Philippe Vergne promete “trazer o mundo” a Serralves
Novo director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves deu-se a conhecer nesta segunda-feira, no Porto, mas está ainda a tratar de conhecer a fundação, a cidade e o país para depois “inventar uma cartografia” para o seu programa.
“Um museu é um lugar de conhecimento, de aprendizagem, de descoberta”, que deve ter como objectivo “tornar o seu público melhor cidadão”; “os artistas são o centro do meu trabalho”, que visa privilegiar “a multidisciplinaridade, a inclusão, a diversidade, e tornar as propostas, mesmo as mais difíceis, acessíveis a um público abrangente – este sou eu”. Foi assim que Philippe Vergne, novo director artístico do Museu de Arte Contemporânea (MACS), se apresentou aos jornalistas, esta segunda-feira, no decorrer de uma conferência de imprensa, com pequeno-almoço incluído, na casa-de-chá da fundação portuense.
O curador francês (n. Troyes, 1966) está de regresso à Europa depois de cerca de duas décadas a trabalhar nos Estados Unidos – no passado mês de Fevereiro foi anunciado como novo director artístico do MACS, sucedendo no cargo a João Ribas, que se demitira em Setembro do ano passado na sequência da polémica que envolveu a preparação da exposição dedicada a Robert Mapplethorpe.
Philippe Vergne, que se encontra a viver no Porto desde há cerca de um mês e assumiu o novo cargo este mês de Abril, diz que está ainda “a descobrir Serralves, a cidade e a cultura do país” – está também a tratar de aprender Português –, ou seja, a viver uma “experiência inteiramente nova”, numa terra que lhe era de todo desconhecida.
Sobre a arte portuguesa, disse conhecer a obra de Pedro Cabrita Reis, com a qual contactou na Documenta de Kassel, “adora” o trabalho de Leonor Antunes, acompanha o de Francisco Tropa e também o de Joana Vasconcelos, cuja actual exposição em Serralves considera “maravilhosa”, disse ao PÚBLICO, no final da conferência.
Uma colecção fantástica
Depois de também testemunhar quão “maravilhado” ficou quando conheceu Serralves, a começar pelo parque – cuja diversidade de espécies vê como “uma ilha de ideias e talvez de utopias”, que pode bem funcionar como um guia para a própria programação –, passando pela antiga casa e pelo “belo museu de Siza”, Vergne elogiou ainda a Colecção: “É uma colecção fantástica, muito corajosa e de vanguarda”. “Mal posso esperar para ‘jogar’ com ela”, acrescentou.
Sobre o programa que tem pensado para o MACS, Vergne disse ser ainda cedo para falar. “O primeiro desafio – para Serralves e para muitas instituições dedicadas ao presente – é como é que te manténs relevante? Que tipo de programação vai continuar a abordar o espírito do teu tempo? Vais apoiar o espírito do teu tempo ou empurrar para trás as coisas com que podes não concordar?”, disse. Mas, depois de referir ter já falado com os anteriores directores do museu, perguntando-lhes como é que eles abordaram Serralves e “qual é o ímpeto que esteve por trás da sua programação”, Vergne prometeu “trazer o mundo” ao museu do Porto. Fá-lo-á à imagem, de resto, do trabalho que realizou nas instituições em que trabalhou anteriormente, nomeadamente nos Estados Unidos: no Walker Art Center, em Minneapolis – onde esteve 11 anos, mas não conseguiu conhecer Prince –; no Dia Art Foundation, em Nova Iorque; e, por último, no Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles (MOCA), que dirigiu durante quatro anos até Maio do ano passado, e de onde saiu no meio de alguma controvérsia, após o despedimento da curadora Helen Molesworth.
Questionado sobre se estava por dentro das circunstâncias que tinham levado à demissão de Serralves do anterior director João Ribas, Vergne admitiu que leu os jornais e respondeu que “os museus atravessam ciclos”.
Depois de concluída a formação académica em Paris, Philippe Vergne iniciou a sua carreira nas artes, com apenas 27 anos, logo como primeiro director do Museu de Arte Contemporânea de Marselha. “Aprendi o meu ofício trabalhando directamente no terreno”, disse, depois de ter sido apresentado, a abrir a conferência de imprensa, pela presidente da Fundação de Serralves, Ana Pinho, como “um profundo conhecedor da arte e da cultura contemporânea”, resultado de “um percurso internacional extraordinário numa carreira consolidada de 25 anos de gestão e de liderança de várias instituições”.
Neste seu regresso à Europa, o novo responsável pelo MACS notou ainda que vai reencontrar um continente bem diferente daquele que deixou no final dos anos 90. “Quando abandonei a Europa, ainda não havia o euro, não havia o ‘Brexit’; era um mundo política, geográfica e culturalmente diferente”, disse.
Vai agora reencontrar esta nova Europa a partir de Portugal, país que quer “compreender nas suas relações com a cena internacional” – seja através das influências que moveu como das que recebeu –, para melhor perceber como “inventar uma nova cartografia” para Serralves.