Pensar o Mar em Lisboa
A economia azul da UE constitui uma importante plataforma de crescimento para o futuro.
Pensar em Portugal implica pensar no mar. Um litoral espetacular, praias sossegadas, portos muito ativos — Portugal tem tudo isto. É com razão que muitos portugueses, como eu próprio, se orgulham do nosso importante património marítimo. A relação de Portugal com o mar tem também muito a ver com o futuro estimulante da nossa economia “azul", a economia dos oceanos, e com as novas oportunidades que traz para o empreendedorismo, a inovação e o investimento. É por esta razão que, este ano, as celebrações do Dia Europeu do Mar decorrerão em Lisboa, em 16 e 17 de maio de 2019.
Há 600 anos, quando o Infante Dom Henrique, o Navegador, enviou os seus navios mar adentro, a Europa dominava incontestavelmente a exploração e a economia dos oceanos. Atualmente, apesar da intensa concorrência mundial, a Europa continua a ter uma posição de liderança nos domínios da ciência e da inovação ligadas aos oceanos, investindo todos os anos centenas de milhões de euros na investigação e na inovação marinhas. Com efeito, uma das missões fundamentais do “Horizonte Europa”, o programa de investigação e inovação da UE pós-2020, consistirá em preservar a saúde dos oceanos. A conversão da nossa economia azul em modelos de negócio mais sustentáveis e circulares é outra área em que a União Europeia está a tomar a dianteira.
A nossa economia dos oceanos abrange uma vasta gama de setores, entre os quais a pesca e a aquicultura, a transformação do pescado, os portos, os projetos de armazenamento e de abastecimento de água, a construção e a reparação navais, o turismo costeiro e a extração marinha de petróleo e gás. Em muitos domínios, especialmente no contexto de uma economia circular com zero emissões, só agora nos começámos a dar conta de todo o potencial de inovação da economia azul. Uma coisa se tornou evidente: a economia azul da UE constitui uma importante plataforma de crescimento para o futuro.
Os mais recentes dados disponíveis para 2017 revelam que a economia azul da UE emprega já diretamente mais de quatro milhões de pessoas, gerando um volume de negócios superior a 650 mil milhões de euros e, pelo menos, 180 mil milhões de euros de valor acrescentado bruto. Em Portugal, trata-se de quatro mil milhões de euros de valor acrescentado bruto e de 180.000 postos de trabalho, principalmente na pesca, no turismo marítimo e nas atividades portuárias.
Paralelamente a estes setores tradicionais, que manterão a sua importância em Portugal e no conjunto da UE, estão a surgir novas oportunidades. A energia oceânica, por exemplo, permite transformar a energia das ondas ou das marés em eletricidade verde para a rede. A UE é pioneira à escala mundial no domínio da tecnologia da energia oceânica e as águas portuguesas já funcionam como bancos de ensaio para o sistema energético da Europa do futuro.
Outras oportunidades muito interessantes resultam dos novos compostos de base biológica e biomateriais de origem marinha, do setor da aquicultura, que se alarga, mas também da tendência geral da digitalização.
Todos estes desenvolvimentos permitem diversificar as economias costeiras e criam novas fontes de emprego. Hoje em dia, o setor da energia eólica offshore emprega mais europeus do que o setor das pescas globalmente considerado, tendência que, há dez anos, poucos se teriam atrevido a prever.
Que opção privilegiar agora? Em que setores emergentes devemos investir hoje para dar à Europa uma vantagem competitiva ao nível mundial no futuro? E como podemos fomentar o espírito empresarial de que necessitamos para que a economia azul prospere?
Estas são algumas das questões fulcrais a abordar nas comemorações do Dia Europeu do Mar, que este ano decorrerão em Lisboa, organizadas conjuntamente pela Comissão Europeia, pelo Ministério do Mar e pelo Município de Lisboa. Este ano, a tónica será colocada nas possibilidades de transformação dos setores marítimos tradicionais e de incentivo das tecnologias emergentes e das cadeias de valor através do empreendedorismo azul, da inovação e do investimento. Mais de 1200 funcionários públicos, académicos, empresários e representantes da sociedade civil reunir-se-ão para trabalhar em rede, debater e forjar uma ação conjunta. Junte-se a nós neste evento único!
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico