Angola parou por falta de combustível

Sonangol diz que a falta de divisas atrasou a importação de refinados, mas a situação já está resolvida. Especialista angolano refere que é preciso ajuda do banco central.

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MANUEL DE ALMEIDA / LUSA

Angola está a braços com uma escassez de combustível que deixou automobilistas parados na estrada, longas filas junto às estações de serviço e muitas peregrinações de bomba em bomba à procura de um líquido que se tornou precioso. A dificuldade no acesso às divisas atrasou a importação de refinados (de que o país é dependente a 80%), deixou as bombas do país à míngua durante o fim-de-semana e fez disparar o preço do litro da gasolina no mercado paralelo, onde se vendia a 500 kwanzas (1,36 euros) aquilo que habitualmente custa 160 kwanzas (0,43 euros).

“Já há combustível, ainda não está resolvido, mas já se recomeçou a distribuir”, disse ao PÚBLICO o director de comunicação da Sonangol. Segundo Mateus Cristóvão, após um período de seca de combustível como houve este fim-de-semana, que levou a uma corrida e ao açambarcamento da gasolina e do gasóleo que ainda havia no mercado, a reposição dos níveis anteriores é lenta. “Depois de falhas do género, demora alguns dias a normalizar a situação”, explicou Mateus Cristóvão.

José Oliveira, jornalista angolano especialista no mercado petrolífero, refere que esta é a primeira vez que acontece uma situação de escassez “por atraso na importação” em Angola. E isso deveria servir como aviso para o banco central: “O Banco Nacional de Angola devia dar uma ajuda nesta questão das divisas”, referiu o também colaborador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola. 

Isto “não devia acontecer”, e se a situação não se resolver, tendo em conta a escassez de divisas no mercado, poderá voltar a suceder. “Agora os preços estão a melhorar, não é obrigatório que volte a acontecer”, explica José Oliveira. “Quando os preços passam os 60 dólares [por barril], passa a haver mais folga, e nas últimas semanas tem estado acima dos 65 dólares”, mas se o mercado mudar “o BNA deve dar ajuda na questão dos combustíveis”, acrescenta o investigador.

Sobre a questão do BNA, Mateus Cristóvão explica que não está “mandatado” pela empresa para fazer qualquer comentário sobre o assunto, sublinhando apenas “todo o empenho da Sonangol em resolver a situação no mais curto espaço de tempo”.

O director comercial e de marketing da empresa pública de combustíveis, Dionísio Rocha Júnior, assegurava ao Jornal de Angola, em notícia publicada esta segunda-feira, que tudo estava a ser feito “para que, nas próximas 48 ou 72 horas a situação seja ultrapassada”. E, como afirmou ao PÚBLICO Mateus Cristóvão, “o prazo ainda não acabou”.

Além do problema da escassez de divisas, a Sonangol debate-se com o problema das dívidas dos seus clientes do sector industrial, a quem vende 40% do seu combustível​ - alguns desses compradores têm créditos com atraso de três anos -​, a que se somam as avarias sistemáticas nos navios de cabotagem, envelhecidos e a precisarem de ser substituídos. A empresa já abriu, entretanto, concurso internacional para começar a renovar a frota.

Sem capacidade de refinar mais do que 20% do petróleo que produz, Angola vê-se obrigada a importar 80% dos refinados que o país necessita e como “importa caríssimo e vende barato”, nas palavras de José Oliveira, a margem de manobra financeira é pouca. Mais ainda numa empresa que está em processo de pagamento da sua astronómica dívida, que em Setembro de 2018 se cifrava em 2650 milhões de dólares e que já evoluiu face aos 4900 milhões de dólares que atingiu no passado.

No primeiro trimestre deste ano, a Sonangol gastou 221,4 milhões de dólares a importar produtos derivados do petróleo para suprir a procura do seu mercado interno.

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