75% dos cadernos da província devidamente actualizados neste momento. Cabo Delgado (64%), apesar das consequências do ciclone Kenneth, Manica (60,3%) e Zambézia (56,2%) também estiveram acima da média do país.

Entretanto, a Renamo denunciou no domingo passado a existência de irregularidades no distrito de Chicualacuala, na província de Gaza. Arnaldo Manhique, porta-voz em Gaza do principal partido da oposição em Moçambique, acusou o líder comunitário da vila Eduardo Mondlane, Flávio Macuácua, da Frelimo, que desde a independência governa o país, de obrigar os membros de uma brigada a recensear quatro zimbabwanos como se fossem nacionais. Manhique falou também em registo de menores de idade.

Diga-se que a Comissão Nacional de Eleições adiou o início deste novo período de recenseamento, previsto para ter começado a 1 de Abril, devido às consequências do ciclone Idai na região central do país. E até ponderou o adiamento das eleições de 15 de Outubro.

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