Ao sétimo ano, o Arquiteturas Film Festival muda-se para o São Jorge para falar da natureza humana

Festival regressa a Lisboa de 4 a 9 de Junho, desta vez para o Cinema São Jorge, com mais de 60 filmes sobre o ambiente urbano. Em foco, estará a acção humana sobre o planeta.

Foto
The Proposal

Num planeta que tem sido sucessivamente modificado pelo ser humano, qual é o papel e a responsabilidade dos arquitectos e urbanistas? Talvez a resposta chegue pelo ecrã do Cinema São Jorge, em Lisboa, pela mão do Arquiteturas Film Festival (AFF) que está de regresso de 4 a 9 de Junho.

Ao sétimo ano, o festival deixa Alvalade e a Avenida de Roma para se instalar na Avenida da Liberdade, naquela que promete ser a maior edição de sempre: são mais dias de cinema (seis em vez de cinco), mais filmes (62 ao todo, 55 em competição, quase todos em estreia nacional), vindos de cerca de 30 países. Ao todo, conta a directora Sofia Mourato ao telefone com o P3, chegaram mil inscrições. “Houve um pulo”, garante, “é gratificante”.

O tema pode ter ajudado: Human Nature. Desta vez, o AFF vai debater a natureza humana, com tudo o que tem de bom e de mau. “Apesar de sermos um festival temático sobre [filmes de] ambiente urbano, escolhemos sempre um tema central actual. Este ano as histórias vão estar marcadas pelo que está a acontecer a nível de sustentabilidade e de novas políticas.”

Um assunto que está na boca do mundo (e, face às últimas notícias, ainda bem), agradando, por sinal, aos patrocinadores do festival que este ano também aumentaram. Vertical farming (quintas verticais), o Antropoceno, a importância da geologia e a crise dos refugiados são alguns dos subtemas a que o AFF vai chegar, numa edição que tem a Holanda como país convidado. Precisamente por ser “um país transformado e criado completamente” pelo ser humano.

De Norilsk a Barragán

A programação completa ainda não é conhecida, mas sabe-se que a avaliar os filmes a concurso em quatro categorias (Ficção, Documentário, Experimental e Novos Talentos) estará o júri composto pela arquitecta Ana Tostões, presidente da Docomomo Internacional, o geógrafo Álvaro Domingues, a arquitecta Isabel Barbas, o realizador Gerrit Messiaen, a artista e realizadora Petra Noordkamp e o arquitecto Tiago Oliveira, em representação da Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos.

O festival arranca com Melting Souls, de François Xavier Destors. “Tudo o que vamos falar no festival está dentro deste filme”, assevera Sofia. Trata-se de um documentário sobre como surgiu Norilsk, austera cidade no Círculo Polar Árctico que nasceu de uma prisão — “e hoje em dia é a casa de alguém” que vive entre o partir e o ficar. Conclusão, sem spoilers: “O lugar onde nascemos e crescemos é muito mais importante do que imaginamos – tal como o planeta inteiro.”

Obras portuguesas (ainda) não há muitas, mas também não faltam à chamada. João Salaviza e Ricardo Alves Jr. apresentam Russa, um filme sobre um encontro humano no Bairro do Aleixo, no Porto. A “turistificação” de Lisboa é o tema de duas outras películas: Civitas, de André Sarmento, e Alis Ubbo, de Paulo Abreu. Tiago Galo, arquitecto mais conhecido como ilustrador, estreia a sua curta de animação O Atelier do Meu Avô no atelier para crianças e o arquitecto paisagista Duarte Natário leva o seu Tudo é Paisagem. Em parceria com a RTP, vão ser também exibidos três episódios da série documental Atelier d’Arquitetura.

Os Países Baixos assinam algumas actividades paralelas, que também estão reforçadas nesta edição. O colectivo de Amesterdão Failed Architecture vai orientar um workshop em parceria com a realizadora Petra Noordkamp: a praça do Martim Moniz, em Lisboa, será a musa dos ensaios cinematográficos dos participantes. E numa altura em que os filmes de arquivo de arquitectura “se estão a deteriorar na Europa”, Melanie van der Hoorn, autora do livro Spots in Shots: Narrating the Built Environment in Short Films, dará uma masterclass sobre a importância dos filmes de arquivo nesta área, em conjunto com Tiago Baptista, director do ANIM — Arquivo Nacional das Imagens em Movimento, e João Rosmaninho, da Universidade do Minho. Foram ainda convidados dois ateliers holandeses premiados pelas suas práticas sustentáveis: o Bureau Sla (que construiu um pavilhão temporário só com materiais emprestados) e o Space & Matter. Cada um sugere ainda um filme para ver.

Haverá ainda tempo e espaço falar sobre colectivos que juntam arquitectos, designers, artistas, sociólogos, entre outros. A pergunta é: “Estará a arquitectura a abrir-se e a expandir-se para outras disciplinas?” E, se sim, “é por necessidade” ou nem por isso? O debate, que se realiza a 7 de Junho na Note Galeria de Arquitectura, vai juntar o colectivo Warehouse, a Oficina do GatoMorto, Os Espacialistas, a associação Passa ao Futuro e os Space Transcribers. 

Em foco estará ainda o incontornável centenário da Bauhaus, a obra do cineasta polaco Andrzej Wadja e o grande mestre mexicano Luis Barragán. Responsabilidade de The Proposal, de Jill Magid, que retrata a jornada desta artista americana para aceder ao arquivo do arquitecto mexicano que pertence à empresa suíça de design de mobiliário Vitra. Apresenta Sofia Mourato: “Ela convence o governo mexicano a abrir a urna de Barragán, retira meio quilo de cinzas e delas faz um diamante que vai tentar trocar pelo arquivo.” Conseguirá? Talvez a resposta chegue pelo ecrã do Cinema São Jorge. 

Sugerir correcção
Comentar