Jerónimo justifica-se: PCP teve a iniciativa da solução governativa do PS, mas não se limitou a sustentá-lo
Num jantar com cerca de 400 mulheres, líder do PCP faz discurso muito virado para os críticos da solução governativa à esquerda. E acusa o PS de repor o discurso da direita do “não há alternativa”. Lista da CDU com 21 lugares inclui onze mulheres.
Jerónimo de Sousa reclamou para o PCP os louros pela solução governativa à esquerda que permitiu ao PS formar Governo no final de 2015. Num longo discurso no final do jantar que reuniu 400 mulheres apoiantes da CDU na Casa do Alentejo, em Lisboa, o líder do PCP lembrou que os comunistas quiseram, logo na noite eleitoral, “uma solução”, mas o PS estava mais predisposto a “baixar os braços” e o Bloco estava entretido a “comemorar o resultado”.
“Podíamos ter ficado a um canto a lamentar a situação e o resultado eleitoral. Havia até quem considerasse que devíamos ficar quietos e calados para penalizar o povo, por ter votado como votou, e um pouco com a ideia de que quanto pior melhor”, disse até Jerónimo de Sousa.
O secretário-geral comunista deu a imagem de que o PCP foi o único que não desistiu de procurar uma alternativa que pudesse tirar a direita do poder. Porém, se o papel do PCP foi fundamental para esse arranque e para colocar o PS onde está hoje, o partido “não serviu de mera sustentação” do Governo. Mas, no geral, a decisão de enveredar por esta solução governativa foi “acertada e justa”, embora “em algumas coisas o PS não esteve para aí virado...” disse Jerónimo de Sousa numa referência às medidas que o Governo e os socialistas não aceitaram nestes três anos e meio.
Os comentários de Jerónimo parecem ir direitinhos para quem no PCP ainda hoje se mantém reticente sobre a solução política que deixa muitas vezes os comunistas numa posição fragilizada. “Têm sido quatro anos de acção, intervenção e luta em muitas frentes, que permitiram não só a reposição de direitos liquidados como novos avanços e conquistas.”
Jerónimo de Sousa fez questão de vincar o papel primordial do PCP na criação da solução mas também - e sobretudo - no que sempre tem classificado de “avanços”. “O PS e o seu Governo, ouvimo-lo da boca dos seus principais dirigentes e responsáveis, falam dos avanços que foram sendo alcançados nesta nova fase da vida política nacional dizendo que são conquistas suas”, avisou o dirigente comunista. Para a seguir acrescentar que muito do que se alcançou “começou por ter o desacordo, a resistência e até a oposição” dos socialistas. A dada altura, até lhe faltou a voz e pigarreou várias vezes ao longo do discurso. “Eu não gosto de meter água quando estou a intervir”, afirmou, divertido, para recusar beber.
“São medidas que foram alcançadas por essa razão simples e objectiva que foi a do governo minoritário do PS não ter as mãos completamente livres para impor a sua vontade.”
Jerónimo de Sousa foi buscar o exemplo dos professores e da ameaça de demissão de António Costa para tentar mostrar as “reais intenções” do PS, que agora usa a “matriz política” e os “mesmos argumentos e opções” do Governo anterior, “virando trabalhadores contra trabalhadores, procurando manter cortes nos direitos” ou fazendo depender uns direitos de outras medidas negativas. Defendeu que não estaria a ser dada qualquer “benesse” aos professores porque eles trabalharam aquele tempo. E anotou que o Governo e o PS estão “satisfeitos” porque “meteram mais uma vez PSD e CDS no bolso, fazendo-os voltar atrás com aquilo que antes tinham aprovado”.
“Sim, o PS veio repor o velho discurso do governo anterior do PSD e do CDS do não há alternativa”, acusou Jerónimo de Sousa que depois falou mais uma vez para dentro do partido, contando que chegou a ser abordado por camaradas que lhe diziam ‘vejam lá, não deitem o Governo abaixo’, que elogiavam a “participação” do PCP na solução governativa e lhe pediam ‘continuem’.
“O país não precisa de crises políticas criadas por calculismo eleitoral e fixações em maiorias absolutas, mas de avançar com uma política alternativa para resolver os problemas nacionais.”
Tal como fizera João Ferreira à tarde, em Palmela, o líder comunista disse que PS, PSD e CDS fazem tudo para “apagar e fazer esquecer” que são semelhantes nas decisões. E foi buscar o “escândalo do Berardo e a sua desfaçatez”, que levantou um coro de assobios e apupos na sala. O caso “mais não é do que a ponta do icebergue” e é o pequeno exemplo do “problema maior que mina a sociedade portuguesa e que tem origem na promiscuidade entre poder político e económico, com o que ele significa de lastro para a corrupção e de justificação para drenar milhões para a banca”. E Jerónimo até se dirige aos “senhores da transparência” que andam a desconfiar dos políticos e que deveriam “aprofundar a confusão entre os poderes político e económico”.
O secretário-geral do PCP falou ainda na necessidade de políticas de criação de emprego e da valorização geral dos salários, incluindo a subida do salário mínimo nacional para 850 euros. Não tendo reacção da plateia quando disse este número, Jerónimo admitiu que ficou desapontado. “Ficaram caladas. Estão contra? Lá no fundo pensam ‘isto é capaz de ser muito'?” E depois lembra que quando o PCP pediu o aumento para 500 ou 600 também houve quem dissesse o mesmo e afinal é nos 600 euros que se está agora - por isso também será possível chegar aos 850 euros “se houver luta, tenacidade e força”.
Perante uma plateia animada de 400 mulheres (havia alguns, poucos, homens em certas mesas), ocupando duas enormes salas da Casa do Alentejo pelas quais Jerónimo e João Ferreira andaram a passear no início do jantar, o líder do PCP falou em medidas aprovadas nesta legislatura para as famílias e para as mulheres e mães por proposta do PCP e puxou pela decisão da CDU de fazer uma lista mais do que paritária. “Estavam sempre a falar de quotas, quotas, quotas (...) Nós temos três mulheres nos cinco primeiros lugares” e onze nos 21 nomes da lista. “Não precisamos de ter belas camaradas a participar na parte cimeira da lista para o Parlamento Europeu”, deixou no ar.
As cerca de 400 mulheres enc