“Temos de estar preparados para um aumento das mortes maternas”
Das nove mulheres que surgem na estatística de 2017, uma já tinha sido mãe há vários anos . A média de idades destas mulheres é de 36,4 anos, mas este valor acaba inflacionado por existir uma pessoa com mais de 55 anos.
Foram nove as mulheres que em 2017 morreram em Portugal na sequência de uma gravidez, mas uma delas já tinha sido mãe há vários anos, afirmou ao PÚBLICO Graça Freitas, directora-geral da Saúde. “Morreu de uma sequela do parto, muitos anos depois, mas acabou por entrar nos registos de 2017”, explicou. O número acaba assim por ser de oito óbitos maternos em 2017, mas não deixa de preocupar as autoridades de saúde e Graça Freitas deixa um alerta: “Temos de estar preparados para um possível aumento das mortes maternas.”
A explicação avançada por Graça Freitas é simples: a forma como se encara a maternidade em Portugal, por si só, faz com que aumente o risco para mães e para filhos. Ou seja: mães de idade mais avançada e gravidezes decorrentes de técnicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA) levam a que haja um aumento do risco. Situações de obesidade, hipertensão e diabetes na gravidez aumentam; partos de bebés prematuros aumentam; e assim sobem os indicadores de morbilidade e mortalidade, tanto materna como infantil.
“No fundo, isto é como os problemas associados ao envelhecimento da população, que faz com que por exemplo aumente o número de mortes por pneumonia, que atingem muito os idosos. Neste caso, há que ter em atenção que logo a partir dos 20 anos o risco de morte materna começa a aumentar, muito ligeiramente, é certo, mas começa, e esse aumento é exponencial.”
Em 2017, e segundo o Instituto Nacional de Estatística, a taxa de mortalidade materna fixou-se nos 10,4 por cada 100 mil nascimentos, sendo que em Portugal, em 2017, apenas nasceram 86.154 crianças. Este é um valor que tem vindo a crescer nos últimos anos. Em 2000 a taxa era de 2,5 (a mais baixa do século) e em 2016 estava nas 8 mortes maternas por cada 100 mil nascimentos, segundo a Pordata.
A Direcção-Geral da Saúde (DGS) está a avaliar estes casos com mais detalhe, no mesmo grupo que já estava constituído para acompanhar o aumento da mortalidade infantil registada em 2018. Para já vai monitorizar e reforçar a vigilância em todos estes casos. “O que pretendemos fazer de imediato é pedir aos hospitais que quando uma situação destas existir, notifiquem a DGS e preencham a certidão de óbito para que a informação não se perca”, explica Graça Freitas.
Mortes em hospitais de Braga, Porto e Grande Lisboa
Os dados consultados pelo PÚBLICO mostram algumas informações que ainda não foram revelados sobre os nove óbitos. As mortes ocorreram em três zonas do país: Norte, Centro e Área Metropolitana de Lisboa. Todas as mulheres estavam em hospitais públicos: Hospital de Braga (1); Hospital de São João, no Porto, (1); Centro Hospitalar Universitário do Porto (1); Hospital Fernando Fonseca, conhecido como Amadora-Sintra, (1); Centro Hospitalar Lisboa Norte (3) e Hospital de Vila Franca (1).
As mulheres não eram todas destes municípios, sendo que três delas eram da zona centro (uma de Alenquer, outra de Tomar e outra de Ílhavo), o que significa que acabaram por ser deslocadas da sua zona de residência.
Não se sabe quais foram as causas das mortes, nem tão pouco se consegue saber para já qual o tipo de parto - se parto normal, instrumentalizado ou cesariana.
Em relação à idade das mulheres, é provável que o caso referido por Graça Freitas seja o de uma portuguesa com idade entre os 55 e os 64 anos. A mulher mais nova tinha 22 anos. Três das nove estavam na faixa etária entre os 25 e os 34 anos e quatro tinham entre 35 e 44 anos.
Mortalidade infantil abaixo da média da UE
A DGS também se pronunciou sobre a mortalidade infantil que sofreu um aumento em 2018, para referir que, ainda assim, “os valores para Portugal estão abaixo da média da UE e mais baixos que os valores dos países de referência”. Os resultados preliminares do grupo de trabalho não apontam para uma causa específica que dite este aumento. E, mais uma vez, a explicação recai no perfil das grávidas: “A idade das mães em Portugal está a aumentar, e sofre novo aumento em 2018. O grupo etário materno” em que a idade é igual ou superior a “40 anos foi responsável por 5,2% dos nascimentos em 2014, e por 7,4% em 2018. A idade das mães das crianças falecidas em período neonatal sofre tendência idêntica.”
O grupo vai reunir-se novamente a 17 de Maio, já com a questão das mortes maternas em cima da mesa.