Hugo, o rapaz dos flamingos, é um sucesso no voluntariado europeu
Hugo Ferreira foi voluntário na Tour du Valat, uma associação de preservação da natureza na Camarga, no sul de França, e foi escolhido como coordenador do Corpo Europeu de Solidariedade.
Há quem o conheça como o rapaz dos flamingos e ele não se importa com isso. Depois de uma licenciatura em Biologia e Geologia e de um mestrado em Ecologia, ambos na Universidade do Minho, Hugo Ferreira descobriu o que queria quando descobriu o que era o Corpo Europeu de Solidariedade. Durante um ano e meio, foi voluntário numa associação, a Tour du Valat, de preservação da natureza das Zonas Húmidas Mediterrânicas, na Camarga, no sul de França, em cujas salinas existe uma grande colónia de flamingos — a maior da Europa, por sinal, e a única de França.
A estada prevista era de nove meses, mas Hugo acabou por ficar um ano e meio, convencido pela natureza, pelos animais, pela ecologia, pelo desafio que esta experiência pessoal e profissional implicava. “Durante o Inverno, éramos cerca de sete e cerca de 80 no Verão: voluntários, estudantes, estagiários e investigadores”, recorda.
O equipamento da associação nesta região natural, que se prolonga através de dois braços do delta do rio Ródano, junto ao Mediterrâneo, fica completamente isolado e a necessidade de reabastecimento exigia uma viagem de meia hora. Mas ele nunca se importou com isso, pelo contrário. O recôndito e o isolamento faziam parte da experiência, que quer retomar no âmbito de um doutoramento. Nesses meses, Hugo Ferreira fez de tudo: salvou flamingos feridos, fotografou animais em pleno habitat, anilhou outros, de modo a que se possa acompanhar o seu trajecto, e geriu e estudou os registos da associação para conhecer os padrões de evolução desta população e os efeitos provocados pelas alterações no ambiente que nela provocam o aquecimento do planeta.
A solidariedade....
A experiência correu tão bem que Hugo foi escolhido como um dos 21 jovens que coordenam, a nível europeu, o desenvolvimento e criação da nova network para participantes futuros, actuais e antigos, do Corpo de Solidariedade Europeu. Pela forma como comunicou a experiência — ora através de vídeo, ora através de fotografia —, Hugo recebeu dois prémios: o Erasmus+ Volunteering Awards, em 2018, e o European Solidarity Corps Photo Contest, em Janeiro 2019.
O Corpo Europeu de Solidariedade foi lançado em Dezembro de 2016 e conta, desde esse momento, com 124 mil jovens inscritos, com idades entre os 17 e os 30 anos (embora só seja possível participar num projecto após os 18). O objectivo é claro: dar a oportunidade a qualquer jovem europeu naquela faixa etária de fazer voluntariado ou trabalhar em projectos candidatados no próprio país ou no estrangeiro, melhorando as suas competências e o conhecimento sobre a Europa.
Após a inscrição, os jovens são seleccionados e convidados a participar nesses projectos, que tanto podem incluir a prevenção de catástrofes naturais ou a recuperação de áreas devastadas, a assistência em centros de requerentes de asilo ou outras iniciativas de importância social, com a duração de dois a 12 meses, em função de cada um dos estados-membros. Dos actuais 124 mil inscritos, há 14.250 mil jovens que estiveram ou estão ainda em actividade. Espanha, Turquia — que não integra a União Europeia (UE) — e Itália são os países com o maior número de inscrições e Portugal ocupa o sexto lugar, com mais de seis mil até à data. Quando o factor de análise é o número activo de participantes, Portugal ascende ao quinto lugar com 839 participantes.
....e os valores
A Comissão Europeia reservou um orçamento de 1,2 mil milhões de euros, entre 2021 e 2027, para permitir que 350 mil jovens participem no Corpo Europeu de Solidariedade naquele período. Günter Oettinger, comissário europeu responsável pela gestão orçamental da UE, afirmou esta semana em Bruxelas, durante a Semana Europeia da Juventude (29 de Abril a 5 de Maio), que “esta é uma história de sucesso” a vários níveis. Na sua infância em Estugarda, Oettinger tinha o sonho de conhecer a Baviera. Décadas depois, qualquer jovem europeu pode conhecer não só o sul do país onde nasceu, bem como o resto do continente, graças a programas como este ou como o Erasmus.
O que o comissário alemão pede agora aos jovens europeus é que se batam pelos valores da Europa, como a democracia, a paz ou a liberdade de expressão, e sejam os seus porta-vozes. “Aprendam a lição com a história e exportem esses valores para todo o lado.” Tibor Navracsics, o comissário húngaro com o pelouro da Educação, Cultura, Juventude, e Desporto, não esconde também a sua ambição: fazer como que o Corpo Europeu de Solidariedade seja tão popular como o icónico Erasmus. Veremos.
Medidas como esta, ou como o #Discover EU, para jovens com 18 anos que queiram viajar pela Europa, correspondem ao objectivo de aumentar a participação cívica e democrática dos mais jovens, aumentando o conhecimento que têm sobre a diversidade dos estados-membros e criando uma identidade europeia. Nada mais apropriado na véspera da eleição com as taxas mais elevadas de abstenção.
O jornalista viajou até Bruxelas a convite da Comissão Europeia