Urso-pardo já “roubou” mais de 50 quilos de mel, mas é bem-vindo em Montesinho

O exemplar de urso-pardo cuja presença foi confirmada esta quarta-feira em território português, junto à fronteira com Espanha, consumiu mais de 50 quilos de mel de um apiário local. O proprietário, no entanto, diz que o urso até é bem-vindo e que pode voltar, “se não estragar muito”.

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Urso-pardo nas Astúrias PAULO CAETANO

O exemplar de urso-pardo que foi detectado no Parque Natural de Montesinho, em Bragança, pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e pelas autoridades espanholas, “assaltou” várias colmeias na zona e consumiu mais de 50 quilos de mel de um apicultor local.

Os apiários dos quais o urso-pardo se alimentou por diversas vezes pertenciam à empresa de mel Apimonte. Ao PÚBLICO, o dono da empresa, Luís Correia, conta que no dia 29 de Abril, aquando de uma visita a um dos apiários da empresa que fica “a uns 700 metros” da fronteira espanhola, reparou que uma das redes tinha sido parcialmente destruída e que lhe faltava uma das colmeias.

“Tentamos perceber rapidamente o que se tinha passado e fomos encontrar a colmeia a uns 30 metros, sem quadros, sem cera, sem abelhas, sem nada. Os quadros comidos e espalhados pelo chão”, diz o apicultor.

Fotos da colmeia ataca pelo urso-pardo LUÍS CORREIA
As pegadas do animal captadas pelo apicultor LUÍS
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Fotos da colmeia ataca pelo urso-pardo LUÍS CORREIA

Luís Correia está ligado ao negócio do mel há 17 anos e afirma que nunca lhe tinha acontecido algo semelhante. “Ficámos de boca aberta, não percebemos o que se tinha passado e saímos dali intrigados com a situação. Contactei o ICNF e no dia seguinte eles mandaram um técnico”, diz.

No dia e noite seguintes, algumas colmeias voltam a ser atacadas e só mais tarde é que Luís recebeu a notícia que se tratava de um urso-pardo por causa das pegadas e do pelo que deixou na rede.

Desde a semana passada que não houve mais ataques. O apicultor, cujas colmeias são as únicas no raio de alguns quilómetros, diz que o urso até é bem-vindo e que pode voltar, “se não estragar muito”.

“Temos sempre receito porque a apicultura é uma actividade muito cara, mas queremos acarinhar o urso, a ver se ele fica por aqui. O regresso desta espécie já era aguardado há muito. Gostamos que os animais venham para aqui porque caso contrário o parque natural torna-se pobre em termos de biodiversidade”, refere Luís Correia. 

Caso os ataques comecem a ser mais frequentes, a empresa passará a vigiar os seus apiários com sistemas de videovigilância ou a proteger as colmeias com redes ou fios eléctricos. “Mas não nos importávamos se acontecer uma vez por ano, era sinal que ele ainda andava por aqui”, refere o apicultor, que acrescenta que os técnicos do ICNF estão a vigiar as movimentações do urso-pardo.

Esta sexta-feira, uma fonte do ICNF disse à agência Lusa que a probabilidade de existirem outros exemplares de urso-pardo no Parque Natural do Montesinho, no distrito de Bragança, junto à fronteira com Espanha, “é muito baixa” devido ao tamanho e “comportamento destes animais”. “A dimensão dos ursos e comportamento desta espécie promove o seu avistamento e a fácil identificação de indícios de presença no território”, esclareceu a mesma fonte do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Depois de vários relatos sobre o possível aparecimento de um urso-pardo em Portugal, as autoridades portuguesas confirmaram esta quarta-feira a presença em território português de um exemplar de urso-pardo, o primeiro avistamento em território nacional desde a extinção declarada em 1843.

“A administração regional [de Castela e Leão] alertou para a presença deste urso às autoridades portuguesas, que finalmente confirmaram a sua descoberta”, revelava em comunicado, citado pela agência Lusa, o Serviço Territorial de Meio Ambiente de Zamora. “Dá-se a circunstância de ser a primeira vez, nos últimos dois séculos, em que a presença desta espécie no país vizinho é confirmada de maneira confiável”, asseguraram as autoridades regionais espanholas.

Segundo o ICNF, este tipo de deslocação é típico de indivíduos dispersantes, jovens e provenientes de populações abundantes como é a população da cordilheira cantábrica. O ICNF está a monitorizar os movimentos através de armadilhagem fotográfica e indícios de presença em articulação com as entidades espanholas.

O Serviço Territorial de Meio Ambiente de Zamora, referiu à Lusa que o animal, que foi também avistado na região de Sanabria, “pode pertencer” à subpopulação ocidental da Cantábria e deverá ser um adulto em dispersão. Em média, um urso-pardo adulto mede entre 1,4 e 2,8 metros de comprimento (incluindo a cauda) e entre 0,7 e 1,53 metros de altura até ao ombro e pode pesar mais de 200 quilogramas (no caso dos machos).

Paralelamente, e dada a proximidade da fronteira portuguesa, a presença do urso foi comunicada ao ICNF para o caso de o animal continuar a sua viagem para o sul, “facto que acabou por acontecer há poucos dias”. “Dá-se a circunstância de ser a primeira vez, nos últimos dois séculos, em que a presença desta espécie no país vizinho é confirmada de maneira confiável”, asseguraram as autoridades regionais espanholas.

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